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Cosme Rímoli - Blogs

Romário, champanhe, mulheres. Soco em diretor da CBF. É tetra...

Os bastidores da conquista do título de 1994. 25 anos depois. Revelados por quem esteve nos treinos, jogos, vôos: os 'inimigos' da CBF. Os paulistas

Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli

Romário responsável pela conquista do tetra. Depois, champanhe, mulheres
Romário responsável pela conquista do tetra. Depois, champanhe, mulheres

São Paulo, Brasil

"Não fecharam direito as portas do Butantã.

"Chegaram as cobras venenosas."

Era assim, com a raiva escondida na brincadeira, que o assessor de imprensa da CBF, Nelson Borges.


Ele se dirigia a mim e ao meu parceiro Luís Antônio Prósperi.

Borges e Ricardo Teixeira detestavam a imprensa paulista.


Foram todos os dias de cobertura, entre 1993 e 1994.

A mesma provocação.


Acompanhamos de muito perto as Eliminatórias mais sofridas da Seleção.

Estávamos nos jogos, treinos, vôos.

As críticas foram pesadas, de acordo com o fraco futebol.

Os atletas não passaram a entrar de mãos dadas nos jogos à toa.

Sentiram as cobranças.

Mas foram elas que impulsionaram a conquista do tetracampeonato mundial.

O fim do maior jejum sem conquistas do Brasil.

O país vencia uma Copa depois de 24 anos.

Fui pivô involuntário da crise entre Parreira e Zagallo com Romário.

Participei da surreal festa do tetra.

Com direito a briga, soco na cara de dirigente.

A conquista completa 25 anos hoje.

Escrevi sobre os bastidores da campanha.

Do que vivi.

Vou destacar os episódios mais surreais.

O primeiro deles, a materialização do ódio entre a CBF e a imprensa paulista.

Capítulo 1

A festa e a briga

"Luxoso hotel Marriott, em Furletton, cidade próxima a Los Angeles.

22h30.

Era uma balbúrdia generalizada.

Música no último volume.

Centenas de pessoas cantando, gritando, se abraçando no salão de festas, de motivo country.

Quase todas elas de amarelo.

Passa por mim, um sujeito com um copo cheio de gelo e uísque.

Cambaleante, embriagado.

Só o reconheço quando se senta e começa a encarar os jornalistas.

É Ricardo Teixeira, então presidente da CBF.

"Ganhamos essa porra, apesar da paulistada filha da pu...!", diz, olhando para um fotógrafo carioca.

Queria seu apoio.

O que recebeu foi flashes na cara.

Teixeira se senta para não cair.

E segue bebendo, ficando com as bochechas vermelhas e os olhos embaçados.

Totalmente embriagado.

Mas a minha atenção fica voltada para o que acontece perto do bar.

Um homem sem camisa está em cima de uma mesa dançando.

Segura uma garrafa de champanhe, que denuncia sua baixa estatura. 

Com a alegria digna de Calígula, antecipando o que viria em seguida.

Ele se diverte distribuindo goles da bebida francesa.

Nas bocas de três garotas que circundam a mesa.

A festa particular estava garantida.

Este baixinho 'caliguliano' era Romário.

Mas, contrariado, sou obrigado a parar de acompanhar a cena libidinosa.

"Paulista babaca, filha da pu..."

As ofensas são feitas com ódio.

O troco vem ainda mais alto.

"Babaca e filha da p... é você"

 Palavrões, trash talk que envergonharia Connor e Mayweather.

O confronto no hotel Marriott envolveria dois quarentões.

De um lado, obeso, flácido e alcoolizado, Marco Antônio Teixeira.

Tio de Ricardo e, em bela demonstração de nepotismo explícito, secretário-geral da CBF.

Peso pesado.

Do outro, magro, veias do pescoço saltadas pela raiva, Prósperi.

Peso médio.

Ambos mineiros.

Mas ele entende o contexto de 'paulistas filho da pu...'

Vem a encarada.

Marco Antônio não suporta receber o troco do jornalista.

Fecha o punho direito e, surpresa, dá um direto no nariz de Prósperi.

Ele está com a guarda baixa, não faz o pêndulo de cabeça, que o livraria do impacto do soco.,

Não imaginava que as palavras se transformariam em ação.

Logo seu nariz começa a sangrar.

Mas Luiz Antônio não deixa por menos.

Reage instantaneamente.

A mão direita sai de baixo.

E acerta um upper.

O soco sobe pela boca até o nariz de Marco Antônio.

Arrebenta seus óculos.

A haste que segurava a lente provoca um corte no início de sua testa.

A reação de Marco Antônio foi inesperada.

O dirigente desiste da luta.

Senta em uma cadeira.

E começa a chorar.

Vitória por nocaute, e lágrimas, de Prósperi.

Vejo que seguranças da CBF e do hotel se aproximam de Luiz Antônio e o arrasto para o banheiro para lavar o rosto e se acalmar.

Outros jornalistas também são solidários.

E formam um bloco que evita a provável deportação.

 Mesmo assim, os policiais e seguranças nos cercam.

E somos expulsos do Marriott.

Saímos no lucro.

No meio da confusão, vejo Romário do outro lado do salão de festas, apertando o botão do elevador.

Sem camisa e abraçado pelas três garotas.

E por nova garrafa de champanhe.

A comemoração pelo tetra continuaria.

E eu, abraçado com o Prósperi.

Acompanhados por seguranças e policiais.

Iríamos a um fast food comer sanduíches.

Beber refrigerante.

Só anos depois percebemos a cena histórica.

Que fechou a caótica cobertura do tetra...

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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