Um poderoso inimigo espera por Felipão: Mustafá
Os dois não se suportam há 18 anos. O ex-presidente segue poderoso, a ponto de atrapalhar a administração de Galiotte. Scolari sabe o que o espera
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli

São Paulo, Brasil
Mustafá Contursi trabalha há 40 anos nos bastidores do Palmeiras.
E segue fazendo o que pode, incessantemente, contra a administração Mauricio Galiotte.
E contra o patrocínio da Crefisa.
Foi ele quem articulou, junto com aliados importantes, a reprovação das contas da diretoria em janeiro e fevereiro.
No início do ano, foi constatado pela Receita Federal que os R$ 120 milhões colocados pela patrocinadora não se tratavam de doação e, sim, de empréstimo pelos jogadores importantes contratados. E que o clube deveria devolver cada centavo.
O acordo era que o clube receberia os atletas bancados pela patrocinadora. Sem gastar nada. Depois de uma eventual venda, o dinheiro seria devolvido. Se houvesse lucro, ficaria no Palmeiras. Caso viesse o prejuízo, a empresa assumiria para ela.
Só que os próprios conselheiros da oposição levaram a denúncia à Receita Federal, de acordo com pessoas ligadas à Galiotte e à dona da Crefisa, Leila Pereira. E, desde então, houve duas consequências. As contas foram reprovadas, porque o presidente não poderia aceitar um empréstimo maior de 10% sem a aprovação do Conselho de Orientação Fiscal.
E Leila parou de oferecer atletas ao Palmeiras.
Tudo, de acordo com dirigentes, seria uma retaliação de Mustafá por conta da acusação que os 70 bilhetes que a Crefisa dava ao ex-presidente palmeirense, em todos os jogos, e que deveriam ser dados a conselheiros, iriam parar nas mãos das torcidas organizadas, que os revendiam.
Mustafá fez Galiotte presidente e abriu as portas do clube à Leila, que planeja também comandar o clube, e passou a trabalhar contra a atual diretoria. E com o apoio discreto de conselheiros ligados ao ex-presidente Paulo Nobre. E a quem o Palmeiras não deve mais nenhum real. Os cerca de R$ 146 milhões emprestados pelo bilionário dirigente, durante sua gestão, foram pagos. Era uma prioridade de Galiotte, que o sucedeu e, em seguida, rompeu com ele.
No meio dessa confusão política, surge a figura de Luiz Felipe Scolari.
Sua contratação agradou a maioria dos conselheiros e torcedores. Mas irritou Mustafá Contursi. O ex-presidente é inimigo declarado de Felipão. E vice-versa. Os dois não se toleram desde a primeira passagem do técnico, quando o clube tinha o impressionante dinheiro da Parmalat. E verdadeiras Seleções Brasileiras foram montadas.
Foi nessa época que o Palmeiras acabou vencendo sua única Libertadores, em 1999, com Felipão.
Mustafá e o treinador se estranhavam porque o técnico pedia melhor condições de trabalho, infraestrutura para os treinamentos, melhoria no departamento médico, físico. O então presidente não aceitava o que chamava de 'ingerência' na administração de um funcionário.
O clima entre eles ficou insuportável. Chegou ao ponto de os dois só se falarem por intermediários. O presidente demitiu o assessor de imprensa Acaz Felleger, amigo pessoal de Felipão. O treinador o contratou como assessor pessoal. Mustafá viu como uma desfeita e tudo piorou de vez.

A Parmalat deixou o Palmeiras em 2000, mesmo ano da saída de Scolari, não sem antes classificar o time para a Libertadores de 2001, ao vencer o Rio-São Paulo.
O treinador voltou em 2010, trazido pelas mãos de um severo opositor a Mustafá: Luiz Gonzaga Belluzzo. O ex-presidente seguiu não aprovando o trabalho do técnico. Só que tinha menos aliados com Belluzzo. Mas bastou Arnaldo Tirone ser eleito, apoiado por Contursi, que Scolari perdeu força. Alegando falta de dinheiro, jogadores importantes e caros deixaram de serem contratados. E imperou a política do 'bom e barato', defendida por unhas e dentes por Mustafá.
Foi quando Felipão priorizou a Copa do Brasil, ganhou a competição em 2012. Mas o elenco não conseguiu sobreviver na Série A. E sofreu o segundo rebaixamento. O treinador sabe que se tivesse uma equipe um pouco melhor, não cairia. Teve toda a certeza que isso não aconteceu por interferência de seu velho inimigo.
Agora, os dois desafetos se encontram outra vez.
Mas Felipão tem um grande apoio, além do presidente. Leila Pereira apoiou a decisão de Galiotte e fará o possível para ajudar Felipão. Se possível, oferecendo reforços ao time. Alexandre Mattos, protegido de Leila, segue insistente, tentando a vinda de Bernard. O sonho seria anunciá-lo na próxima semana, na apresentação oficial de Scolari.
Luiz Felipe e Mustafá Contursi têm uma mesma característica.
São muito rancorosos.
Apesar de afastados, a fortalecida oposição pode voltar a atrapalhar o técnico. Principalmente vetando as contas de Galliote, travando atitudes da administração. Questionando dinheiro gastos em reforços. E mesmo na contratação caríssima do técnico, que conselheiros da situação e da oposição juram que será o mais bem pago do país.
Scolari sabia que poderia passar por isso.

Mas tem a plena consciência que Galiotte e Leila podem enfrentar Mustafá. Não são como Tirone, que foi colocado no cargo graças à sua influência política.
Será um embate de muita experiência.
Em novembro, Felipão completará 70 anos.
Em setembro, Mustafá atingirá 78 anos.
Os dois com energia suficiente para levar essa rixa adiante.
O que pode ser péssimo ao próprio Palmeiras...