Vinicius Júnior tenta ‘ser Neymar’ e não consegue. De grande expectativa, virou a maior preocupação na Seleção Brasileira
No frustrante empate com a Venezuela, Vinicius Júnior roubou os holofotes. Mas de uma maneira que acabou até por expor o técnico. Ele jogava mal, sofreu o pênalti que poderia decidir a partida. Raphinha era o cobrador treinado. O jogador do Real quis cobrar e errou. O Brasil só empatou. Trouxe mais pressão e tensão para ele, para a Seleção. E para Dorival, que teve sua autoridade desafiada
São 37 convocações nos últimos cinco anos.
Apenas cinco gols.
E cinco assistências.
Desempenho muito fraco para o jogador que foi injustiçado por não ter sido escolhido como melhor do mundo.
‘Melhor’ no Real Madrid, porque na Seleção Brasileira não consegue ser nem sombra do exímio atacante do time de Carlo Ancelotti.
Não é segredo para ninguém que ele deseja ser o sucessor de Neymar.
Mas seu desempenho e, principalmente, o comportamento com a camisa da Seleção são frustrantes.
“Falhei ao tomar dois cartões amarelos evitáveis. Novamente assisti à eliminação do lado de fora.
“Mas, dessa vez, por culpa minha. Peço desculpas por isso.
“Sei ouvir as críticas e as mais duras, acreditem, vêm de dentro de casa.
“Minha trajetória na Seleção, felizmente, está só começando.
“Ao lado dos meus companheiros, terei chance de recolocar nossa Seleção no lugar que merece.”
Essas foram as palavras que Vinicius Júnior escreveu, pedindo desculpas, ao ser suspenso, por cartões amarelos por reclamação, diante do Paraguai, e por uma braçada no rosto de James Rodríguez, diante da Colômbia. Não jogou contra o Uruguai e o Brasil foi eliminado da Copa América.
Dorival Júnior o perdoou. Pela atitude humilde. E por necessidade. O técnico não tem o talento de Neymar como referência. E passou para o atacante do Real Madrid toda a expectativa de ser o líder do time com a bola nos pés.
Só que a pressão tem sido enorme para o atacante de 24 anos.
Antes da partida contra a Venezuela, ele vinha da maior decepção de sua carreira.
Deixou de ser escolhido como o melhor do mundo, na tradicional eleição da France Football.
Ficou atrás, de maneira injusta, de Rodri, espanhol do Manchester City.
As fracas atuações pela Seleção pesaram.
Assim também como sua incansável luta contra o racismo.
As reações do jogador, se recusando a comemorar gols e dribles, foram consideradas por muitos eleitores como provocações. São jornalistas do mundo todo que escolheram que a Bola de Ouro não iria para o brasileiro.
Vinicius Júnior sabe o quanto a Seleção precisa de um jogador capaz de desequilibrar tecnicamente as partidas. Seja imprevisível com a bola nos pés. Alguém que recebe, em troca, o privilégio de não marcar. Só se preocupar com o ataque.
Exatamente como sempre foi a missão de Neymar.
Vinicius Júnior disse a Dorival que estava pronto para fazer o que o Brasil precisava. Como disse para Tite. Para Ramon Menezes. Para Fernando Diniz. Só que ele frustrou a todos os técnicos.
Por vários fatores. O principal é que não tem companheiros à altura do seu talento na Seleção, como no Real Madrid. A falta de treinamentos faz com que a sincronia de movimentos, a ocupação de espaços, os contragolpes fulminantes em bloco, não aconteçam.
Dorival teve várias conversas com o jogador. E a pergunta mais recorrente é como ele gostaria de atuar. Foram várias alterações testadas. Laterais esquerdo mais conservadores, que atacam menos, alas muito ofensivos, forçar a saída de bola da defesa para o ataque tendo Vinicius como referência.
Os resultados seguiram pífios.
Até que ontem, contra a Venezuela, nova tentativa.
Ele tinha a opção de se revezar com Raphinha.
Atacando pela ponta esquerda, como adora, ou pelo meio, como está se aprimorando no Real Madrid, com Ancelotti.
Algo parecido com que faz com Rodrygo.
O resultado estava sendo bom, principalmente no primeiro tempo.
Mas veio o segundo, a Seleção tomou o gol de empate aos 40 segundos e a afobação tomou conta do time.
Principalmente de Vinicius Júnior, que se sentiu na obrigação de decidir a partida.
Os atletas sabem da fragilidade histórica da Venezuela e, por mais que o time tenha melhorado, segue fraco. Ou não estaria na antepenúltima colocação nas Eliminatórias Sul-Americanas, até o jogo contra o Brasil.
E ele, em uma arrancada digna de corredor de 100 metros, chegou antes do goleiro Romo, em uma bola esticada. Sofreu o pênalti.
Raphinha estava definido para cobrar, como fez contra o Peru, na data-Fifa de outubro.
Bateu e marcou os dois pênaltis que aconteceram.
Só que Vinicius Júnior quis, de novo, ‘ser Neymar’.
Exigiu todos os holofotes.
E teve.
Só que cobrou mal demais, no alto, perto do goleiro venezuelano, que não se esforçou para defender.
A partir daí, Vinicius Júnior se descontrolou.
Tentou decidir o jogo forçando dribles, arrancadas e se tornou facilmente marcado.
Caiu nas provocações dos venezuelanos e poderia até sofrer uma expulsão.
Escapou.
Mas o seu futebol foi fraco.
Vinicius Júnior teve a proteção da CBF nos vestiários e não deu entrevista.
Para não explicar o pênalti que ‘tirou’ de Raphinha e a atuação decepcionante.
De acordo com jornalistas que estiveram em Maturín, como era de se esperar, ele foi acolhido por Dorival.
E pelos companheiros.
Eles sabem que precisam de Vinicius Júnior.
Ao chegar à Bahia, onde o Brasil enfrentará o Uruguai, Vinicius Júnior se viu diante de fotógrafos e cinegrafistas.
O jogador, que sempre foi gentil com os fãs, foi novamente.
E posou para fotos com torcedores que esperavam a Seleção, em frente ao hotel que servirá de concentração.
Um dos trunfos na carreira de Dorival Júnior é ter paciência e passar confiança para jogadores que comanda.
É o que está tentando fazer com o atacante do Real Madrid.
Não está sendo fácil.
As consequências da atuação ruim e, principalmente, do pênalti perdido, estão nos veículos de comunicação.
Do mundo todo, questionando o fraco futebol do jogador.
É possível que ele dê entrevista antes da partida contra o Uruguai, para tentar amenizar as críticas.
Vinicius Júnior está sentindo na pele o quando é difícil ‘ser Neymar’.
Atravessar o Oceano Atlântico, encontrar uma equipe completamente desentrosada e com jogadores mais fracos dos que deixou no clube e ter de ser o ponto de desequilíbrio da Seleção Brasileira, diante de seleções com fortíssimos esquemas defensivos.
Dorival quer que o jogador entenda que é preciso distribuir a responsabilidade.
Não ter a obrigação de ganhar as partidas e ser o melhor dos melhores a cada confronto.
Está difícil para Dorival, pelo pouco contato com Vinicius Júnior.
Esse é o trabalho que necessitaria o dia a dia.
Meses de convivência.
Mas o calendário da Seleção não permite esse luxo.
Daí a instabilidade mais do que previsível.
É pesado demais ‘ser Neymar’....
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