Para tentar sobreviver, Luxemburgo implanta o 'regime do terror' no Corinthians. Afasta jogadores e deixa outros ameaçados
Depois do vexame contra o Botafogo, o técnico de 71 anos sabe que a pressão para sua saída cresce. E decidiu banir Balbuena, Du Queiroz e Júnior Moraes do elenco. Tensão e medo para partidas decisivas do Corinthians, no ano
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Muito preocupado com o clássico de amanhã, contra o São Paulo, na arena de Itaquera, Vanderlei Luxemburgo decidiu.
Pôs em ação o "choque" prometido à direção do Corinthians.
Para motivar o time contra o grande rival, que nunca venceu na Neo Química Arena, e ainda salvar a temporada, a decisão foi drástica.
E não tem nada a ver com tática.
O que o treinador de 71 anos decidiu foi pressionar psicologicamente o elenco.
E mostrar sem dó o que acontecerá com quem não render.
Du Queiroz, Balbuena e Júnior Moraes já foram afastados do restante do grupo. Estão treinando com Luan. O quarteto está isolado e não atua mais no Corinthians.
O português Rafael Ramos e o colombiano Cantillo devem ser os próximos da lista. Só entrarão em campo como última opção.
Maycon e Giuliano também estão em estado de alerta.
O veterano treinador optou pelo "regime do terror".
É uma manobra para tentar manter seu emprego no Corinthians.
Bastaram três partidas, com o time jogando muito mal, para que o trabalho de Luxemburgo ganhasse enorme resistência por parte de conselheiros e chefias das organizadas, com exceção do comando da Gaviões da Fiel, que tem sido o pilar da atual diretoria.
Aos 71 anos, Luxemburgo tem a exata noção de que uma nova demissão, depois das 15 seguidas que recebeu na sua longeva carreira, pode significar o adeus definitivo. E ele está fazendo tudo para sobreviver.
Demitiu o preparador físico Flávio de Oliveira.
Antônio Mello, 75 anos, e companheiro de Luxemburgo de décadas, assumiu o comando físico da equipe.
Luxemburgo decidiu apelar para as palestras motivacionais, que evocam o método que aprendeu com a psicóloga Susy Fleury.
E que tem como base um livro, o Inteligência Emocional. Lançado em 1995 e que foi decorado por Vanderlei Luxemburgo. Grande parte do seu sucesso entre a metade da década de 1990 e a metade da primeira década dos anos 2000 deve ser creditada à adaptação do que leu ao futebol.
Só que as condições mudaram. Os jogadores se tornaram mais poderosos no processo. Não aceitam a presença de um técnico ríspido. Os agentes e assessores dos atletas viraram influentes. Qualquer cobrança mais forte, como palavras mais duras, gritos, socos na mesa, acaba chegando aos jornalistas.
Fernando Lázaro e Cuca sabiam que Du Queiroz já estava negociado com o Zenit. E tem de se apresentar apenas no dia 1° de junho. Balbuena jogaria por empréstimo até o fim de junho. E que Júnior Moraes tem contrato até o fim de 2023.
Mas os dois antecessores de Luxemburgo queriam algo mais sutil e temiam até a reação do grupo de atletas. Sabiam ser arriscado esse "regime do terror".
O presidente Duilio Monteiro Alves não teve outra saída a não ser apoiar o técnico. Ele também precisa de resultados, de vitórias. Seu grupo político, comandado por Andrés Sanchez, está muito pressionado pela oposição. A eleição no Corinthians acontecerá no fim do ano. E o clube precisa reagir no Brasileiro. Corre perigo em jogos eliminatórios contra o Atlético Mineiro. Além de estar em situação difícil na Libertadores.
Por isso Duilio disse "amém" às decisões de Luxemburgo.
Mas a cobrança será forte já amanhã, diante do São Paulo.
Todo lado situacionista corintiano não aceitará uma derrota.
Se ela ocorrer, Luxemburgo ficará em uma situação delicadíssima.
Tem imensa chance de deixar o Corinthians na zona de rebaixamento do Brasileiro.
E, já na quarta-feira, enfrentará o Atlético Mineiro, em Belo Horizonte, na primeira partida pelas oitavas de final da Libertadores. Depois, o Flamengo, no próximo domingo, dia 21, no Maracanã. Três dias depois, jogo de "vida ou morte", contra o Argentino Juniors, em Buenos Aires, pela Libertadores. Nova derrota deixará o Corinthians praticamente eliminado das oitavas da competição internacional.
Luxemburgo resolveu tornar a repetir o que fez em mais de 43 anos de carreira como técnico: em momentos delicados, cria um "fato novo" para desviar a atenção da crise.
Afastar jogadores corintianos, em 2023, é uma estratégia arriscadíssima.
Em vez de motivar, o técnico deixou o restante dos atletas preocupado, tenso.
E muitos são próximos de Balbuena, Du Queiroz, Júnior Moraes.
Agentes ligados ao Corinthians dizem, "em off", que o trio não merecia esse tratamento.
O resultado do "regime do terror" será medido amanhã.
Diante do São Paulo, em Itaquera.
Em Belo Horizonte, contra o Atlético Mineiro.
No Maracanã, diante do Flamengo.
E contra o Argentino Juniors, em Buenos Aires.
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