O deprimente adeus de Jon Jones. Drogas, álcool, doping, tédio. O melhor de todos os tempos só perdeu para ele mesmo
Depois de dois anos adiando seu retorno, Jon Jones anuncia o adeus ao octógono. Motivos? Fortuna de R$ 150 milhões. Cansaço da vida de atleta. Contusões. E tédio

Indigna.
Assim, o mundo do UFC qualifica a aposentadoria de Jon Jones.
Com uma luta em dois anos, aos 37 anos, ele adiou por diversas vezes seu retorno, travando a categoria dos pesados.
O presidente do UFC, Dana White, fez tudo o que pode. Perdoou doping, atropelamento bêbado, de uma mulher grávida, seguidos ataques de estrelismo. Escolha de adversários.
Tudo foi permitido para ter a esperança de colocar no octógono Jonathan Dwight Jones.
O homem capaz de misturar força, técnica excepcional, violência, brutalidade, com enorme dose de carisma.
Não que Dana White, boxeador frustrado e o mais esperto empresário de esporte do planeta, ficasse só maravilhado com as lutas impressionantes do norte-americano, de Nova York, 1m93 e 107 quilos.
Jon Jones era o lutador que mais rendia dinheiro ao UFC. De acordo com jornalistas especializados em lutas, houve combates que movimentaram mais de 100 milhões de dólares, cerca de R$ 550 milhões, em transmissões, pay-per-view, no mundo todo.
Por isso, Dana se submetia e fazia os fãs aguardarem, ansiosos, cada combate do maior personagem da história da artes marciais mistas.
Foram 14 anos de reinado.

30 lutas. 28 vitórias. Uma luta sem resultado, que venceu Daniel Cormier, o fez chorar. Mas estava dopado. A única derrota foi para ele mesmo, em 2009.
Deu cotoveladas ilegais em um adversário fraquíssimo, Matt Hamil, que já estava dominado. E em vez de socar, Jones decidiu dar cotoveladas de cima para baixo, o que é proibido.
Jones queria ser policial. Mas seus dois irmãos, jogadores de futebol americano, não só o incentivaram a treinar duro, mas a aprender a lutar, nas violentas brincadeiras com o caçula.
Se mostrou um gênio no grappling, luta agarrada. E também no muay thai. Sua explosão muscular, a velocidade absurda dos seus golpes, a violência das cotoveladas rodadas, os chutes altos, baixos, os golpes nos joelhos dos adversários.
Resistência e preparo físico impressionantes.
E mais o gênio arrogante, intimidador o fizeram perfeito para o UFC. A ascensão foi meteórica.
Se tornou ídolo mundial.
O dinheiro não parava de jorrar.

Assim como as farras, apesar de ter três filhas com sua namorada Jessie Moses e um filho fora do namoro.
“Sempre vivi como quis. Fumava maconha antes mesmo do meu café da manhã. Saía para beber com os meus amigos, até amanhecer. E quando chegava a época de preparação para as lutas, eu me segurava.”
Foi flagrado duas vezes por doping.
A primeira, em 2015, por uso de cocaína.
A segunda, em 2016, por uso de bloqueadores de estrogênio, na luta contra Daniel Cormier. “Me ofereceram uma substância que falaram ser estimulante sexual”, jurou Jones.
Foi detido seis vezes.
Uma por violência doméstica e outras cinco por dirigir embriagado. Em uma delas, bater o carro e fugir da cena do acidente.
Em 2019, outro escândalo. Foi acusado de assediar sexualmente uma garçonete.
Ele não estava preparado para tanta fama.
Quando se dispôs a lutar foi excepcional.
Estreou no UFC em 2008 e bastaram oito lutas para se tornar o mais jovem campeão, dono de cinturão, no UFC.
Venceu o brasileiro Mauricio Shogun, em 19 de março de 2011.
O grande problema é que lutava pouco. Por conta de sua vida desregrada e também por confrontos por mais dinheiro com Dana White.
Desde então, nunca mais perdeu.
Em 2023, não conseguindo mais pesar até 93 quilos, como meio-pesado. Decidiu lutar nos pesados.
Lógico que chamou o cinturão dos pesados de seu.
Ganhou do francês Cyril Gane, em 4 de março de 2023. Apenas um ano e oito meses depois, enfrentou o norte-americano Stipe Miocic, dia 16 de novembro de 2024.
Desde então, Dana White e ele vinham travando duelos verbais. Crescia a certeza que Jon Jones não lutaria mais.
Por quê?
Pelas muitas farras e poucos treinos.

Operação no cotovelo e uma grave lesão no músculo peitoral, que levou oito meses de recuperação, foram o desanimando.
A imprensa norte-americana deixava claro que ele havia se cansado do desgaste físico de trocar socos, pontapés, cotoveladas com lutadores mais jovens e muito mais ambição.
Dana tentou convencê-lo o quanto pôde.
Ofereceu dinheiro, a opção de escolher adversários.
O campeão interino dos pesados, o britânico Tom Aspinall cansou de implorar para que lutassem.
Jones fez apenas um combate em dois anos.
Dana White percebeu que não haveria jeito.
Ele só estava segurando a categoria mais empolgante do UFC, a dos pesados.
Deu um ultimato a Jones.
Teria de colocar seu título em disputa com Aspinall.
Jones respondeu, finalmente, que estava cansado de lutar.
E, milionário, decidiu se aposentar.
Dana White insistiu, mas não houve jeito.
Desta vez foi para valer.
A despedida foi anunciada ontem, por Dana.
E ele fez Aspinall deixar de ser interino e se transformou no dono real do cinturão dos pesados.
Sem festa, sem última luta, sem a reverência de Jones merece.
Mas o norte-americano quis que fosse assim.
E hoje veio a despedida, nas suas próprias palavras, nas redes sociais.
“Hoje, anuncio oficialmente minha aposentadoria do UFC. Essa decisão veio após muita reflexão, e quero aproveitar este momento para expressar minha mais profunda gratidão pela jornada que vivi ao longo dos anos.
“Desde a primeira vez que entrei no Octógono, meu objetivo sempre foi ultrapassar os limites do que era possível neste esporte.
“Tornar-me o campeão mais jovem da história do UFC, defender meu título contra alguns dos melhores lutadores do mundo e compartilhar momentos inesquecíveis com fãs ao redor do planeta, essas são memórias que levarei comigo para sempre.
“Enfrentei momentos de grande glória e também dificuldades, mas cada desafio me ensinou algo valioso e me fortaleceu, tanto como lutador quanto como pessoa.”

O vazio que Jones deixará é imenso.
Mas foi a melhor solução.
Sem vontade para se dedicar, ele acabaria como outros lutadores lendários, servindo de saco de pancadas para oponentes medíocres, apenas mais jovens e mais bem preparados.
Jones estará no Hall da Fama.
É o melhor lutador de MMA de todos os tempos.
Tivesse mais determinação e disciplina faria o dobro de lutas.
Só que não seria o mito Jon Jones...