Orgulho com Dondinho. Angústia com Edinho. Pelé 80 anos
Pelé teve na frustração do pai a motivação para ser o melhor jogador de todos os tempos. Mas se transformou em sombra grande demais para o filho
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Ele era o 'Maleável'.
Adjetivo/apelido que ganhou por parecer um ginasta em campo.
Talentoso, driblador, inteligente, ótimo cabeceador, artilheiro.
Seu nome era João Ramos do Nascimento.
O futebol não iria prendê-lo em Itajubá, Lorena.
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Foi para Belo Horizonte, jogar no Clube Atlético Mineiro.
Já era Dondinho.
A fatalidade daquele 7 de agosto de 1940 fez com o gol marcado contra o São Cristóvão ficasse menor. Uma entrada violenta do zagueiro Augusto da Costa, que defenderia o Vasco e a Seleção Brasileira, torceu o joelho direito do centroavante.
Sem respaldo, fez apenas essa partida pelo Atlético.
Dispensado, passou pelo Fluminense, São Lourenço, Vasco de São Lourenço e pelo Bauru. Mas depois da torção no joelho, nunca mais foi o mesmo.
A angústia do pai o fez prometer ao espelho.
Honraria seu pai em campo.
O mundo saberia que ele era filho do 'Maleável'.
Soube.
Mas o DNA brilhante não poderia se perder.
A herança genética seguiria nos gramados.
Com o neto de Dondinho.
Seu filho, de mesmo nome, Edson, cresceu nos Estados Unidos.
Com o ressentimento do pai ausente, sinal do desmoronamento do casamento, da tensão, da angústia que cerca o caminho da separação de um casal.
Frequentando as melhores escolas, descontava a raiva da saudade do pai, omitindo que quem era filho. Falava que era de um "atleta".
Ser o futebol um esporte feminino nos Estados Unidos, quando garoto, também o irritava.
Para 'piorar', tinha muito talento com a bola nos pés. Inteligente, habilidoso, não era um artilheiro, mas jogador de articulação.
Só que detestava quando ao entrar em campo ter o peso de ser filho do maior jogador de futebol de todos os tempos.
Ele não queria aquela comparação.
O fazia sofrer.
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Mas já estava apaixonado pelo futebol.
Daí a escolha para jogar no gol, para tremenda desilusão do pai.
Tinha explosão muscular, reflexo apurado, saía bem do gol, tinha muita calma diante do atacante adversário.
Só que a genética o havia preparado para jogar na 'linha', não goleiro.
Com apenas 1m78, era baixo demais, já para o futebol dos anos 90.
Com a bênção do pai, o Santos abriu as portas para o goleiro 'filho do rei'.
Só que não teve sucesso.
Os amigos muito próximos sabiam que ele estava em posição errada.
Daí, a revolta.
A falta de rumo.
E acabou cercado, confessa, por amigos ligados à criminalidade.
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Primeiro, em 1992, participou de um racha com o motorista e amigo Marcilio José Marinho de Melo, na madrugada do dia 24 de outubro, na avenida Epitácio Pessoa, em Santos. Marcilio atingiu em cheio uma moto, matando um aposentado.
Edinho foi julgado.
Escapou da prisão, mas foi condenado a pagar pensão mensal vitalícia equivalente a 2/3 de 12 salários mínimos e danos morais de 200 salários mínimos.
Depois, em 6 de junho de 2005 foi preso por tráfico de drogas. Em maio de 2014, foi condenado a 33 anos de prisão pelo crime de lavagem de dinheiro proveniente do tráfico de droga.
Foi preso e depois conseguiu recorrer em liberdade.
Acabou preso de novo, em 2017, quando a sentença foi reduzida para 12 anos e 10 meses de prisão.
No dia 25 de setembro de 2019, ele conseguiu passar a cumprir sua pena em regime aberto.
O Santos o acolheu de braços abertos.
Como coordenador das equipes de base.
Mas há dois dias, o presidente Orlando Rollo decidiu apostar no sonho que Edinho tem.
O transformou em treinador do time sub-23.
Ele já havia treinado, rapidamente, o Mogi Mirim, o Água Santa e o Tricordiano.
Pelé conseguiu ir muito além do que jamais sonhou Dondinho, o Maleável
Mas se tornou uma sombra intransponível para Edinho.
Pelé tem muito o que pensar, nestes 80 anos...
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