Só um jogador tem razão para rir do fracasso do Brasil na Bahia: Neymar
Tite está acuado, tenso. Tem extrema dificuldade em articular o sistema ofensivo do Brasil. Sem Neymar, o time padece de talento e personalidade
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Tite ficou acuado em Salvador.
Estava sem graça, tenso.
Sabia que foi um vexame empatar em 0 a 0 com a fraca Venezuela, dentro da Fonte Nova, pela Copa América.
Leia também
Acabou questionado como poucas vezes.
Teve de responder até sobre nepotismo, ter feito do próprio filho Matheus, seu auxiliar na CBF. Algo que jamais aconteceu na Seleção. E que obrigou a mudança nos estatutos da entidade, que proibia parentes de trabalharem juntos. A brecha encontrada foi liberar no futebol.
Só que muito mais preocupado do que falar sobre o jovem Matheus, Tite fez questão de mostrar que o time segue tentando se arrumar ofensivamente.
Expôs o fraco futebol de Phillipe Coutinho, que precisa assumir o protagonismo do time, no esquema 4-2-1-3, que escolheu para a disputa da Copa América. Disse que foi bem marcado. Assim como Firmino, Neres e Richarlison.
VEJA TAMBÉM: Não se vira as costas para Marta. Recordista. Brasil classificado
Na verdade, a mensagem silenciosa é o quanto Neymar faz falta.
Os jogadores da atual geração são medianos.
E por mais que o atacante do PSG seja egocêntrico, individualista, problemático, o Brasil não sabe jogar sem ele. Pior: segue dependente.
Bolivianos e venezuelanos fizeram o mais básico contra o Brasil.
Trataram de montar o esquema defensivo mais difundido no mundo.
Duas linhas com quatro e cinco jogadores ou até seis atletas, protegiam a sua meta.
O objetivo era travar a intermediária, evitar tabelas, penetrações. Se defender.
E foi o que conseguiram.
A Bolívia segurou o 0 a 0 durante todo o primeiro tempo.
Mas aos dois minutos do segundo, Richarlison tentou cruzar e a bola tocou no braço do zagueiro Jusino. O pênalti, convertido por Phillipe Coutinho, mudou o jogo.
Contra a Venezuela não houve pênalti algum e o 0 a 0 se manteve.
Para romper as duas linhas defensivas, que o Peru deve usar no sábado, os caminhos mais tradicionais são dois.
O primeiro, triangulações pelos lados do campo. Com jogadores velozes, ambiciosos, tabelando, e buscando a linha de fundo para cruzar a bola.
Só que os dois laterais brasileiros são veteranos e não mostram força física para exercer a função pelas pontas e ainda defender.
Daniel Alves tem 36 anos e seu auge ficou para trás. O Barcelona não quis renovar seu contrato não renovou o contrato em 2016 porque não gosta das roupas exóticas que veste. Mas por ter perdido o punch, a explosão muscular, os arranques.
Pior para Richarlison, abandonado pela direita.
Filipe Luís, fará 34 anos em agosto. Ele sempre foi melhor defensivamente do que no ataque. E não seria agora, veterano, que mudaria. Segue também deixando Neres isolado diante do lateral e de um dos volantes adversários.
A outra saída para desmanchar essas duas linhas está no talento individual.
Um grande driblador é capaz de desmanchar essa postura. E levar o caos a um time defensivo, que busca o 0 a 0.
Messi é um dessas raras exceções.
E Neymar outra.
Tite sabe disso e por isso faz como Mano, Felipão e Dunga, suporta seus excessos, privilégios.
A falsa impressão deixada no jogo contra a Bolívia, que Phillipe Coutinho estava pronto para assumir essa função, se desintegrou.
Na verdade, o meia que o Barcelona quer negociar, só jogou quando a Bolívia se abriu após tomar o primeiro gol.
Os venezuelanos o anularam com toda a facilidade.
A frustração dos baianos depois do 0 a 0 se materializou com as vaias.
O público de São Paulo, classificado como frio, por Daniel Alves, estará esperando a Seleção Brasileira no Itaquerão.
Exigente, não dará apoio de graça ao time.
Por isso, tanta tensão de Tite.
O treinador foi claro em relação ao jogador no dia 22 de março de 2018.
E até se esqueceu de que expôs abertamente.
"O Neymar é insubstituível, pelo alto nível técnico que tem. Pelo top 3 que é.
Esse é o fato", disse na véspera do amistoso contra a Rússia.
Como Tite não anda em boa fase e com certos apagões de memória, vale recordar o que disse no dia 3 de junho, há 16 dias.
"Neymar é imprescindível à Seleção Brasileira. Insubstituível, não."
Chegou a ser tristemente irônico.
O treinador indo contra o que falou no ano passado.
Mas chegou a Copa América.
E ficou claro.
Com esta geração, o Brasil segue refém de Neymar...
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.