O trabalho mental que recuperou Raphael Veiga. Jogador sonhava com a Europa e Seleção. Se desiludiu. Mas renasceu. E igualou Edmundo

“Eu acho que ele cada vez mais entende que tem que correr para cima da bola quando está no corredor dele. E quando a bola está no lado contrário, (ele) tem que chegar à área.

“(Hoje) Fez gols de chegadas. Mas os jogadores acham que, para ser protagonistas, têm sempre que tocar na bola e não é assim. Dividimos o campo em partes. Para ele, é bom entender e perceber que há várias formas de fazer gol.

“Ele sabe, foi bom contratarmos o Maurício.

“Ajuda que os jogadores estejam atentos e preparados.

“É um jogador determinante da equipe, super influente. Tem um trabalho de liderança absolutamente extraordinário e contar com ele a este nível é importante.”

Abel Ferreira fez questão de tecer inúmeros elogios a Raphael Veiga, após a goleada do Palmeiras por 5 a 3, contra o Juventude.

Resultado que coloca o Palmeiras a apenas um ponto do Botafogo, líder do Brasileiro.

O treinador português sabe que a recuperação de Veiga não foi tão simples.

A recuperação de Veiga não foi por acaso e muito menos só pela chegada de Maurício.

A concorrência incentivou o meia, que entendeu a necessidade de competir muito mais, voltar a mostrar seu grande potencial.

Para não se tornar um mero reserva.

E ele estava merecendo.

Seu instável futebol em 2024 tem uma explicação muito normal no futebol.

A frustração.

Aos 28 anos, ele ficou desanimado ao perceber que não conseguiu impor seu talento na Seleção Brasileira.

Se viu descartado.

E o sonho de jogar na Europa morreu.

Por conta da idade.

Clubes importantes, e até médios, não investem em atletas ‘tão velhos’, pelo contrário.

Procuram atletas cada vez mais jovens.

O próprio Palmeiras é um exemplo disso.

Veiga viu Endrick, Estêvão e outros serem vendidos com menos de 20 anos.

O pequeno Brighton, da Inglaterra, sondou o Palmeiras, no meio do ano passado.

Mas a negociação não foi adiante.

Proposta só do Al Effitaq, da Arábia Saudita.

Clube e jogador não aceitaram.

E só.

Por mais que continuasse se esforçando nos treinos, nos jogos, o desempenho já não era o mesmo.

Abel Ferreira e a psicóloga do clube, Gisele Silva, trataram de ter longas conversas com o jogador.

Ele precisava entender sua carreira e superar o fato de não fazer parte dos selecionáveis para Dorival Júnior.

E que não conseguiria atuar em grande clube europeu.

“Acho que qualquer jogador tem o sonho de jogar no Velho Continente para competir com os melhores jogadores de futebol do mundo, participar dos grandes campeonatos… Eu também, mas sou uma pessoa feliz e se isso acontecer um dia vai acontecer na hora certa e será muito satisfatório, e se não acontecer ainda ficarei feliz aqui”, disse ao jornal espanhol As, em fevereiro deste ano.

A transação não chegou.

O que se realizou foi a chegada de Mauricio.

Meio-campista criativo que, a pedido de Abel, o Palmeiras investiu R$ 60 milhões.

Veiga teve de enfrentar a reserva.

Foi aí que a presença de Abel Ferreira, de Gisele Silva e de um outro psicólogo particular foram fundamentais.

Depois de muita conversa e sessões, Raphael Veiga renasceu.

Em um momento fundamental para o Palmeiras, na busca pelo tricampeonato nacional.

Maurício sofreu uma grave contusão no ligamento colateral medial do joelho direito, no dia 12 de outubro.

E está em tratamento conservador, buscando recuperação para que não sofra cirurgia.

O espaço ficou aberto de novo para Veiga e ele está aproveitando.

Jogando cada vez melhor, mais confiante, mais ousado, batendo na bola com mais convicção.

Não foi por acaso que marcou três gols ontem.

E alcançou Edmundo, com 99 gols com a camisa do Palmeiras.

“Fico muito feliz de atingir essa marca do Edmundo, um cara que eu admirava muito como jogador. Sempre falo que nunca foi o meu objetivo em bater essas marcas e números. Sei o quanto representa isso, fazer 99 gols em um clube como o Palmeiras é algo muito grande. Estou muito feliz, ainda mais com essa vitória”, dizia, ontem, empolgado com o próprio desempenho.

Aos 29 anos, Veiga já sabe que não irá para a Europa.

Ele não pode reclamar do status que atingiu.

Recebe cerca de R$ 900 mil por mês.

Tem contrato até janeiro de 2027.

Pode atuar na Arábia Saudita, nos Estados Unidos.

Seu empresário é André Cury, o mesmo de Dudu, Vitor Roque, Yuri Alberto e, por coincidência, de Maurício.

Além de suporte psicológico, Raphael Veiga se mostra muito apegado à religião.

Ao marcar três gols ontem, fez questão de pedir uma música especial para ele, em um programa televisivo.

Thank you, Jesus.

Da banda australiana Hillsong Live.

A tradução do refrão é muito simbólica.

“Obrigado, Jesus.

“Você me liberta,

“Cristo, meu salvador.

“Você me salvou...”

Raphael Veiga não poderia estar mais fortalecido.

Renasceu para o Palmeiras...

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