Se o Brasil for hexa, Tite não levará a taça a Bolsonaro. Jura que também não celebrará com Lula. 'Não sou comunista. Sou humanista'
Apesar de a CBF tentar a conciliação, técnico da seleção rechaça ir para Brasília festejar, se o Brasil for hexa. Bolsonaro será o presidente, mesmo se perder a eleição. Mandato termina no final de dezembro, depois da Copa
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Ednaldo Rodrigues foi eleito em março de 2022.
Assumiu a presidência da CBF até março de 2026.
O nome da chapa que o levou ao poder, recebendo 137 votos dos 141 possíveis, é simbólico.
"Pacificação e Purificação do Futebol."
Antes dele, os últimos quatro presidentes tiveram de deixar o cargo.
Ricardo Teixeira se afastou, e depois foi banido do futebol, acusado pela Fifa, de receber propina para votar no Catar. O ex-governador de São Paulo, José Maria Marin, virou presidiário. A acusação: receber dinheiro de organizadores de campeonatos na América do Sul.
Marco Polo Del Nero foi banido do futebol, também pela Fifa, pela acusação de suborno e corrupção.
Rogério Caboclo perdeu o cargo, afastado pela Assembléia Geral da CBF. As acusações: assédios moral e sexual contra funcionários da entidade.
Diante desse quadro, o baiano Ednaldo Rodrigues antes mesmo de ser eleito definitivamente, ele tratou de amarrar um acordo de pacificação entre os clubes das Séries A e B. Para que não lutassem na justiça contra a forma de indicação da CBF, com as Federações com votos valendo três vezes mais e com capacidade de eleger o presidente, independente dos clubes.
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Ednaldo propôs que a CBF iria cuidar apenas da Seleção, justamente a sua maior fonte de renda. Os campeonatos nacionais, como Brasileiro e Copa do Brasil, ficariam com a liga que os clubes ainda tentam formar.
Esta é a personalidade de Ednaldo, conciliadora.
Discreto, prometeu vender o helicóptero e o jatinho particular da CBF. Sabe que a entidade segue bilionária, enquantos clubes tradicionais, como Cruzeiro, Botafogo e Vasco, precisam vender suas autonomias para sócios. Buscando escapar da falência.
Ednaldo já conseguiu amarrar vários acordos com televisões, federações, o clima na CBF está muito mais leve para a Copa. Ele quer aproximar a Seleção 'do povo'. Promete que a cobertura do Mundial no Catar não será tão rígida quanto foi no Munidal de 2018. E os jornalistas brasileiros terão mais acesso aos jogadores e ao técnico Tite.
Ou seja, o 'pacificador' presidente da CBF está atuando em várias frentes.
Mas fracassou em uma significativa.
Tite já avisou que não se submeterá, não irá para Brasília com o restante do elenco, se o Brasil ganhar a Copa do Mundo.
Não fará como nas cinco outras vezes que a Seleção foi campeã do mundo.
Como em 1958, que a taça foi levada até Juscelino Kubitschek, em 1962 até João Goulart, em 1970 até Emílio Garrastazu Médici, em 1994 até Itamar Franco e em 2002 até Fernando Henrique Cardoso.
O primeiro turno acontecerá no dia 2 de outubro. E, caso nenhum candidato ultrapasse 50% dos votos válidos, haverá o segundo turno, dia 30 de outubro.
Portanto, excepcionalmente, antes da Copa do Mundo, que começará dia 20 de novembro. E terminará dia 18 de dezembro.
O Brasil se mostra polarizado, dividido, entre Jair Bolsonaro e Lula. Mesmo se Lula for eleito presidente, será Bolsonaro que estará no cargo. Seu mandato termina no dia 31 de dezembro.
Ou seja, Tite não aceita fazer parte da delegação que festejaria a 'entrega' da taça para o presidente do Brasil.
"Uma questão de coerência", repete o técnico.
Em 2018, ele também não entregaria a taça para o então presidente Michel Temer.
Diz que também não aceitaria qualquer link, em caso de conquista, este ano, com Lula, se ele for o presidente eleito.
O treinador vê o Brasil dividido.
E teme que a polarização atinja a Seleção na Copa do Catar.
Com o ressentimento da ala que perder a eleição.
Tite fez parte da deleção do Corinthians que foi levar o troféu da Libertadores para o então presidente Lula, em 2012.
Na conquista da Copa América de 2019, Tite apertou rapidamente a mão do presidente Bolsonaro, na entrega da sua medalha.
Assim que ela foi colocada no seu pescoço, o treinador se afastou, para abraçar o ex-presidente Rogério Caboclo, afastado por assédios sexual e moral.
Nas redes sociais, Tite, foi muito atacado pela maneira com que tratou Bolsonaro.
Ele foi classificado como 'comunista'.
O treinador respondeu em off para jornalistas.
"Não sou comunista, sou humanista. Sou pela democracia."
Ednaldo Rodrigues tentou mas Tite segue firme.
Não irá para Brasília para encontrar o presidente Bolsonaro, se o Brasil ganhar a Copa do Mundo.
Postura definitiva, 'pela coerência', avisou a Ednaldo.
Assim que terminar a Copa do Mundo, com a conquista ou não do Brasil, o treinador estará desligado da delegação.
Ainda no Catar.
O que facilitará politicamente a situação para o presidente da CBF, se a Seleção for hexa.
Os jogadores não terão opção.
Serão obrigados a irem até Brasília.
O costume de o treinador e atletas levarem a taça da Copa do Mundo, para o presidente do país campeão, faz parte da tradição do futebol.
Mas se o Brasil vencer, Bolsonaro não terá Tite a seu lado...
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