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‘Tirar o Palmeiras da Segunda Divisão foi a maior alegria da minha vida. O Neto me cuspiu. Eu dei um soco na cara dele.’ Adãozinho

Ele foi o grande líder do São Caetano vice Brasileiro e vice da Libertadores. Anulou Ronaldinho Gaúcho, Roger Flores, Juninho Paulista. Com Neto a situação saiu do controle. Mas é o amor ao Palmeiras que marcou a carreira de Adãozinho

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Me ajoelhei e chorei ao colocar, pela primeira vez, a camisa do Palmeiras Reprodução/Instagram Adãozinho

“Levamos o São Caetano para a final da Libertadores e do Brasileiro. Perdemos para nós mesmos.

‘Eu ensinei o Zinho e o Pedrinho a jogarem a Segunda Divisão. Se continuassem com toquinho de bola, o Palmeiras estava na Segunda Divisão até hoje.’


As declarações são de um personagem muito importante na vida do São Caetano e do Palmeiras.

Adãozinho.


Meio-campista inesquecível, versátil, vibrante, de futebol objetivo, duro, ríspido até. Mas de enorme eficiência.

“E ele foi um grande líder. Ele nos cobrava e não nos deixava perder a concentração, a luta. Além disso, era o motorzinho do São Caetano.


“Ele anulava os principais jogadores do adversário. Nos liderava. Tinha uma grande visão do jogo. O Adãozinho foi fundamental para o nosso sucesso”, relembra Adhemar, estrela do histórico time do ABC.

Foi Adhemar quem insistiu.


“Cosme, você quer entender o São Caetano? Tem de entrevistar o Adãozinho.”

Ele tinha razão.

Adãozinho deu uma entrevista sincera, reveladora, sem meias palavras.

“Eu sou de origem simples. Trabalhava na roça com a minha família. Plantava feijão e milho. Comia marmita, bóia-fria mesmo. Jogava futebol. Mas preferia montar em cavalo, em boi. Mas um teste no Bragantino mudou minha vida. Quando vi que iria ganhar três vezes mais e ter comida boa, e quente, estrutura, não tive dúvidas. Fui ser jogador. Tinha 18 anos. Sem fundamento algum. Aprendi tudo no profissional.”

Adãozinho não foi aproveitado por Vanderlei Luxemburgo, no Bragantino campeão paulista de 1990, por um motivo singular.

“Ele descobriu que eu fui para um circo e montei em um boi. Ficou louco da vida e disse que precisava de jogador e não de peão de rodeio.”

Em represália, Adãozinho foi emprestado.

Fez sucesso no Alfenense.

Atlético Mineiro e Cruzeiro tentaram comprá-lo. O Bragantino não liberou. Ele acabou no São Caetano.

“Foi um casamento perfeito. Eram vários jogadores querendo subir na vida. Com um treinador muito inteligente, tático, esperto. O Jair Picerni, que é subestimado. Não chegamos à final da Copa do Brasil e da Libertadores à toa.”

Adãozinho lembra de como conseguiu cumprir sua missão. Anulou, em sequência, Ronaldinho Gaúcho, Roger Flores, Taddei. Na final contra o Vasco, tomou conta de Juninho Paulista.

“No primeiro e no segundo jogo, na final de 2000, em São Januário, ele estava dominado. Mas depois da queda do alambrado, a direção do São Caetano falou que já éramos campeões e não deveríamos nem treinar. O Eurico Miranda conseguiu reverter. Teve novo jogo e nós, que estávamos de férias, perdemos. Foi absurdo.”

O histórico São Caetano, vice da Libertadores Divulgação/Conmebol

Em 2002, o São Caetano chegou à final da Libertadores, contra o Olimpia, do Paraguai.

“Nosso time era fortíssimo. E perdemos a final nos pênaltis. Tivemos o domínio da decisão. Não soubemos matar os jogos.”

No ano seguinte, o sonho de sua vida foi realizado.

“Eu ia em uma kombi abarrotada ver o Palmeiras jogar em Bragança. Não tinha dinheiro para comer naqueles dias. Ficava com fome mas assistia o time do meu coração. Quando o Palmeiras me contratou, me deu a camisa verde com o meu nome, me ajoelhei, chorei e agradeci a Deus. Virou missão da minha vida tirar o meu Palmeiras da Segunda Divisão.”

Adãozinho lembra das duras que deu em Zinho e Pedrinho, os jogadores mais técnicos.

“Eu falei que aquela coisa de toquinho para o lado não iria resolver. Segundona é luta, combate, velocidade, garra. A pressão foi enorme. Mas conseguimos. A festa foi inesquecível.”

Ele lembra, rindo, do 7 a 2 que o Palmeiras tomou do Vitória. “O Marcos ficou louco da vida, chamando a nossa defesa de ‘desgraça’. No vestiário chutou caixa de energético. Eu falei para ele: ‘por que você não faz o seu? Ou então vai chutar o centroavante deles. O Marcão olhou para mim. Riu. A raiva passou. Ele foi muito homem. Venceu a Copa do Mundo poderia ter ido para qualquer time, mas ficou para disputar a Segundona com o Palmeiras.”

Marcando individualmente o mais talentoso adversário, Adãozinho relembra o que foi mais desleal com ele.

“O Neto, quando jogava no Atlético Mineiro. Eu estava grudado nele. E ele me cuspiu. Não tive dúvida. Dei um soco mão na cara dele. Eu sempre respeitei os outros, exigia respeito.”

Adãozinho chorou três vezes na entrevista. A felicidade por ter jogado no Palmeiras é algo muito profundo.

“O Corinthians me ofereceu o dobro. O São Paulo me queria. Mas fui para o Palmeiras e realizei o sonho da minha vida. Isso é para poucos.”

Aos 57 anos, ele vive em Bragança Paulista. Teve dissabores como treinador. “O meio é muito corrupto.” Saudades? “Eu tenho dos meus companheiros de São Caetano. E de vestir a camisa verde do Palmeiras. E ver a torcida gritando meu nome. Isso não tem preço...”

A exclusiva, na íntegra, com Adãozinho está no canal Cosme Rímoli no youtube. Uma parceria com o R7.

São mais de 160 entrevistas com personagens marcantes do esporte brasileiro.

E mais de 13,4 milhões de acessos...

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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