Rafinha acaba com a pose. 'Fla não se preparou para perder Jesus'
De nada adianta o clube montar uma subsede em Lisboa para escolher novo treinador europeu. Jamais a diretoria acreditou que Jesus fosse embora
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Nunca na história desse país um clube anunciou que montaria uma 'subsede' na Europa, para escolher seu novo treinador.
Porque no território brasileiro não existe ninguém com a capacidade de conduzir seu time.
Assim como também qualquer outra equipe teve a capacidade de influenciar o presidente da República. Não a ponto que ele criasse uma Medida Provisória para beneficiá-la.
Nem, infelizmente, enfrentou um incêndio terrível, na sua concentração, no seu dormitório improvisado, que matou dez meninos e feriu gravemente outros três, que jogavam na sua base.
E ainda enfrentou o Ministério Público e o Ministério do Trabalho não aceitando pagar uma indenização coletiva. E decidiu negociar, por menos da metade do proposto pelo MP e pelo MT, com cada família.
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Nenhum outro clube teve força, em pleno auge da pandemia, da recessão, do desemprego, de conseguir patrocínio estatal, do banco da Capital Federal do país.
Mas por trás de todo esse 'outro patamar', houve uma falha primária, tosca, inadmissível.
Acreditar que Jorge Jesus não viraria as costas para o Flamengo e rumaria a Portugal, levando todo o planejamento, as promessas de manter a hegemonia, o domínio do clube na América do Sul, no Brasil, ganhando de novo a Libertadores e o Brasileiro. E não deixando escapar o Mundial.
"Nós temos que ser realistas: nessa parte o Flamengo falhou. Ninguém imaginava que ia acontecer isso, ninguém pensava que ele ia sair, ainda mais tendo renovado um mês antes."
“Não ter uma segunda opção caso ele rescindisse ou voltasse para o país dele, o Flamengo não se preparou para isso”
“Agora é o seguinte: esse é o problema. É complicado pegar um time na situação que a gente está porque tudo que acontecer agora vai ficar na sombra do cara."
"O Jorge Jesus teve mais título que derrota."
"O trabalho dele foi f..., foi demais."
"Agora sendo realista: nenhum técnico que vier para o Flamengo vai querer manter a linha dele."
Rafinha teve a coragem de falar em público, à ESPN, o que os jogadores, conselheiros e até membros da diretoria comentam de forma sigilosa, entre si.
Por trás de toda a pose, o Flamengo terá de começar um novo trabalho com outro treinador do zero.
Seja ele quem for.
O vice-presidente de futebol, Marcos Braz, e o diretor executivo de futebol do clube, Bruno Spindel, dizem que querem analisar os candidatos à sucessão de Jorge Jesus pessoalmente.
"Olho no olho."
Deixam vazar que de Lisboa ainda podem viajar para Espanha, França, Inglaterra, Itália, Alemanha, Holanda. Onde for, desde que o novo treinador seja europeu.
"Mas, poxa, no Brasil existem tantos treinadores bons, né? Sendo realista, os que tem muita qualidade estão tudo empregados. Não é porque o Jesus que é europeu deu certo que o próximo técnico precisa ser europeu."
"Não, eu acho que a diretoria tem que buscar um treinador que tenha as mesmas ideias que o clube tem, que siga a nossa linha de trabalho que daí eu acho que dá certo."
"Não é porque o Jesus deu certo que o treinador precisa ser gringo", dispara Rafinha.
Ele é um dos grandes líderes do Flamengo.
A dois meses de completar 35 anos, ele sabe bem o que fala, quando destaca o inesperado retorno de Jorge Jesus a Portugal.
Ele mesmo tinha proposta para seguir no Bayern de Munique.
Seus dois primeiros filhos de um casamento desfeito estavam no Brasil. E, no seu novo relacionamento, Fernanda Bellafronte ficou grávida. Ele surpreendeu os alemães avisando que voltaria ao país e não queria ficar mais um ano no Bayern.
Rafinha tem acompanhado o noticiário.
Sabe quais são, até agora, os principais candidatos à sucessão de Jorge Jesus.
Carlos Carvalhal, Leonardo Jardim e Domènec Torrent.
E ele tem uma torcida clara.
O ex-auxiliar de Pep Guardiola, Torrent.
“É um cara que dispensa comentários, eu conheço bem e posso falar com propriedade porque é um cara com quem eu trabalhei. Não só eu, né? Ele fez muita gente no Bayern crescer muito. E agora ele está de primeiro treinador, aí não tivemos mais contato. Mas o tempo que trabalhamos juntos dispensa comentários."
Mas Rafinha que fique no aguardo.
Braz e Spindel precisam ter o 'olho no olho' com todos os candidatos. Ou viajar, dentro da Europa, para conversar com outros.
A direção do Flamengo disfarça.
Mas paga pela empáfia.
Fez um péssimo contrato de renovação com Jorge Jesus.
Cedeu ao português e sua exigência de multa baixíssima, caso o Benfica quisesse levá-lo.
A cúpula se submeteu aos desejos de Jesus, imaginando que jamais ele iria embora, abandonaria o Flamengo, o clube de 'outro patamar'.
Foi o que fez, sem constrangimento.
E agora, os dirigentes têm de buscar um novo técnico, sem a menor ideia do que pode acontecer.
Mas ninguém admite a postura amadora.
Foi preciso Rafinha ter a coragem.
E escancarar a patética situação...
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