‘Sabíamos que ganharíamos do Palmeiras, na final do Brasileiro. Meu apelido atrapalhou. Eu poderia ter ido mais longe.’ Renato ‘Pé Murcho’
Meia habilidoso, goleador, à frente do seu tempo. Campeão brasileiro com o Guarani. Convocado para a Copa do Mundo de 1982, testemunhou o inesperado fracasso. ‘Choramos muito no vestiário.’ Fez história no São Paulo. Entrevista exclusiva
Cosme Rímoli|Do R7
“Ele foi um dos melhores meias do mundo.
“O problema era só a timidez.
“Ele deveria ter se imposto mais.
“Faria história.”
A análise é de Zenon, excelente jogador do Guarani e do Corinthians.
Ele resume o futebol de Renato, conhecido com o cruel, e injusto, apelido de Pé Murcho.
“O responsável por isso foi o Juninho Fonseca, ex-zagueiro do Corinthians. Ele sofria comigo, quando eu estava no São Paulo. Estávamos na Seleção Brasileira. Errei um chute e se aproveitou para brincar. Eu fiquei irritado. Bastou. O apelido pegou. Mas sei que me atrapalhou. Travou minha carreira, que foi ótima, mas poderia ter ido além”, desafava, em entrevista exclusiva.
Renato tinha um futebol à frente do seu tempo. Com arrancadas fulminantes, dribles objetivos, e, sim, chutes fortes de fora da área. Seu estilo era muito parecido com o de Kaká. “O Juninho Fonseca me traumatizou. Passei a treinar ainda mais arremates. Virei especialista. Marquei inúmeros gols fora da área. Mas ninguém se esquecia do apelido.”
Dirigentes do Exterior ficavam tensos com o ‘sobrenome’ Pé Murcho. Ele sabe o quanto atrapalhou. Renato surgiu com enorme talento na meia direita. Quase ficou no Palmeiras. Mas acabou no inesquecível Guarani campeão brasileiro de 1978.
“Nosso time era fortíssimo. Se completava. Foi além de qualquer expectativa. O Carlos Alberto Silva montou uma equipe moderna, competitiva, intensa, fulminante nos contragolpes. Sabíamos que iríamos ser campeões brasileiros. Era certeza que venceríamos o Palmeiras na final. Nosso time não tinha rival na época.”
Carlos Alberto Silva o levou para o São Paulo, em 1980. Foi bicampeão paulista. Telê Santana o levou à Copa do Mundo de 1982.
“Naquela época não dei muita sorte. Porque era reserva especificamente do Zico. Eu senti que não entraria no time. Cheguei a pedir para o Zico para entrar cinco minutos, ter o gostinho de ter entrado na Copa. Mas ele disse ‘não’. Queria ser o artilheiro do Mundial e o melhor jogador. O que eu poderia fazer? Assisti de fora.”
E chorou com os demais companheiros, na derrota inesperada do Brasil para a Itália, que tirou a equipe da final da Copa.
“Nosso time era fantástico. Mas o Telê deu liberdade para o Paolo Rossi. Ele jogou como quis. Marcou três gols e fomos eliminados. Choramos muito no vestiário.”
Se julgou injustiçado no São Paulo e na Seleção.
E foi.
“Fui dispensado no auge pelo Cilinho. Ele quis fazer a renovação do elenco. Eu tinha 28 anos. Era ‘velho’. Fui para o Atlético Mineiro, estava bem demais. E o Telê, que chegou da Arábia, não sabia quem jogava bem no Brasil. E não me levou. O Cláudio Coutinho, que era genial, estava me convocando. Tinha de estar no grupo de 1986. Foi uma injustiça.”
Acabou sendo pioneiro no Japão, no Nissan Motors, que depois virou Yokohama Marinos. Acabou a passagem no Kashiwa Reysol. Encerrou a sua importante carreira na Ponte Preta e Taubaté. “Fui muito feliz. Comecei ciclos históricos. Minha vida no futebol foi muito intensa.”
Renato a detalhou nesta conversa obrigatória.
Ela está no canal Cosme Rímoli, no youtube.
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