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Cosme Rímoli - Blogs

Ronaldo, Cafu, Kaká, Ronaldinho, Dunga? A explicação pela ausência, pelo desprezo dos campeões mundiais no adeus a Pelé

A imprensa mundial não entendeu a ausência dos tetracampeões e pentacampeões mundiais no velório e enterro de Pelé. Motivo fútil. Mágoa pelas críticas que Pelé fez antes das Copas dos EUA e do Japão

Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli

Jogadores campeões em 2002 e 1994 não apareceram para homenagear Pelé. Desprezo imperdoável
Jogadores campeões em 2002 e 1994 não apareceram para homenagear Pelé. Desprezo imperdoável

São Paulo, Brasil

Como tudo na vida de Pelé, até o fim da sua vida não teve segredo.

Há um mês sua saúde entrou na fase final do declínio. Divulgado para todo o mundo. O câncer no cólon havia se espalhado por outros órgãos. A quimioterapia já não funcionava. 

A agonia do Rei chegou ao Catar, onde a Copa era disputada. Assim como ao mundo todo. 


Até que, no dia 29 de dezembro, ele morreu.

Ao contrário do que acontece nos Estados Unidos e na Europa, o corpo de Edson Arantes do Nascimento foi embalsamado. Ou seja, ele poderia ter sido exposto por mais tempo, para que o jogador recebesse todas as homenagens que merecia.


Pelé chegou ao velório, como previsto, às 10 da manhã de ontem, dia 2.

E foi assim até hoje, às 10 horas, dia 3 de janeiro. Desfilou em carro aberto por Santos, passou em frente à casa de sua mãe, dona Celeste, com seus 100 anos. 


Até que chegou ao cemitério vertical, onde escolheu descansar. Seu túmulo será no 1º andar, cercado em um justo memorial. 

A história do melhor jogador de todos os tempos foi encerrada.

Houve espaço de sobra para que quem quisesse se despedir fosse até a Vila Belmiro.

Como o presidente da Fifa, Gianni Infantino...

Mas abriu espaço para uma pergunta que não se pode calar.

Por que os jogadores importantes deste país não estiveram presentes na última despedida, a demostração de respeito, de gratidão a tudo o que Pelé fez dentro e fora de campo por eles?

Dentro de campo já foi explorado até a exaustão. Jogador fundamental para o Brasil vencer a primeira Copa, acabando com o complexo de vira-latas do futebol deste país, que só perdia Mundiais, desde 1930. Até o que promoveu em casa, em 1950, foi motivo de frustração, com a derrota na final para o Uruguai.

Tudo mudou de vez em 1958, graças a um garoto de 17 anos e oito meses. Depois, em 1962, o Brasil já era encarado com muito respeito. E, com Pelé machucado, Garrincha assumiu o protagonismo. Depois, em 1970, a conquista definitiva da Jules Rimet, no México.

1.283 gols, dois Mundiais, duas Libertadores, dez Paulistas, campeão norte-americano pelo Cosmos. Todos os dados decorados.

Pelé fez com que os jogadores nascidos neste país passassem a ser muito mais valorizados, o que já é um feito gigantesco.

Mas fora de campo ele foi fundamental, em 1998, ao assumir o Ministério Extraordinário dos Esportes, nomeado pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. FHC precisava de alguém com a envergadura de Pelé para enfrentar os dirigentes dos clubes e mudar a legislação esportiva, acabar com a Lei do Passe, que prendia os atletas às equipes.

"Vou acabar com a escravidão", me prometeu, em Brasília, em uma entrevista, para mim, histórica.

E assim foi. 

Os jogadores que desfrutam a possibilidade de enriquecer na Europa ou em qualquer lugar do mundo, ou até mesmo no Brasil, devem a Pelé não serem "escravos" de clube algum. E poderem ser transferidos para onde quiserem.

Explicado tudo isso, agora, a parte mais importante deste texto.

Por que Ronaldo Fenômeno, Cafu, Dunga...

Roberto Carlos, Marcos, Rivaldo...

Romário, Bebeto, Ronaldinho Gaúcho...

Kaká, Taffarel, Jorginho não apareceram no velório?

Os jogadores atuais da seleção brasileira, que decepcionaram no Catar, têm a desculpa de que estão disputando campeonatos europeus. Se bem que poderiam tomar um voo logo após suas partidas, vir na segunda-feira, dar adeus a Pelé e ir embora na madrugada de hoje. 

Era uma questão de entender a obrigação histórica que tinham em relação a Pelé. Mas assessores, agentes e pessoas que vivem à custa de seus talentos não quiseram explicar. 

Neymar foi proibido de vir pelo PSG. Por conta de tudo acontecer no Réveillon, e a imprensa francesa já cobrava o clube para não liberar o atacante para voltar ao Brasil, depois de sua infantil expulsão contra o Strasbourg, no dia 28 de dezembro. E a suspensão era justamente contra o Lens, no dia 1º de janeiro.

Nas festas de fim de ano, ficou comum Neymar voltar ao Brasil para desfrutá-las. Teve de ficar na França.

A grande maioria dos demais se limitou a postar uma foto de Pelé na internet e escrever alguns elogios a ele. Ação que leva três minutos, se tanto, e vida que segue.

A ingratidão, o egoísmo e a alienação da atual geração das estrelas brasileiras não são novidade. Até por conta do fracasso no Catar.

Mas a desculpa dos tetracampeões, dos pentacampeões, devidamente aposentados, a não dar adeus a Pelé remete a algo que parecia esquecido.

Só que não estava.

Ilustres aposentados no longínquo Catar. Mas não 'puderam' ir à Vila para dar adeus a Pelé
Ilustres aposentados no longínquo Catar. Mas não 'puderam' ir à Vila para dar adeus a Pelé

Os palpites de Pelé sobre os possíveis vencedores da Copa de 1994 e 2002.

O melhor jogador de todos os tempos não se eximia de entrevistas e não conseguia fugir da previsível pergunta sobre quem era o favorito a vencer os Mundiais e como o Brasil chegava para as competições.

Em 1994, a seleção brasileira chegou desacreditada aos Estados Unidos. Fez, até então, a pior Eliminatória de sua história.

E Pelé cravou que a Colômbia deveria ser a campeã. Não acreditava no Brasil.

Suas palavras irritaram, magoaram os jogadores da seleção. Principalmente Romário. Quando o time de Parreira e Zagallo conseguiu o tetra, não houve perdão a Pelé.

Em 2002, o mesmo enredo.

O Brasil mal nas Eliminatórias. Pelé crava que Argentina e França tinham condições de ser campeãs e não acreditava no time de Felipão.

Outra vez, foi motivo de raiva dos atletas.

A mágoa persistiu.

E veio à tona por onde menos se esperava.

Galvão Bueno, que era a voz da seleção, quando a Globo mantinha o monopólio do futebol, sempre teve muito acesso aos bastidores do Brasil. Tinha acesso a segredos de treinadores e atletas, como cansa de repetir no seu podcast.

E ele deixou escapar de forma espontânea, no dia 19 de novembro de 2008. Na inauguração do estádio Bezerrão, no Distrito Federal, em pleno microfone da emissora carioca.

Pelé foi escolhido para dar o pontapé inicial na partida.

E Galvão descreveu assim o que aconteceu.

"Andou tendo uma época de certa birra dos jogadores da seleção com Pelé. Os jogadores não estavam com a grandeza suficiente para entender o que significa esse homem que está no centro de campo.

"Um homem querido, adorado, reverenciado, reconhecido no mundo inteiro. E Deus quis que ele nascesse no Brasil, nascesse em Três Corações, em Minas Gerais. E que subisse ao máximo da glória com as camisas do Santos e da seleção brasileira. 

"Aí está Edson Arantes do Nascimento, o Rei Pelé, o maior jogador de todos os tempos. E que bonito ver cada um dos jogadores da seleção brasileira indo abraçar Pelé.

"Esse momento estava faltando no futebol brasileiro.

"Uma coisa que, quem ama o futebol, ficou muito triste de ver que não quiseram receber das mãos de Pelé a taça de 2002."

Prever que Colômbia venceria 1994 e Alemanha ou França em 2002 provocou mágoa dos campeões
Prever que Colômbia venceria 1994 e Alemanha ou França em 2002 provocou mágoa dos campeões

Galvão revelou até onde chegava a mágoa do time de Felipão.

Pelé acabou sendo uma das pessoas que entregaram a taça, ao lado do ex-presidente da Fifa Joseph Blatter.

Felipão foi direto ao jornal chileno La Tercera, ao tirar férias com a família no Valle Nevado, logo após a Copa do Japão.

"O Pelé não sabe nada de futebol. Se você quiser ganhar alguma coisa, faça exatamente o oposto que ele disser. Tudo o que analisa acontece ao contrário."

Esse era o sentimento da Família Scolari.

Antes, o líder da seleção no tetra, em 2005, mostrou sua mágoa.

"O Pelé calado é um poeta", disse, entre outras ofensas.

Eu estava em Doha, capital do Catar. Durante a Copa houve uma homenagem a Pelé, que estava doente, promovida pela Conmebol. 

Ronaldo Fenômeno, Kaká, Roberto Carlos, Cafu e Rivaldo foram convidados.

Não apareceram.

Quem discursou em homenagem a Pelé foi Zanetti, histórico lateral-direito.

Da Argentina!

Constrangedor.

Mauro Silva, tetra e vice da Federação Paulista de Futebol, foi exceção no velório.

Os demais que venceram pela quarta e quinta vez a Copa do Mundo com a camisa amarela que Pelé consagrou não apareceram.

Jogador nenhum deste país ou do mundo tem três Copas. Comparação dói em alguns
Jogador nenhum deste país ou do mundo tem três Copas. Comparação dói em alguns

Para espanto de centenas de jornalistas do exterior que vieram cobrir o velório.

Mas os grandes jogadores do Brasil decidiram assim.

Virar as costas ao melhor de todos.

A quem abriu os caminhos para que ficassem milionários.

Tinham "outros compromissos".

Desprezo constrangedor.

Mas é apenas a realidade...

Torcedores e familiares se despedem de Pelé nas últimas horas do cortejo em Santos

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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