Tristes detalhes da submissão da Seleção Brasileira a Neymar
Nem Pelé, o melhor de todos, e tricampeão mundial tinha tantos privilégios. O ambiente é sabotado. A Seleção tem um 'presidente' e os demais jogadores
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Uma das primeiras lições aprendidas de qualquer jogador de futebol bem sucedido é analisar o ambiente do grupo que convive.
Como é a relação do técnico, dos dirigentes com os atletas.
Isso vale para toda a carreira.
Nos clubes, nas seleções.
Quando se tornam profissionais de destaque, a ponto de frequentar a Seleção Brasileira, o jogador ainda conta com conselheiros profissionais, que recebem seu dinheiro para orientá-los.
Empresários, agentes e assessores de imprensa são os mais influentes.
Ninguém chega à Seleção Brasileira, por exemplo, sem longas conversas, análises de como se comportar. Em relação a Tite, aos demais membros da Comissão Técnica, ao coordenador Edu Gaspar e, principalmente, a Neymar.
Não há espaço para ingenuidade.
Está cada vez mais escancarada a maneira diferenciada com que o capitão é tratado.
Ele é uma entidade à parte, que tudo pode.
Por conta de seu potencial técnico diferenciado, Tite e Edu Gaspar mergulham na incoerência e fazem de tudo para disfarçar o óbvio.
Existe Neymar e 'os outros'.
Isso é muito claro.
E se um atleta deseja sobreviver na Seleção não pode questionar e sim aceitar as coisas como elas são.
O coordenador de Seleções, Edu Gaspar, que já acertou sua ida para o Arsenal depois da Copa América, deu mais uma triste demonstração de como o capitão da Seleção, o camisa 10 é protegido.
O soco que Neymar deu no rosto de um torcedor quando subia as escadas do Stade de France, em Paris, na cerimônia de premiação da Copa da França, foi alvo de críticas do mundo todo.
Ele deverá ser suspenso pela Federação Francesa.
Situação deprimente, vexatória, como foi a cusparada de Douglas Costa no rosto de Federico Di Francesco, do Suassolo. E que custou sua convocação para os amistosos contra a Austrália e Argentina.
Só que o vale para Douglas Costa não vale para Neymar.
Há uma divisão clara.
Neymar de um lado.
Do outro, os demais convocados.
A postura do coordenador de Seleções só reafirma, corrobora, atesta essa triste situação.
"O Neymar teve esse problema de indisciplina no PSG, a responsabilidade é deles... Não estou passando a mão na cabeça dele, estou achando o correto para seleção", teve a coragem de dizer, ao programa No Ar com André Henning, no Esporte Interativo.
A cusparada de Douglas Costa, seguindo o mesmo raciocínio, deveria ser 'responsabilidade deles', da Juventus.
Mas a Seleção Brasileira tomou como sua.
Edu Gaspar foi um exemplo de jogador. Líder no Corinthians, Arsenal e Valencia. Justo, inteligente era o apoio dos seus treinadores. E quem mais cobrava nos vestiários erros dos companheiros.
Dirigente desde 2011, era adorado no Corinthians, pela forma justa e aberta com que tratava os atletas.
Saiu para acompanhar Tite na CBF, em 2016.
Na Seleção, se viu obrigado a agir de maneira completamente diferente de sua vida toda.
Nem Pelé teve tratamento que Neymar recebe.
Mesmo sendo o melhor jogador de futebol de todos os tempos. Vencedor de três Copas do Mundo com a Seleção Brasileira.
"Ele fazia questão de não ter privilégio algum. Era um de nós, de verdade. Isso era ótimo para o ambiente da Seleção", já destacou Pepe.
"Pelé não reclamava se o bife era duro, se tinha de correr no treino, não chorava", garante Rivellino.
Seu talento poderia fazer com que fosse capitão da Seleção desde a final da Copa de 1958, mas reconhecia não ser um líder natural, como Neymar também não é.
Só que Pelé abriu mão da tarja de capitão. Até mesmo das faltas próximas à área e, muitas vezes, dos pênaltis da Seleção. Situações que têm dono no atual time de Tite.
Edu Gaspar se perdeu quando assumiu a coordenação da Seleção.
Sua pior declaração foi depois do fracasso na Copa do Mundo, quando Neymar teve participação decepcionante e até virou piada mundial por suas simulações.
"Não é fácil ser Neymar. É difícil estar na pele dele. (...) "Chega a dar pena em alguns momentos, porque o que esse menino sofre não é fácil", teve a coragem de afirmar, ainda na Rússia.
O 'menino' caminha para os 28 anos e tem um filho de sete anos.
Se Edu Gaspar age dessa maneira com Neymar, o que faria com Pelé?
No Mundial de 2018, qual foi o único atleta que teve a família hospedada no mesmo hotel da Seleção? Mesmo tendo vários ricos no elenco?
Neymar, lógico...
Qualquer convocado para a Seleção Brasileira sabe bem quem é o 'presidente'. O jogador a ser respeitado, reverenciado, adulado. E que não pode ser questionado, cobrado, faça o que fizer.
Como matar contragolpes buscando dar vários dribles a mais, para mostrar o quanto é talentoso.
Ou questionar juízes e bandeiras de maneira acintosa.
Ninguém ousa reclamar.
Muitos exageram como Gabriel Jesus, que prefere mil vezes passar a bola para o camisa 10, mesmo estando em frente a uma meta vazia, sem goleiro.
O Le Parisien publicou ontem uma ríspida discussão que quase terminou em briga com Draxler. O alemão teria cobrado o brasileiro por sua postura dentro e fora de campo.
“Quem é você para falar assim comigo? Só passa a bola para trás", teria respondido Neymar, de acordo com o jornal.
A resposta foi a senha para os dois quase se engalfinharem.
O diretor Antero Henrique teria evitado a briga, afastando os dois.
Na Seleção Brasileira essa situação não acontecerá.
Porque os jogadores sabem muito bem com quem estão falando em relação a Neymar.
Ele é o protegido, o diferenciado.
Esse ambiente de privilégio sabota a Seleção.
Que Edu não repita o mesmo no Arsenal...
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