Santos tenta desviar o foco da ameaça das organizadas ao presidente. Usa 'não' de Cavani. 22 jogadores não quiseram o clube. Triste
Mais de R$ 400 milhões em dívidas, torcida ameaçando presidente, jogadores fracos e com medo. Ameaça de rebaixamento. Polícia tira partida do Canindé e leva para a Vila Belmiro por 'segurança'. Como Cavani aceitaria?
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
"Você tem até o dia 10 para contratar.
"Ou você contrata ou renuncia.
"E não queremos o Lucas Lima.
"Está avisado."
De maneira direta, o presidente do Santos, Andrés Rueda, ouviu a ameaça de lideranças da Torcida Jovem, a maior organizada do clube.
O ultimato foi dado há cinco dias, quando cerca de 200 torcedores invadiram o CT Rei Pelé.
Ele aconteceu em frente aos jogadores e ao técnico Odair Hellmann.
Desde então, veio o clássico contra o Palmeiras e nova derrota, por 3 a 1, no Morumbi. Quando a partida estava 3 a 0, o time de Abel Ferreira passou a se poupar, diminuiu a intensidade. A vitória conquistada. Situação constrangedora.
O coordenador Falcão e o treinador Hellmann resolveram vir a público e revelar o quanto se tornou péssimo trabalhar no Santos.
"Ouvimos 22 nãos", revelou Falcão.
Ou seja, jogadores não quiseram ser contratados pelo Santos. Clubes já tiveram de recorrer à Fifa para receber do clube do litoral paulista, com dívidas acima de R$ 400 milhões.
Entre eles, o vice-presidente José Carlos de Oliveira confirmou que o clube perguntou ao uruguaio Cavani, estrela midiática, que ganha R$ 5 milhões mensais no Valencia, se ele queria jogar no Santos.
O "não" foi absoluto.
Em vez de desviar o foco das cobranças, a revelação só tornou o ambiente mais pesado, tenso, na Vila Belmiro. Muitos conselheiros não levaram a sério a consulta.
O clube deve mais de R$ 400 milhões, tem uma folha de pagamento modesta, como iria bancar os R$ 5 milhões de Cavani? Impossível.
E o jogador consagrado viria para um clube que namora o rebaixamento há anos?
Ex-atletas santistas já foram perseguidos, com suas famílias, por vândalos infiltrados nas organizadas.
Medo da própria torcida, de calote e de rebaixamento travam as contratações.
Já não bastasse esse clima pesado.
A confirmação de como os torcedores amedrontam, apavoram a direção, principalmente o presidente Andrés Rueda, veio ontem.
Conselheiros santistas o haviam convocado para dar explicações pelo terrível momento santista. Ele aceitou falar.
Só que na Vila Belmiro ficou provado que não eram meros boatos. Os membros das organizadas pressionaram conselheiros e o Comitê Gestor. Queriam ao menos ouvir as explicações e promessas de Rueda. Exigiam estarem presentes na reunião.
E conseguiram a liberação. As maiores 20 lideranças das organizadas estariam lá. Mas sem direito à perguntas. Só ouvir o que Rueda tinha a falar.
Para evitar novo confronto cara a cara com os torcedores, Rueda preferiu ter uma participação virtual. Ou seja, por computador, longe da Vila Belmiro. E dos membros das organizadas.
O que foi visto por conselheiros revoltados como uma demonstração de fraqueza, diante do sério momento enfrentado pelo Santos.
Foram vazados três nomes para as organizadas santistas.
Confirmando que Rueda levou muito a sério o ultimato, a data final de contratação, dia 10.
O veterano volante chileno, Charles Aránguiz, na reserva do Bayer Leverkusen, foi o "de maior impacto". Aos 35 anos, seu contrato termina em junho e ele pode ser liberado antecipadamente.
O segundo, outro estrangeiro. O colombiano Daniel Ruiz, do Millonarios, meia de 21 anos. A negociação caminha por empréstimo até o fim do ano. Com passe estipulado para a compra.
Rueda aproveitou essas negociações avançadas para pedir aos torcedores um voto de confiança em Lucas Lima, meia de 35 anos, que tem já acertada a base de um contrato de produtividade. Ganhará proporcionalmente a sua entrada em campo.
Ele é visto pela cúpula da Torcida Jovem como um "traidor" por ter virado as costas ao Santos, na sua melhor fase, e assinado contrato com o Palmeiras.
O técnico Odair Hellmann e o coordenador Falcão fazem coro a Rueda. Querem que os torcedores aceitem Lucas Lima. Até por falta de melhores opções.
O meia, ex-Palmeiras, está muito preocupado com as ameaças dos torcedores. Só aceita voltar ao Santos se houver o "sim" público das organizadas.
Seriam três reforços para os setores em que o clube mais precisa, o meio-campo.
O clima está tão tenso com a torcida, direção e jogadores que a Polícia Militar resolveu tirar ontem do Canindé a partida contra o São Bento.
O confronto segue marcado para amanhã, às 21h30. Só que na Vila Belmiro. Por questão de segurança. Há medo de que nova derrota do clube, que já é lanterna do seu grupo, provoque tumulto dos torcedores envolvendo o ônibus santista na marginal Tietê, onde é mais difícil de organizar qualquer sistema de proteção.
O atacante Angelo, que discutiu com a torcida, já deixou claro.
Ele pretende aceitar a proposta do Flamengo.
A direção quer convencê-lo a ficar.
Mas a batalha parece perdida.
É nesse clima de medo que o Santos começa 2023...
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