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O mal que Pelé faz a Neymar. Com sua tradicional omissão

Mais uma vez, Pelé não quis se envolver em uma questão importante. Frustrante posicionamento do melhor jogador de todos os tempos

Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli


Pelé perdeu grande chance de mostrar os erros de Neymar na Rússia
Pelé perdeu grande chance de mostrar os erros de Neymar na Rússia

São Paulo, Brasil

Se alguém no futebol mundial tinha condições e currículo para mostrar o quanto Neymar fez mal a ele mesmo e à Seleção Brasileira, na Copa da Rússa, é Pelé.

O melhor jogador de todos os tempos teve uma carreira espetacular. Marcou 1.288 gols. Ganhou três Copas, sendo fundamental em duas delas, a de 1958 e 1970. Foi bicampeão da Libertadores e mundial pelo Santos.

E apanhou muito em campo.


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Em uma época que a arbitragem era muito mais tolerante com as faltas violentas, desleais.


E sem caneleiras, obrigatórias só a partir de 1990.

Sofreu pontapés por trás, carrinhos, pisões nos tornozelos. 


Foi vítima do mais cruel rodízio de chutes desleais em uma Copa do Mundo. A de 1966, quando o treinador de Portugal, o brasileiro Otto Glória, decidiu parar o melhor de todos os tempos autorizando seus jogadores a uma saraivada de pontapés.

O árbitro inglês George McCabe foi permissivo, omisso diante de uma saraivada de chutes dos portugueses em Pelé. Acabaram tirando o jogador não só do jogo, mas da Copa da Inglaterra.

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Foram 21 anos de carreira enfrentando zagueiros e volantes maldosos. E árbitros que aceitavam naturalmente os pontapés, como previa as regras do futebol, muito mais brandas com os violentos.

Alguém do staff de Neymar deveria mostrar ao jogador mais caro de todos os tempos, como Pelé se comportava diante dos pontapés. Sabia se defender, se preparar para a pancada. Nunca foi santo. Também retribuía os pontapés e cotoveladas, quando podia.

Mas algo que hoje fica mais impressionante é a maneira que se comportava diante dos marcadores. Mesmo depois de ter sido atingido por um chute desleal. 

Pelé sofreu milhares de faltas. Não simulava depois dos pontapés como Neymar
Pelé sofreu milhares de faltas. Não simulava depois dos pontapés como Neymar

Nada de ficar rolando pelo gramado, simulando ter dores maiores do que a de um parto natural de trigêmeos. Ainda mais em uma Copa. E virar piada mundial. Perder prestígio do excelente jogador que Neymar é. Ficar fora de uma lista de dez que disputam o título de melhor do mundo, sendo, pelo menos, o terceiro.

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Aos 77 anos, Pelé está plenamente lúcido. 

Dono das suas faculdades mentais. Sabe o que diz.

Infelizmente, suas duas operações no quadril não deram certo. E ele está preso a uma cadeira de rodas. Situação que o fez abdicar de ir para a Rússia, convidado pela Fifa e pelo próprio presidente Putin.

O melhor de todos os tempos voltou a público ontem. 

Estava em Santos. Recebeu o título de Doutor Honoris Causa, pela Universidade Metropolitana de Santos. Ele se formou em Educação Física no início da década de 70. A homenagem foi uma maneira de valorização do estudo para o jogador de futebol.

Mas Pelé teve uma oportunidade de ouro.

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Foi perguntado a ele sobre o desempenho de Neymar na Copa. 

Lógico que o melhor de todos os tempos viu o camisa dez da Seleção rolar pelos gramados russos, simulando tomar pontapés que não recebeu. E os que acertaram não tinham a potência para provocar os escândalos que protagonizou. Pelé sabe que na Europa e no mundo civilizado a simulação é fortemente rejeitada. É sinônimo de deslealdade, fingir para provocar expulsões, pênaltis. Enganar o árbitro.

A hora era de mostrar a Neymar o caminho. 

Todo o mal que ele está fazendo a ele e ao Brasil.

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Só que, Pelé decidiu fazer o pior.

Algo que, tristemente, marca sua trajetória, sua vida.

Se omitiu diante de uma questão séria, quando uma opinião teria repercussão mundial e deixaria clara sua postura diante de algo errado. 

"O cara é o atleta do século. A figura mais popular do mundo. E não usa isso para brigar por causas justas. O Pelé tem mais repercussão que líderes políticos e religiosos. Mas prefere se omitir diante de questões sérias como o racismo. Ele não se expõe", já resumiu o também campeão da Copa de 1970, Paulo César Caju.

E ontem, outra vez, ao contrário do que Pelé fazia dentro de campo, o cidadão Edson Arantes do Nascimento frustrou. Deixou jornalistas boquiabertos com suas débeis palavras sobre o principal jogador desta geração. E que deu enorme vexame na Rússia.

"É chato para nós que admiramos e gostamos do Neymar. É cria nossa (por ter começado no futebol no Santos). É difícil de entender o que aconteceu. Mas é passado, vamos pensar para frente. Daqui a pouco estamos no Qatar e vamos com tudo."

Sim, foi assim que ele tratou desse assunto importantíssimo.

O suor em forma de coração. A melhor representação de Pelé pela Seleção
O suor em forma de coração. A melhor representação de Pelé pela Seleção

Vale a pena ser dissecada cada frase.

"É chato para nós que admiramos e gostamos do Neymar."

O que ele quis dizer com isso? 'Chato' é para um homem de 26 anos, pai de um garoto de seis anos, que era a maior esperança de reconquista do Mundial, depois de 16 anos de jejum, preferir simular do que jogar futebol. Ter chiliques com os árbitros. Xingar companheiros, como fez com Thiago Silva. E 'sumir' no jogo decisivo contra a Bélgica. Chato para quem, Pelé?

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"É cria nossa."

Não interesse se ele nasceu para o futebol profissional no Santos. Ele é brasileiro, o maior ídolo midiático de todos os tempos neste país. Tem mais de 201 milhões de seguidores nas suas redes sociais. O que fez foi ruim para um país, não só para os santistas.

"É difícil entender o que aconteceu."

Sério? Pelé é muito mais inteligente do que gosta de demonstrar. Sabe como ninguém o que Neymar fez e as consequências para o time, para seu maior defensor, Tite. Sua atitude na Copa foi uma das responsáveis pela eliminação precoce do Brasil na Copa.

"Mas é passado, vamos pensar para a frente."

Como pensar no futuro sem corrigir o passado? Pelé justificou nestas setes palavras a postura omissa cobrada por Paulo César Caju. Não adianta enterrar a cabeça na areia, fingir que está tudo certo. Não está.

Não há a menor certeza de que Neymar não possa repetir a mesma postura infantil, mimada, nas próximas competições, com a camisa da Seleção Brasileira. Nem mesmo que Tite terá força para exigir que jogue apenas futebol. Abandone as simulações, os chiliques, os palavrões a companheiros.

Tricampeão mundial, Pelé sempre teve postura de rei. Com a bola nos pés
Tricampeão mundial, Pelé sempre teve postura de rei. Com a bola nos pés

"Daqui a pouco estamos no Qatar e vamos com tudo."

Qual a certeza, Pelé? De que adianta chegar no Mundial de 2022 com os mesmos erros de agora. Neymar já tem nove anos como profissional. Sete anos de Seleção Brasileira. Apenas o tempo não mudou suas atitudes.

Ainda mais diante da postura paternal, de reféns de Mano Menezes, Felipão, Dunga e Tite. Treinadores que evitaram a cobrança, exercer sua autoridade. Por temer o confronto com o melhor jogador de uma geração que se mostra apenas mediana. E com força no combalido futebol sul-americano.

Quem falou que 'vamos com tudo' no Qatar, Pelé? Iríamos com tudo na Alemanha, na África do Sul, aqui mesmo na Copa de 2014, e na Rússia. E o jejum de conquistas chegou a 16 anos.

Na primeira Copa, Neymar saiu contundido. Mas na segunda, atuou em todas as partidas, e o Brasil fracassou da mesma maneira.

É triste levar as entrevistas de Pelé a sério.

Não agora, que está com 77 anos.

Mas foi assim sua vida toda.

O cidadão Edson Arantes do Nascimento poderia ter feito muito mais por seu país. Não só pelos negros. Mas pelos pobres, desvalidos de todas as cores no Brasil, no mundo. 

Não se revoltou contra a corrupção, a violência. Mesmo tendo recebido o título de Doutor Honoris Causa, não defendeu nem a tão fracassada Educação neste país.

Aos que alegam que estes assuntos não são especialidades de Pelé, fica a lembrança que a sua postura no futebol, área que domina como ninguém, teve triste postura.

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Escolheu a omissão. 

Ser mais uma pessoa a passar a mão na cabeça de Neymar.

Outro colaborador para que o camisa 10 da Seleção siga com seus privilégios, sua imaturidade.

Errado é esperar a genialidade de Pelé fora do campo.

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Infelizmente, ele segue coerente.

Escolhendo a omissão.

Frustrando, desperdiçando holofotes e microfones.

Desperdiçando a chance de provocar mudanças.

Tratar um homem de 26 anos como um menino só tem feito mal à Seleção
Tratar um homem de 26 anos como um menino só tem feito mal à Seleção

O que Pelé tinha de falar, 'falou' com os pés.

Nos gramados do mundo.

Pior para Neymar.

Pior para o Brasil...

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Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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