Só quem passou fome, como Richarlison, para pedir luz ao Amapá
Finalmente um jogador com coragem de se posicionar e cobrar autoridades, como CBF não gosta. Muito pobre, passou fome na infância no Espírito Santo
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
"Infelizmente o povo do Amapá não vai poder ver meu gol hoje pq não tem luz há DUAS SEMANAS. Estão vivendo dias muito difíceis e espero que resolvam isso logo. Queria dedicar o gol e a vitória de hoje a todos os amapaenses."
Mensagem no twitter...
"Como cidadão brasileiro, eu peço que as autoridades se pronunciem, tomem uma decisão logo, o povo está sofrendo, e eles poderiam dar uma atenção a mais.
"Que eles possam olhar com carinho o povo de lá, são cidadãos de bem, estão querendo o melhor para eles, para os filhos dele. Imposto está caro, pagando a comida caro, e o povo sofrendo."
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Declaração, depois da partida contra o Uruguai, ontem, em Montevidéu.
Ao contrário de jogadores até mais importantes, mais midiáticos, Richarlison teve coragem. Fez o que a cúpula da CBF não gosta.
Aproveitou os holofotes como jogador da Seleção Brasileira para cobrar as autoridades.
Protestar publicamente contra o absurdo apagão do Amapá.
São 15 dias com problemas gravíssimos de fornecimento de luz.
A população como um todo é prejudicada.
Mas, principalmente, os mais pobres.
Richarlison sabe o que diz.
Ele teve uma infância duríssima.
Muito pobre.
"As vezes não tinha o que comer em casa. Minha mãe recebia R$ 250,00 a cada 15 dias. Faltava muita coisa em casa. Eu e o meu irmão, às vezes, ficávamos com fome.
"Eu corria para a casa da minha tia, da minha vó, para comer.
"Foi uma infância sofrida, passei por grandes dificuldades.
"Mas ajuda no crescimento.
"A gente aprende a dar valor às coisas, quando acaba conquistando", disse, na Inglaterra, ao relembrar o quanto sofreu nos seus primeiros anos, em Nova Venécia, no Espírito Santo.
"Vivi em uma área que era fácil se perder no caminho das drogas, no mundo do tráfico, e eu fui uma pessoa abençoada, não me envolvi com isso", repete.
Richarlison se agarrou ao futebol para mudar sua situação de penúria.
Desde os dez anos passou a treinar, se dedicar de corpo e alma ao futebol.
Não conseguiu sequer terminar o Ensino Médio.
Foi, aos 16 anos, jogar no América Mineiro, deixando clube-empresa capixaba, Real Noroeste.
Foi para salvar a família da pobreza.
Sempre valorizou os estudos.
No ano passado, ele soube que três alunos e um professor estavam apelando para uma 'vaquinha' virtual para arrecadar dinheiro. O objetivo: disputar a Olimpíada Estudantil de Matemática, que aconteceria na Ásia.
Eles precisariam de R$ 50 mil para viajarem e se alimentarem durante o torneio.
Só haviam arrecadado R$ 1 mil.
Não iriam.
Até que Richarlison deu R$ 49 mil.
Ele completou a vaquinha.
Campeão da Copa América, também no ano passado, ele foi homenageado na Assembléia Legislativa do Espírito Santo.
Mas em vez de simplesmente receber os elogios, diploma e agradecer, Richarlison quebrou o protocolo.
Seu recado foi direto aos governantes do Espírito Santo.
"Eu não sei como funciona isso, não tenho nem noção, mas eu queria pedir ao governo para investir mais na educação. Eu peço que invistam mais na educação, que é muito importante para o nosso Estado crescer", disse.
Até que enfim um jogador com coragem.
Com olhos para os problemas sociais.
O que é grande exceção.
A CBF não gosta de atletas que se posicionem.
Mas já está ficando claro.
Richarlison continuará a falar, cobrar as autoridades.
Só ele sabe o quanto sofreu com a pobreza...
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