Pela multa e para preservar a imagem, Carille não pede demissão
Depois de um dia inteiro de expectativa, Carille decidiu com seu empresário. Segue no Corinthians. Pelo menos estará dirigindo o time contra o Flamengo
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Fábio Carille decidiu continuar no Corinthians.
O técnico estava decidido a ir embora.
Pedir demissão, abrir mão da multa de R$ 3,8 milhões.
Mas foi convencido por seu empresário Paulo Pitombeira. E voltou atrás na sua decisão. Seguirá no clube, pelo menos, até o jogo de domingo, contra o Flamengo, no Maracanã.
O jogo é visto como a chance de uma reviravolta na crise.
Afinal, derrotar o líder, diante de mais de 65 mil torcedores, seria espetacular.
Mas há o outro lado, se o time, por exemplo, for goleado, a situação ficaria insustentável.
Já são sete partidas sem uma mísera vitória corintiana.
A quinta-feira inteira foi de expectativa de demissão. O blog ligou para várias pessoas ligadas a Andrés Sanchez. Mas elas não tinham uma resposta conclusiva. Não sabiam o que aconteceria.
Apesar da pior fase da carreira de Carille, dos protestos dos torcedores em Maceió e no CT corintiano, com direito a conversa com os líderes do elenco, a decisão era toda do treinador.
O Corinthians já está com sérios problemas financeiros. Com R$ 700 milhões em dívidas. Prejuízo calculado em 2019 de R$ 170 milhões.
Andrés não quer ter de pagar R$ 3,8 milhões de multa demitindo Carille. O contrato do treinador vai até o final de 2020. Ela já foi de R$ 6 milhões, mas foi diminuindo com o passar dos meses.
Com seus palavrões e assumindo ter vergonha do futebol do time, o presidente encurralou Carille, depois da derrota para o CSA.
Nervoso, o treinador havia se recusado a dar entrevista coletiva após a partida. O que foi lamentado pelo presidente, membros da diretoria e conselheiros. Gesto que remeteu à pura falta de postura de comandante. Lastimável.
Mas talvez tenha sido fundamental ao técnico. Ele estava disposto a sair, pedir demissão, abrir não dos milhões de reais a que tem direito. Tamanho é o constrangimento pelo péssimo futebol do Corinthians.
Só que com o passar das horas e pela longa conversa que teve com seu agente Paulo Pitombeira, o técnico decidiu ficar.
Há muito dinheiro em jogo.
E mais do que isso, a imagem de Carille, 46 anos, ficaria queimada em relação a outros clubes grandes.
Desistir, faltando nove rodadas para o Brasileiro acabar, seria um sinônimo de covardia imperdoável.
Agora, quando o campeonato acabar, a história pode ser outra. O treinador quer ter a certeza de que terá um elenco muito mais forte em 2020. Porque sabia que seus atletas seriam limitados neste ano.
A decisão de Carille, de seguir como técnico do Corinthians, não agradou a maioria dos conselheiros. Mas eles admitem que seria quase impossível contratar um grande treinador agora.
O melhor seria depois do Brasileiro.
Para fazer a pré-temporada com o elenco.
Os nomes de Sylvinho e Tiago Nunes são os mais constantes no clube.
Carille ainda tem defensores ferrenhos, como Duílio Monteiro Alves.
Mas todos que convivem no futebol do Corinthians admitem. O treinador voltou muito diferente da Arábia Saudita. Ele saiu humilde, alegre, amigo dos jogadores. Retornou defendendo a hierarquia, arrogante com a imprensa e pouco afeito à brincadeiras no ambiente de trabalho.
Como o título é impossível, Carille tem uma missão: classificar o clube para a Libertadores de 2020.
O clube é o sétimo do Brasileiro.
O primeiro grande teste já será domingo, o líder Flamengo, no Rio.
Carille fará as últimas nove partidas sabendo que o clube precisa reagir. Faz campanha pífia no segundo turno da competição nacional.
O técnico nunca teve tanta gente no clube desejando sua saída.
A chance de recuperação será no Maracanã.
Carille sabe que, se vier outra derrota, a situação pode ficar insustentável.
O treinador ganha R$ 700 mil mensais...
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