'Para desgraça dos inimigos, ainda pretendo seguir por um bom tempo.' Ronaldo enfrenta quem o quer fora do Valladolid
Direto da Espanha, a análise do principal acionista do Cruzeiro, no Valladolid: Ronaldo. Fora de campo equilibrou financeiramente o clube. Dentro do gramado, teve de suportar o rebaixamento
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
"Mais do que sua legendária história e da força sobrenatural de suas virtudes como jogador, Ronaldo Nazário queria transformar a empreitada como presidente do Real Valladolid em um legado para a cidade e seus torcedores."
"Quando comprou o clube, em setembro de 2018, sem ajuda de nenhum investidor ou sócio local, repetiu com insistência exagerada esse objetivo – deixar um legado."
"Três anos depois, rebaixado à Segunda Divisão depois de duas temporadas escapando por pouco, repete o mantra, mas sem esconder que viveu, como todos em Valladolid, um choque de realidade."
"Como se trata de Ronaldo, claro que o nível de exigência seria maior, mas nas duas primeiras temporadas o Fenômeno até que se saiu bem. Discreto como dirigente, não criou casos com a Liga de Clubes em um período muito duro, em especial com os limites impostos pela pandemia, e fez o clube dar um salto ao sanear as finanças e terminar 2020 com números azuis e boas perspectivas, apesar do modesto grupo de jogadores."
"Lançou as bases para a construção de uma Cidade Esportiva de nível Série A, limou dívidas e apresentou orçamentos realistas e ambiciosos – todos cumpridos."
"Quando fez a compra, pagou 30 milhões de euros por 51% do clube. Hoje é dono de 85%."
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"Mas, como ele mesmo disse logo após o rebaixamento, em maio deste ano, 'esto es fútbol, amigo', e quem perde o jogo perde também a razão."
Ronaldo procurou ser fiel a seus princípios.
"No período mais duro da temporada passada, quando tudo parecia claro sobre a queda do time, manteve o técnico Sérgio Gonzales enquanto a cidade clamava por sua demissão, resistiu às pressões da imprensa e da torcida, peitou os colegas do conselho e não teve nenhum problema em reconhecer os erros ao final."
"Passou, isso sim, momentos bem parecidos com aqueles do Ronaldo jogador. No momento em que o time naufragava, foi flagrado em um convescote em Formentera, nas Ilhas Baleares, no dia seguinte a uma derrota decisiva e sentiu o peso das torcidas organizadas do Valladolid, que pediram oficialmente sua destituição por sair de festa enquanto o navio ia a pique."
"Sua resposta foi direta, ao pedir: 'Me ataquem por minha gestão como presidente, mas não se metam na minha vida, por favor'."
"Passado o tsunami do descenso, Ronado foi mais uma vez coerente e objetivo em suas manifestações e atos. Tem dito que, apesar do prejuízo evidente com a queda, seu clube ainda tem um orçamento top 5 na Segunda Divisão, o que assegura um bom desempenho para conseguir o acesso direto como um dos dois primeiros colocados, ou disputar o playoff pela terceira vaga se terminar até em sexto lugar."
"Hoje, ocupa a quinta colocação, a dois pontos do vice-líder Eibar."
"O técnico contratado para o lugar de Sérgio Gonzalez é um conhecido ‘peladeiro’ dos times humildes na Espanha, Juan José Rojo Martín, o Pacheta. O clube manteve a maioria do elenco mais experiente e tem ainda uma reserva de caixa para contratar em janeiro. O presidente esteve na Itália há duas semanas, sondando o mercado."
"Ao insistir que para jogar na elite é preciso ter uma estrutura de elite, Ronaldo justifica sua obsessão por terminar a Cidade Esportiva do Real Valladolid e levar o time de volta à Primeira Divisão – antes de dar por terminada sua passagem."
"Ainda que compartilhar a gestão de dois clubes em dois continentes vá trazer novas exigências."
"E críticas."
"'Não pretendo continuar aqui para sempre, mas para desgraça de alguns inimigos, ainda pretendo seguir por um bom tempo'", decretou em uma de suas últimas aparições."
"A língua afiada continua a mesma..."
(Texto de José Eduardo de Carvalho, ex-editor de Esportes do Jornal da Tarde, que mora na Espanha há anos.
E conhece jornalismo esportivo como poucos...)
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