Torcedor do Cruzeiro morre queimado. Dentro de ônibus incendiado por vândalos da organizada do Palmeiras. Tocaia foi vingança
Cenas de terror. Vândalos infiltrados na Mancha Verde se vingaram de ataque que sofreram da Máfia Azul, em 2022. A vingança foi hoje. Uma pessoa morreu carbonizada. Duas tomaram tiros. E sete tiveram traumatismo craniano. Barbárie tem de acabar
Cosme Rímoli|Do R7
José Victor Miranda.
30 anos, mineiro, de Sete Lagoas.
Morreu queimado, dentro do ônibus da torcida organizada Máfia Azul.
O veículo foi completamente incendiado.
Nove outros torcedores estão gravemente feridos.
Sete com traumatismo craniano, pelas pancadas que sofreram na cabeça, com barras de ferro.
Dois foram baleados.
Este é o balanço de um dos mais selvagens ataques de vândalos das organizadas que o Brasil já viu.
Eram cerca de cinco e dez da manhã deste dia 27 de outubro quando o ônibus dos cruzeirenses sofreu uma emboscada.
De acordo com a Polícia Rodoviária Federal, vândalos infiltrados na organizada Mancha Verde interceptaram o veículo.
O ataque foi articulado.
O ônibus não teve como desviar no quilômetro 65 da Fernão Dias, que liga São Paulo a Minas Gerais.
Na altura de Mairiporã.
De acordo com relatos dos soldados, os membros da Mancha Verde teriam disparado rojões e foguetes em direção ao ônibus, forçando os torcedores da Máfia Azul a descerem do ônibus.
E aí teria começado a barbárie.
Pelo menos 120 pessoas se envolveram no confronto.
Os palmeirenses, em número muito maior, vários deles com barras de ferro nas mãos, começaram as agressões.
Muitos golpes violentos atingiram as cabeças de alguns cruzeirenses.
Daí os traumatismos cranianos.
Dois torcedores foram baleados.
Soldados da Polícia Rodoviária Federal mostraram cápsulas de munição que foram disparadas.
De fuzil!
Vídeos mostram cruzeirenses sangrando, sendo agredidos.
Alguns até desacordados.
Os primeiros relatos dão conta que José Victor Miranda não conseguiu sair a tempo do ônibus, que já estava pegando fogo.
Morreu queimado.
Uma vingança seria a explicação para tanto ódio.
Ônibus da Mancha Verde teria sofrido uma tocaia no dia 28 setembro de 2022, no quilômetro 107, da mesma Fernão Dias.
Só que no território mineiro, na altura da cidade de Carmópolis.
Ônibus da Máfia Azul cercaram um ônibus da Mancha Verde.
A tocaia deu certo.
Vândalos infiltrados na organizada mineira não só espancaram os palmeirenses.
Quatro foram baleados.
O presidente da Mancha Verde, Jorge Luís, foi violentamente espancado.
Seus documentos foram roubados e exibidos como troféus.
“Você vai voltar vivo porque temos ideologia”, dizia um dos membros da Máfia Azul, para Jorge, que estava com a cabeça completamente ensanguentada.
No mesmo dia, o presidente de honra da Mancha Verde, Paulo Serdan, gravou um vídeo.
E deixou claro a rivalidade entre as duas organizadas.
“Aí, rapaziada. Vou aproveitar para fazer um vídeo aqui. E ainda estou de azul e branco, que m***. Dizer o seguinte: faz parte da guerra, certo?
“Faz parte da guerra bater e faz parte da guerra apanhar também. Faz parte da guerra ganhar e faz parte da guerra perder também. Eu já corri, Moacir correu, Cleo correu. (Dois ex-presidentes da Mancha, que morreram assassinados). Já batemos, já apanhamos.
“A Mancha já bateu e a Mancha vai apanhar.
“Hoje foi o dia foi de invertida, porque a rapaziada foi heroica, corajosa para cara...
“Até agora não tem ninguém com ferimento mais sério, grave. Ferimento de briga, de guerra, certo?
“Nada vai mudar na nossa história, vai continuar do mesmo jeito. Não ficar nessa paranoia de caçar assunto e o cara...
“Faz parte, irmão.
“Graças a Deus, sem informação até agora de ninguém mais sério.
“A rapaziada está passando no hospital”, avisava.
Ninguém morreu naquela tocaia.
Ao contrário de hoje.
As autoridades brasileiras precisam tomar providências sérias.
Os conflitos em organizadas são violentos há décadas.
E estão cada vez piores.
Se não acontecem mais nos estádios ou nas cercanias das arenas, seguem rotineiras nas estradas, nas estações do metrô, na periferia.
Enquanto não houver punições rígidas, verdadeiras, sérias, a selvageria vai continuar.
O trabalho de investigação da Polícia Civil é mais do que necessário.
Que a barbárie de hoje desperte os políticos, nesse dia de eleição.
E que se mobilizem para alterar a legislação.
O Brasil não merece tratar como normais esses atos selvagens, de guerra.
O futebol não pode seguir dando guarida a criminosos...
Veja também: Alexandre Mattos demonstra insatisfação com Cruzeiro e afirma: 'Vamos passar na Sul-Americana'
O CEO da Raposa concedeu entrevista coletiva e falou sobre o momento vivido pelo clube, já antecipando uma classificação para a final da Copa Sul-Americana.
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.