Vagner Love. Para mudar o assunto. Esquecer os R$ 12 milhões do BMG
Corinthians segue os ensinamentos de Alberto Dualib. E, diante do constrangimento da revelação do real valor do contrato da BMG, anuncia Love
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Entre 1993 e 2007, Alberto Dualib fez o que quis como presidente do Corinthians.
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Ficou quatro mandatos no poder.
Só saiu quando a Polícia Federal expurgou a MSI, empresa investidora que dominava o futebol do clube. A acusação era lavagem de dinheiro.
Pressionado pelas organizadas, que infernizaram sua vida e da sua família, Dualib foi obrigado a renunciar.
Se paira até hoje desconfiança sobre a maneira que governou o clube, não há como negar que ele foi um grande colecionador de títulos. Mundial, Brasileiro, Copa do Brasil, Campeonato Paulista.
O dirigente aceitou ser o segundo padrinho de Andrés Sanchez no Parque São Jorge. O primeiro foi o vice de Dualib, Nesi Curi, que colocou Andrés, fundador da organizada Pavilhão Nove, para cuidar das categorias de base corintiana.
Não é preciso muita memória para enumerar as várias confusões que Dualib se envolveu. O escândalo "um, zero, zero", quando foi achacado pelo então comandante da arbitragem no Brasil, Ivens Mendes. Ele teria recebido pedido para colaborar na campanha de Ivens para deputado federal por Minas Gerais.
Perguntado com quanto poderia colaborar, Dualib quis disfarçar falando no telefone.
"Um, zero, zero."
A referência era a R$ 100 mil reais, chegou à conclusão o Ministério Público. O então dirigente corintiano desmentiu e garantiu que eram 100 camisas do clube.
Depois, em 2007, outra vez foi flagrado no telefone. Desta vez em uma conversa com Renato Duprat, empresário que levou a MSI ao Corinthians. Ambos conversavam sobre o Campeonato Brasileiro de 2005.
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A Record TV divulgou o conteúdo da conversa.
"Nós tínhamos 14 pontos de vantagem para o Inter nos últimos cinco jogos e chegados com um ponto só, e roubado...Olha se não tivesse aquela merda de anulação de jogos nós estávamos fora...Porque campeão de verdade foi o Internacional", disse a Duprat.
Dualib teve de renunciar em 2007, quando Andrés foi eleito presidente corintiano. E desde então domina o clube politicamente. Fez os presidentes que quis, agora voltou ao cargo.
O histórico presidente Dualib, hoje com 99 anos, deixou vários ensinamentos.
Entre eles, a frase que repetia no Parque São Jorge a seus aliados.
Disse que é uma evolução do que via Vicente Matheus fazer.
"Quando a imprensa começa a perturbar basta anunciar uma contratação.
É a solução para tudo."
E foi exatamente o que aconteceu ontem.
Quando foi exposto que o patrocínio master na camisa corintiana é de apenas R$ 12 milhões e não R$ 30 milhões, como muitos jornalistas acreditaram, por coincidência, o clube anuncia a contratação do veterano Vagner Love.
Ele fará 35 anos em junho.
O mercado brasileiro sabia que ele ficaria livre nesta janela do futebol turco. Quem o quisesse, bastaria pagar R$ 6 milhões que ele tinha a receber do Besiktas. Flamengo, sua primeira opção, não quis o retorno. O Santos que se interessou no ano passado, também não.
Andrés Sanchez foi claro ao procurador do jogador, Evandro Ferreira.
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Só aceitaria uma terceira passagem do atacante se tivesse de pagar apenas os salários.
Não daria nenhum real para cobrir o que o Besiktas não pagou.
Vagner Love pressionou os dirigentes turcos e, só quando ameaçou mover um processo para receber o que lhe era devido na Fifa, a cúpulado Besiktas aceitou pagar o que devia. Saiu mais barato, já que o clube correria o risco de ter de pagar o atleta e ainda bancar uma pesada multa.
O Corinthians sabia do acerto de Love desde a quinta-feira.
O plano era anunciar o jogador hoje, sábado, dia do confronto contra a Ponte Preta.
Mas o vazamento do real valor que o clube receberá do BMG antecipou as coisas.
São os ensinamentos de Dualib prevalecendo.
Quanto a Vagner Love, ele mudou muito como jogador.
Não envelheceu bem como atleta.
Perdeu grande parte de sua explosão muscular, sua principal característica.
Segue com boa colocação na área e aprimorou o uso do corpo como pivô.
Como o futebol brasileiro vive uma crise técnica, com times fraquíssimos, Love pode até ser útil.
Mas está longe do atleta que surgiu como revelação no Palmeiras.
Só que aparece agora no melhor momento no Parque São Jorge.
De graça, para cumprir dois anos de contrato.
Recebendo apenas os salários.
E, principalmente, mudando o incômodo assunto BMG.
Em abril de 2017, o clube rompeu com a Caixa Econômica.
Não aceitava deixar de receber R$ 30 milhões pelo patrocínio master.
Dirigentes ficaram ofendidos com a oferta de R$ 25 milhões.
Agora, o clube fecha com o BMG.
Recebeu, sim, R$ 30 milhões por 2019.
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Nos próximos quatro anos, R$ 12 milhões.
Serão, portanto, mais R$ 48 milhões.
Ou seja, R$ 78 milhões garantidos.
Em cinco anos, dá a média de R$ 15,6 milhões.
Quase dez milhões a menos do que a Caixa ofertava.
Os dirigentes alegam que há também os 50% do lucro líquido do banco digital "Meu BMG Corinthians".
O plano será lançado em março.
Mas ninguém sabe o quanto isso irá render.
Se renderá alguma coisa.
Mas o que importa para Andrés é que Vagner Love está contratado.
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Deve estar hoje no Itaquerão, para acompanhar o jogo contra a Ponte.
Desviará o foco dos repórteres.
Ninguém falará do BMG quando tem 'nova contratação'.
Não há mais motivo para questionar os R$ 12 milhões.
São as lições de Dualib prevalecendo.
No moderno Corinthians de 2019...
(Depois da partida contra a Ponte Preta, Andrés Sanchez decidiu explicar o contrato com o BMG. A situação é pior. O Corinthians pegou R$ 12 milhões de 2019 e adiantou os R$ 12 milhões de 2020. E temos R$ 6 milhões prevendo um lucro que vai vir da plataforma. No ano que vem, a gente só recebe o que tiver de lucro na plataforma...")
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