Semifinalista da Libertadores, da Copa do Brasil, líder do Brasileiro. Superstições não deixam Cuca sonhar com seleção
Cuca tem ótimos trabalhos. Ganhou a Libertadores, o Brasileiro. Mas superstições e jeito simples escondem o treinador estudioso, vibrante. E travam seu caminho para pensar em substituir Tite
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli

São Paulo, Brasil
Campeão da Libertadores de 2013.
Vice em 2020.
Terceiro colocado invicto em 2021.
Campeão Brasileiro em 2016.
Cinco estaduais.
Semifinalista da Libertadores de 2021, semifinalista da Copa do Brasil 2021, líder absoluto e grande favorito à conquista do Brasileiro de 2021.
Aos 58 anos, Cuca está em uma luta constante para atingir outro patamar, ser visto de maneira mais respeitosa pelo mercado. E ser, sim, um dos candidatos à sucessão de Tite.
Mas ele enfrenta seu passado.
Marcado por superstições no início de sua carreira em clubes grandes.
Como impedir que o ônibus que leva o time que esteja comandando faça manobras em ré.
Ou ainda pendurar um coração bovino, pingando sangue, na entrada do vestiário. Para exigir que seus jogadores tenham mais "coração" nas partidas.
Religioso ao extremo, segue com sua fé exposta em camisetas durante os jogos. Principalmente os mais importantes.

A entrevista defendendo os jogadores e a diretoria do Botafogo, na final da Copa Guanabara, em 2008, que perdeu para o Flamengo. Levou os atletas e disse à imprensa que seu time era perseguido pela arbitragem e era o "verdadeiro" campeão. Alguns atletas foram às lágrimas. Se eternizou como o "chororô" do Botafogo, que sempre vem à tona nas reclamações desde então.
Só que há outro lado de Cuca.
O estudioso.
O encaixe do milionário elenco do Atlético Mineiro não foi nada fácil. Convencer estrelas a serem peças de uma equipe compactada, com enorme mobilidade com a bola, sufocando o adversário na saída de bola e intensidade na marcação quando é atacada, só foi possível com muito estudo.
Cuca é fã do futebol europeu. De um treinador em especial. O italiano Mauricio Sarri. E absorveu muitos conceitos, principalmente do seu trabalho excelente no Napoli, nas temporadas 2017 e 2018.
O Atlético usa como princípio básico o 4-3-3. A saída de bola é com toques curtos, rápidos, mas seguros. Em triangulações, para que quem tem a bola possa escolher o passe mais seguro. Ao contrário dos times de Fernando Diniz, por exemplo.
A intenção é atrair o adversário, abrir espaços para que seus volantes e meias tenham liberdade de jogar com a cabeça erguida, buscando atacantes que mexem na diagonal ou laterais que abrem como pontas.
A busca é por Nacho, atleta com melhor visão de jogo. Para carregar ou ditar o ritmo do ataque.
Além disso, Cuca obriga seu time a pressionar desde a intermediária adversária, com coragem. Dentro ou fora de Belo Horizonte.

O treinador disseca detalhes técnicos da equipe adversária. Edita pontos falhos e fortes e mostra repetidas vezes aos seus atletas. Sua equipe detalha lances específicos para cada jogador. Como o lado do zagueiro adversário que é mais fraco com a bola dominada. Ou a principal opção de drible do atacante rival.
Cuca não tem conseguido sucesso nos últimos anos por acaso.
Seu último revés feio foi no São Paulo, quando perdeu uma briga com Daniel Alves. Ele queria escalar o jogador onde ele rende, na lateral. Mas o atleta havia combinado com a diretoria que seria meio-campista, até para se poupar fisicamente. E na Copa do Mundo seria lateral. Cuca não concordou, criou um clima pesado. E foi demitido.
No Santos, com um elenco fraco, levou a equipe até a decisão da Libertadores de 2020, perdendo o título para o Palmeiras, em um jogo igual.
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"Eu não me preocupo com seleção brasileira, sinceramente. Eu não me preocupo nem em ser melhor ou pior do que um ou outro treinador. Eu me preocupo em ser melhor do que eu fui ontem, de poder evoluir, de fazer coisas que eu diga ‘poxa, hoje eu trabalhei bem’. Isso é uma evolução que, pra mim, é o suficiente", disse no mês passado.
Cuca quer deixar os títulos falarem por ele.
E por isso hoje, mesmo com o Atlético tendo uma vantagem fabulosa de quatro gols, diante do Fortaleza, na luta por uma vaga na final da Copa do Brasil, ele trabalhou com o mesmo empenho que teria se a partida em Belo Horizonte tivesse acabado em 0 a 0 e não na goleada por quatro gols.
Ele sabe que o Fortaleza do argentino Juan Pablo Vojvoda tem um time moderno, intenso, vibrante, e que teve o primeiro tempo fraquíssimo, atípico, em Belo Horizonte, quando tomou três gols.
"Não tem nada decidido. O futebol é muito perigoso, o sucesso e o fracasso estão muito perto. A gente tem que tomar muito cuidado, humildade, ‘feijão com arroz’, é o que a gente vai fazer."
"Entrar com os dois olhos bem abertos com a disposição igual ao adversário que tem um grande time."
A linguagem direta do treinador, sem a valorização da situações, como cansa de fazer Tite, pesa contra Cuca.
Que tem o direito de sonhar com seleção.
Por seu trabalho.
Mas não ousa nem sonhar.
Por causa do seu passado, suas superstições...
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