Sem água, sem festa e com pouco futebol: Samara se despede da Copa
Sexta maior cidade da Rússia, sede já estava esgotada com o Mundial em um estádio caro e com um time inexpressivo na primeira divisão do futebol local
Copa 2018|André Avelar, do R7, em Samara, na Rússia
Samara se despediu da Rússia 2018 nesse fim de semana, mas a festa deixou a desejar. A cidade já parecia esgotada com a Copa do Mundo e a última partida faltou água, festa e até futebol na vitória da Inglaterra sobre a Suécia, pelas quartas de final. Sobrou uma incomum bagunça dos voluntários com música alta e bebida ao final da partida derradeira.
Sexta maior cidade da Rússia com cerca de 1,1 milhão de habitantes (a capital Moscou tem 11,5 milhões), Samara sofreu com os torcedores que migraram para o local em busca das suas seleções. A companhia Samarskiye Kommunalniye Systemy admitiu a falta de pressão na água (o que era facilmente verificado em qualquer hotel da cidade) e ainda brincou sugerindo que os habitantes tomassem banho a dois.
“A mensagem tinha a ideia de chamar a atenção para o uso responsável do consumo de água”, disse Igor Volobuev, representante da companhia. “A história cresceu com alguns detalhes engraçados, mas as pessoas entenderam o humor na mensagem.”
Com a bola rolando, a Inglaterra, com o seu jogo burocrático e que ainda pode se tornar muito bem campeã mundial, venceu a Inglaterra com um gol em cada tempo. Harry Maguire e Dele Alli reabasteceram de cerveja os aficcionados britânicos. Sem poder de reação, os suecos pareceram aceitar a derrota dentro de campo e nas arquibancadas. Nada mudou na rotina de um dos 15 melhores IDHs (Índice de Desenvolvimento Humano) do mundo.
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A cidade estava no caminho de muitos dos 65 mil colombianos que compraram ingresso para o Mundial, mas o time acabou caindo em uma fase antes, para a Inglaterra, nas oitavas de final. Ainda assim, os cafeteiros foram para o local e inclusive transformaram cardápios dos restaurante em espanhol. Não raro havia o menu em russo, em inglês e um anexo, feito à mão mesmo, com os pratos em espanhol.
“Essa quartas de final era nossa. Suécia x Inglaterra parecia um p… de um velório. Ninguém cantava, ninguém dançava. Os ingleses estavam lá tomando cerveja e só. Nem parecia que estavam classificados”, disse Sergio Sagot, de 25 anos, que também esteve no Mundial quatro anos atrás. “No Brasil era tudo lindo. As pessoas sabiam fazer festa. Aqui a gente teve que improvisar a festa mesmo sem a nossa seleção.”
Mas, ainda assim, o momento mais marcante da torneio em Samara talvez tenha vindo das arquibancadas da Arena Samara - Cosmos Arena para os locais. Um torcedor saiu de trás da sua bandeira do Brasil para o estrelato da internet em questão de minutos. O engenheiro aeroespacial Yuri Torsky, de 34 anos, estava no 2 a 0 da seleção verde-amarela sobre a mexicana e chamou a atenção de milhares e milhares de brasileiros.
“Queria dizer que a eliminação do Brasil não foi culpa minha”, justificou-se Torsky, que foi convidado por uma cervejaria para acompanhar a eliminação do Brasil diante da Bélgica, em Kazan. “Foi uma festa incrível aqui em Samara. Espero que o povo russo tenha aprendido a torcer como vocês latino americanos.”
A litorânea Samara tem uma importância histórica para a história da União Soviética. A cidade foi um forte no século 16 e se desenvolveu como importante centro comercial. Na Segunda Guerra Mundial, com a proximidade dos alemães a Moscou, a cidade, então chamada de Kuibyshev, passou a ser a "capital alternativa" do país. Até mesmo um bunker de Stalin, revelado só em 1991, está instalado no local. Não distante dali, a cervejaria típica da região, Zhigulyovskoye, também faz sucesso entre os turistas.
O estádio - que passará a ser utilizado pelo time local Krilia Sovetov, recém-promovido à primeira divisão do Campeonato Russo - recebeu quatro partidas da primeira fase (Croácia x Sérvia, Dinamarca x Austrália, Uruguai x Rússia, Senegal x Colômbia) além de uma oitavas (Brasil x México) e uma quartas de final (Suécia x Inglaterra). A arena foi a mais cara entre as 12 do Mundial, com o custo divulgado de R$ 1,16 bilhão, entregue a apenas 47 dias antes da abertura da Copa, ainda com detalhes para serem feitos na área externa.