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Sem brincos, disciplina e muito 'campo': entenda como o Palmeiras revolucionou sua base

Responsável direto pela boa fase dos juniores, João Paulo Sampaio conta detalhes da virada alviverde, que já gerou mais de R$ 900 milhões aos cofres do clube

Campeonato Paulista|Gabriel Herbelha, do R7

Endrick é case de sucesso no Palmeiras: poucos jogos profissionais e venda multimilionária para a Europa
Endrick é case de sucesso no Palmeiras: poucos jogos profissionais e venda multimilionária para a Europa Endrick é case de sucesso no Palmeiras: poucos jogos profissionais e venda multimilionária para a Europa

Historicamente, o Palmeiras não é reconhecido por ser um grande formador de jogadores das categorias de base.

No século atual, o abismo em relação aos rivais paulistas era enorme. O São Paulo, que por anos foi referência, revelou nomes como Hernanes, Lucas Moura e Casemiro.

O Santos, com Diego, Paulo Henrique Ganso e Neymar, ganhou uma série de títulos com seus meninos da Vila.

O Corinthians, o maior campeão da Copa São Paulo de Futebol Júnior, também mostrou ao mundo nomes como Willian, Marquinhos e Éverton Ribeiro, advindos do seu “terrão”.

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Mas parece que o jogo virou e essa história começou a mudar em 2015. Na época, o então presidente do Palmeiras, Paulo Nobre, convidou João Paulo Sampaio, um baiano louco para “cair no melhor estado do país”, para se tornar coordenador da base do clube.

João Paulo durante as comemorações do bicampeonato da Copinha, em janeiro deste ano
João Paulo durante as comemorações do bicampeonato da Copinha, em janeiro deste ano João Paulo durante as comemorações do bicampeonato da Copinha, em janeiro deste ano

Em entrevista ao R7, João Paulo contou detalhes do dia a dia na base palestrina, além de revelar histórias e dar opiniões fortes sobre o seu método de trabalho vitorioso.

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Com mais de 17 anos no Vitória, com passagens como treinador e coordenador da base e gerente de futebol profissional, ele chamou a atenção de alguns clubes brasileiros, após se destacar no clube nordestino.

“Acho que fui para o lugar certo e para o time certo, então foi muito fácil. Ouvindo as pessoas que me convidaram na época foi mais fácil ainda devido ao projeto de profissionalização do Palmeiras, de se tornar uma referência na base, coisa que o Palmeiras nunca foi. Foi um desafio bem interessante para a carreira profissional. Como pessoa eu já queria ir para um estado como São Paulo”, conta o gestor da base palmeirense.

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Os oito anos de Sampaio à frente dos juniores coincidem com o período mais vencedor do clube alviverde nas categorias inferiores.

Desde 2015, o Palmeiras ganhou mais de cem troféus entre as categorias sub-10 e sub-20, tornou-se o maior campeão de títulos nacionais da base e de quebra formou jogadores que se tornaram ídolos da torcida, como Danilo, Gabriel Menino e Gabriel Jesus. 

A estrutura

Visão aérea do centro de treinamento das categorias de base; cinco campos para os jovens
Visão aérea do centro de treinamento das categorias de base; cinco campos para os jovens Visão aérea do centro de treinamento das categorias de base; cinco campos para os jovens

A Academia de Futebol 2, dentro do Parque Ecológico do Tietê, localizado em Guarulhos, na Grande São Paulo, é usada pela categoria de base palmeirense. O local chegou a ser considerado um problema. Para João Paulo, o principal a fazer era “mudar o foco para o campo”.

Antes da chegada dele, eram quatro treinadores e dois captadores de talentos para todas as divisões inferiores. Agora, são oito treinadores e dez captadores exclusivos para a base, e aumentou-se o número de atletas.

“Todo cartão de visita de um clube de futebol é o resultado do campo, é o que o campo chama atenção”, conta Sampaio.

“A gente viu que nas 30 maiores vendas do futebol brasileiro, em 23, os meninos começaram abaixo de 13 anos nos seus clubes, então assim, é importante termos essa iniciação (...) Focamos nessa iniciação, na busca de jogadores, na captação forte e a estrutura melhorou em relação ao que era. Mas acredito que vai melhorar mais ainda”, completa o gestor.

Nos mais de 45 mil m² da área, são cinco campos em tamanho oficial de jogo. A grande questão atualmente diz respeito ao hotel da base, algo já cobrado publicamente por Abel Ferreira em entrevistas coletivas.

Vista da área externa da Academia de Futebol 2
Vista da área externa da Academia de Futebol 2 Vista da área externa da Academia de Futebol 2

Questões burocráticas fizeram o clube mudar o percurso, e a ideia de construir uma parte de hotelaria, no mesmo local em que os jovens treinavam, em Guarulhos, não foi para a frente.

Agora, a ideia é ter um hotel na capital, próximo da Barra Funda, onde o elenco do Sub-20 — único time da base que faz atividades no CT principal — treina diariamente.

Caixa de som após derrota causou discórdia

Uma passagem curiosa contada por João Paulo mostra a obsessão dele pelo sucesso. Aconteceu após uma eliminação palmeirense, logo no início de suo coordenação no alviverde, e justo contra o Vitória, pela Copa do Brasil sub-17, em abril de 2015.

Os jogadores ligaram uma caixa de som no vestiário para ouvirem música, após serem eliminados ao empatar por 3 a 3. João Paulo não gostou nada da atitude e conta ter entrado chutando a porta. O que acabou, por acidente, atingindo uma garrafa de água na cabeça de Artur, hoje no Red Bull Bragantino.

“Eu falei: só vai ficar aqui, primeiro, quem tem qualidade para isso, agora a régua vai aumentar de patamar. Segundo, para que no dia que vocês perderem uma classificação, vocês vão entrar aqui chorando, vocês não vão mais estar acostumados a perder. Aqui vai ter que querer ser o melhor, sempre tem que querer ser o melhor”, lembra João.

Ainda chamado de 'papagaio', Artur fez toda sua base pelo Palmeiras
Ainda chamado de 'papagaio', Artur fez toda sua base pelo Palmeiras Ainda chamado de 'papagaio', Artur fez toda sua base pelo Palmeiras

Disciplina é chave no clube

No Palmeiras, a corda não é esticada e os meninos têm uma rotina com muitas regras a serem seguidas. Em viagens, são eles mesmos que fazem o check-in, por exemplo. No quarto, arrumar as camas é obrigatório. Mandar cardápio com arroz e feijão em viagens internacionais? Nem pensar.

"Precisamos preparar essa pessoa para o mundo, não só o jogador. A grande maioria não vai estar nesse nível de futebol e nesse nível de clube. Estará em clubes menores, um clube que não tem esse tipo de estrutura e tem que se adaptar", ressalta João.

“Você não vai ver jogador do Palmeiras com o cabelo pintado, cheio de desenho. Se chega com um risco, beleza, mas usar brinco na base, eles não vão fazer isso, a regra é para todos”, completa o gestor.

Durante a conversa, Sampaio revelou, inclusive, que Estevão, joia palmeirense que foi campeão da Copa SP de Futebol Júnior, no início do ano, iria disputar uma partida pelo sub-15, categoria de que ele já não fazia mais parte. O motivo? "Determinação nossa, não dele", afirma.

"Para a gente é bem claro, quem forma o filho é o pai e a mãe. Quem forma o atleta é o clube".

Endrick

Substituído na vitória contra o Bragantino, o jovem de 16 anos chorou no banco após não marcar
Substituído na vitória contra o Bragantino, o jovem de 16 anos chorou no banco após não marcar Substituído na vitória contra o Bragantino, o jovem de 16 anos chorou no banco após não marcar

Citado por João Paulo como o maior case de sucesso da base palmeirense (ao lado de Danilo, vendido ao Nottingham Forest, da Inglaterra), Endrick, revela, “sempre quis ser destaque” e ele conta que o atleta, de 16 anos, desafiava os superiores, pedindo para pular etapas, e era atendido.

“Estamos falando de um menino de 16 anos, de um futuro enorme e de um presente maravilhoso para o futebol brasileiro”, conta, orgulhoso.

Com menos de dez jogos pelo profissional em 2022, o jovem já estava vendido ao Real Madrid, por uma cifra que pode ultrapassar 72 milhões de euros (cerca de R$ 400 milhões, na conversão atual de valores).

No ano passado, o camisa 16 disputou algumas partidas do campeonato brasileiro e marcou seus três primeiros gols em sua carreira profissional. Porém, neste ano, o jovem ainda não fez gol e chegou aos 11 jogos de jejum, o que gero algumas discussões entre imprensa e torcida.

Mas, para João Paulo, é preciso ter calma.

“Para mim é bem simples, e a minha pergunta vai em cima dos questionamentos, o torcedor quer que Endrick faça gols e o Palmeiras não esteja invicto durante o ano? Ele está jogando bem, não pode reclamar, está fazendo com que o time produza para o time ganhar”, diz o profissional.

A relação com Abel Ferreira

Na ala mais “corneteira” da torcida alviverde, há uma cobrança ao comandante Abel Ferreira, por não usar jogadores da base do clube.

Na conversa, o coordenador revelou que Abel designou Vítor Castanheira, da comissão técnica, para tratar diretamente dos atletas mais bem cotados para fazer parte do profissional.

Sobre a relação com o técnico português, Sampaio afirma que as conversas com Abel “não têm telefone sem fio, são bem fáceis”, e que não se limitam ao ambiente profissional, já que eles também são amigos fora do clube.

No elenco profissional do clube, seis atletas são oriundos da base: o goleiro Vínicius Silvestre, o lateral Vanderlan, os meio-campistas Fabinho e Gabriel Menino e os atacantes Endrick e Giovani, além de outros atletas do sub-20 que treinam com o grupo e vivem expectativa de serem 100% integrados, como Pedro Lima, Luis Guilherme e Fabinho.

Sob a batuta de João Paulo Sampaio, o Palmeiras, desde 2015, arrecadou mais de R$ 900 milhões em vendas de atletas da base, sendo que o investimento girou em torno de R$ 200 milhões. Um negócio lucrativo, que dá frutos econômicos e esportivos, já que muitas "crias da academia" fizeram parte das conquistas recentes no time profissional, como o bicampeonato da Libertadores e do Paulistão, Copa do Brasil e Campeonato brasileiro.

Sempre que perguntado sobre o futuro, João dá um jeito de fugir da resposta. Desconversou sobre uma possível volta ao futebol profissional e sondagens recentes que recebeu do Grupo City e do Internacional.

No entanto, quando foi perguntado sobre o que o motiva a seguir no Palestra, a resposta veio fácil:

"As pessoas, a fome diária, a autonomia e a confiança que o clube tem em mim me motivam, têm um reconhecimento. João Paulo é a ponta do iceberg. É um clube que você pode falar que é uma família mesmo, todo mundo cuida um do outro".

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