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Copa 2018

Violência dos hooligans durante a Copa preocupa autoridades

Grupos radicais ameaçam agir durante o Mundial. Russos tentaram cooptar ‘barrabravas’ argentinos contra ingleses e também há suspeita de terrorismo

Copa 2018|Cesar Sacheto e Guilherme Padin, do R7

Hooligans marcaram presença na Eurocopa de 2016, disputada na França
Hooligans marcaram presença na Eurocopa de 2016, disputada na França

Na semana de abertura da Copa da Rússia, a possibilidade da ação violenta de hooligans preocupa as autoridades responsáveis pela segurança do evento, dirigentes, torcedores e demais envolvidos no maior torneio de futebol do planeta. O próprio presidente russo, Vladimir Putin, já declarou que o país tomará cuidados especiais nesse quesito.

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O temor é por cenas como as vistas durante a Eurocopa de 2016, quando houve confrontos entre russos e ingleses em ruas de cidades da França, país que sediou a competição.

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Algumas nações europeias têm grupos de torcedores ultrarradicais, muito violentos, e há suspeita de enfrentamentos durante os jogos do Mundial, que começa nesta quinta-feira com a partida entre Rússia e Arábia Saudita, às 12 horas (horário de Brasília), no estádio Lujniki, em Moscou.


Há alguns meses, o Departamento Federal de Investigações da Alemanha (BKA, na sigla em alemão) levantou a suspeita da ação dos hooligans durante o evento — e ainda advertiu sobre o risco de ataques jihadistas na Copa. O documento foi revelado pelo jornal alemão Bild.

Além da xenofobia, atos de racismo e homofobia também atemorizam estrangeiros que moram na Rússia. Um deles é o jogador brasileiro Ari, que atua pelo jogador do Lokomotiv Moscou, atual campeão nacional.


"Já fui xingado por causa da minha cor em clássicos contra o Spartak, por exemplo. Não foi nada legal. E também sei que houve casos com o Hulk e com o Roberto Carlos. Mas acho que está diminuindo nos últimos anos, tenho esperança de que não aconteça durante a Copa", disse o brasileiro.

No entanto, há indícios de que hooligans russos tentaram cooptar “barrabravas” — como são conhecidos os torcedores organizados argentinos para uma guerra contra grupos de ingleses, conforme revelou o jornalista Gustavo Grabia, autor do livro “La Doce”, que conta a história da principal torcida organizada do Boca Juniors.


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A expectativa é que cerca de 180 barrabravas estarão na Rússia de um total de 30 mil argentinos que acompanharão a seleção liderada pelo craque Lionel Messi na Rússia.

"Em fevereiro, houve uma reunião em Buenos Aires, na qual os ultra russos tentaram convencer os barrabravas argentinos para que se unissem a eles no enfrentamento dos hooligans. Mas tenho a uma informação de que os ‘barras’ vão tratar de não se meter em nenhum tipo de problema. É difícil acreditar (que haverá essa junção), porque os ‘barras’ estão tentando ter o menor número possível de problemas", contou o jornalista.

Conflito entre hooligans incomoda torcida durante a Euro
Conflito entre hooligans incomoda torcida durante a Euro

Os russos podem ter se aproveitado de uma rivalidade histórica entre Argentina e Inglaterra que vai além do futebol. A própria Rússia tem divergências de cunho político e diplomático com os ingleses, como explica o psicólogo Cristiano Barreira, presidente da Associação Brasileira de Psicologia do Esporte e diretor da Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto, da USP.

“Russos e argentinos têm questões recentes com a Inglaterra. No caso dos russos, o assassinato de um espião do país no Reino Unido e a suspensão do país dos Jogos Olímpicos pela Wada (departamento antidoping). Esse sentimento pode justificar a tendência de revolta. Em relação aos argentinos, existe a questão da guerra pelas Ilhas Malvinas”, batalha vencida pelos ingleses no início da década de 1980. “É como se eles fossem à forra. Essas situações podem justificar”, explica.

Temos um processo de cultura de gangues. Há um sentimento de hostilidade que produz ódio

(Cristiano Barreira)

O professor Cristiano Barreira explica que tais questões, acrescidas das carências sociais vividas pelas populações de Rússia e Argentina, poderiam — em tese — unir torcedores violentos contra grupos ingleses durante a Copa.

"Quando falamos sobre Copa, há fatores determinantes (que impulsionam os torcedores violentos). Alguns têm a sua identidade nacional. Por mais que não sejam amigos, os seus direitos não estão à altura do minimamente aceitável. Aí, encontramos uma certa revolta e uma certa reação a essas condições (sociais). Então, você tem uma adesão mais fácil aos discursos de ódio", analisou.

Confusão nas ruas de Marselha, na França
Confusão nas ruas de Marselha, na França Carl Court/Getty Images

Origens da violência nas torcidas de futebol

A intolerância, por sinal, é uma característica que explica a propensão de alguns indivíduos a extravasar seus impulsos mais violentos no futebol. Neste caso, as torcidas organizadas funcionam como gangues nas quais os times são apenas o ponto em comum – e os seus integrantes perdem a capacidade de discernimento em relação ao próximo.

"Temos um processo (nas organizadas) de cultura de gangues. E uma cultura de gangues costuma agir por um senso de direito e justiça particularizados. Os integrantes são dominados por direitos próprios e formação de identidade de grupo por oposição ao outro. Os direitos valem para quem pertencem ao grupo, não para os inimigos. Há um sentimento de hostilidade que produz ódio", explicou Barreira.

Interesses escusos

As torcidas organizadas se fortaleceram ao longo dos anos e atualmente têm outros interesses. O dinheiro proveniente do tráfico de drogas e de outros negócios ilícitos também motiva as ações desses grupos. E a Argentina é um exemplo dessa realidade, afirma o jornalista argentino Gustavo Grabia.

Ingleses confrontam polícia francesa antes de jogo da Euro
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“Os barras argentinos, na realidade, até o fim da década de 90, lutavam entre clubes. Isso ficou absolutamente de lado, tão grande os negócios ilegais montados ao redor do futebol. Eles brigam para ver se ficam com o dinheiro da revenda das entradas, do estacionamento, da venda de camisetas, de um montão de circunstâncias que nas outras partes do mundo não existem, mas, na Argentina, sim. É um negócio absolutamente milionário”, frisou Grabia.

Relembre a batalha campal de hooligans ingleses e russos na Eurocopa de 2016

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