Willian Ribeiro chutou violentamente a cabeça do árbitro caído. Poderia ter matado o juiz
Reprodução/TwitterSão Paulo, Brasil
Desde o dia 14 de outubro de 2020, não se ouve mais a voz de Leonardo Gaciba.
Ele assumiu publicamente que houve erro gravíssimo do VAR, na partida entre Atlético Mineiro e São Paulo, na noite de 13 de setembro de 2020. Os árbitros de vídeo anularam o gol legal de Luciano, aos 30 minutos do primeiro tempo. O time paulista ficou revoltado com o lance que lhe daria vantagem no difícil confronto, se desconcentrou. Ao final, o Atlético venceu por 3 a 0.
A repercussão da sinceridade de Gaciba abalou a CBF, e o São Paulo tentou até anular o jogo. O então presidente, hoje afastado por assédio sexual, Rogério Caboclo, proibiu Gaciba de dar entrevistas se quisesse continuar no cargo. Daí seu silêncio.
Quando o presidente da Comissão de Arbitragem se cala em relação a lances polêmicos é uma situação vexatória, mas compreensível diante de como funciona a cúpula do futebol brasileiro.
Mas há consequências inesperadas e mais vergonhosas.
A mais constrangedora foi a que condenou ontem o jogador Willian Ribeiro à suspensão de dois anos do futebol. Na partida entre Guarani, de Venâncio Aires, e São Paulo, de Rio Grande, no dia 4 de outubro, pela Segunda Divisão Gaúcha, ele deu um inesperado soco, que derrubou o árbitro Rodrigo Crivellaro. Com o juiz caído, Willian ainda teve a frieza e a covardia de chutar a sua cabeça.
A última vez que Leonardo Gaciba se pronunciou publicamente. Há mais de um ano
Reprodução/SportvA cena causou indignação no mundo.
O jogador tinha antecedentes violentos, atos de agressão a jogadores e até a torcedor.
O Ministério Público do Rio Grande do Sul avisou à imprensa que pediria o indiciamento de Willian por tentativa de homicídio.
O árbitro, de acordo com os médicos, teve sorte. Poderia ter morrido ou ficado paraplégico porque o violento chute acertou as vértebras do seu pescoço.
Houve uma movimentação entre o comando da arbitragem no Brasil para que a CBF lutasse pelo banimento de Willian Ribeiro. O pedido deveria ser feito à Fifa.
Mas o presidente interino da CBF, Ednaldo Rodrigues Gomes, é um homem conciliador. O substituto do suspenso Rogério Caboclo não é conhecido por grandes polêmicas. Ainda mais estando no cargo em que está. Ele quer chamar atenção o menos possível.
Faltou ação firme, determinada, de Leonardo Gaciba, para mostrar a Ednaldo a gravidade do caso. Seria a oportunidade de o futebol brasileiro mostrar seriedade diante da crescente violência dentro e fora dos gramados.
E Gaciba tinha a obrigação de usar os microfones para se posicionar pelos árbitros do Brasil.
Só que mais uma vez ele se cala.
Torcedores indo parar no hospital, depois de covardes agressões de torcidas organizadas, não são nem mais notícia nos portais, jornais, televisão. Viraram assunto banal.
A carreira de Willian tem toda probabilidade de já estar terminada.
Ele tem 30 anos. Só poderia voltar ao futebol com 32 anos. Está marcado pelo gesto absurdo que cometeu.
Rodrigo Crivellaro poderia ter morrido com o chute na cabeça. Ficará três meses com colete ortopédico
Reprodução/InstagramPor apatia, falta de empenho, de competência, a cúpula da CBF não cumpre a sua obrigação de ao menos tentar uma punição exemplar ao jogador profissional que teve a coragem de chutar a cabeça de um árbitro caído.
"Aconteceram várias questões no campo. Eu errei. O que eu fiz não foi certo. Estou muito arrependido. Na hora me deu um apagão e agi daquela forma. Eu não sei explicar o que me deu na hora. Simplesmente me escureceu as vistas."
"Eu estou até procurando tratamento psicológico", disse o jogador, ontem, no seu julgamento na Primeira Comissão Disciplinar do TJD-RS (Tribunal de Justiça Desportiva do Rio Grande do Sul).
Ele foi condenado a dois anos de suspensão do futebol, com base no artigo 254-A do Código Brasileiro de Justiça Desportiva, por "praticar agressão física durante a partida", com agravante de ser "praticada contra árbitros, assistentes ou demais membros de equipe de arbitragem".
O árbitro seguirá afastado dos gramados por três meses. Com fortes dores, ele continuará usando um colete ortopédico no pescoço.
A situação fica ainda mais constrangedora.
Willian pode recorrer para ter sua sentença diminuída.
E o gaúcho Leonardo Gaciba segue calado...
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