O batizado de Jorge Jesus no Flamengo. Nem besta e nem bestial
A eliminação do Flamengo, da Copa do Brasil, diante de quase 70 mil pessoas no Maracanã foi cruel. Mas ensinou muita coisa ao português.
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
"Em Portugal, quando se perde o treinador é chamado de besta.
Quando vence, de bestial."
A frase é de Otaviano Martins Glória.
Otto Glória para o mundo.
Técnico carioca, que foi um dos brasileiros com maior sucesso trabalhando no Exterior.
Comandou a Seleção Portuguesa na Copa de 1966, eliminando a Seleção Brasileira, com Pelé. Além de Porto, Belenenses, Sporting e Benfica, Olimpique, Atlético de Madrid e Monterrey.
Impossível não perceber o choque cultural com o que aconteceu ontem, com o Maracanã lotado, batendo outra vez o recorde de público, em 2019.
64.884 torcedores.
A esmagadora maioria foi para o Maracanã certa de que seria uma noite de festa, consagração. Classificação para a semifinal da Copa do Brasil.
Em casa, contra o Athletico Paranaense.
Bastaria uma simples vitória, em casa, diante da torcida mais eletrizante do país.
O primeiro jogo eliminatório de Jorge Jesus tinha todos os elementos para ser o jogo de confirmação do português que desembarcou na Gávea a peso de ouro.
E o Flamengo, com a marcação alta, velocidade, atitude.
Até que perde Arrascaeta, em excelente fase, encaixado no esquema do português. O versátil meia sai, contundido, logo aos 13 minutos.
Entra a correria desenfreada e, muitas vezes, afobada, de Vitinho.
O Flamengo cria, mas o Athletico do surpreendente Tiago Nunes, não é submisso. Sabe explorar a deficiência anunciada dos times de Jorge Jesus. As bolas longas, em diagonal, às costas dos zagueiros adiantados.
O time carioca criou mais, perdeu chances raras no primeiro tempo.
E o segundo começa ainda melhor, com o gol de Gabriel, aos 16 minutos, se aproveitando da desatenção de Robson Bambu.
O Maracanã parecia tremer, a festa prometida se concretizava.
Jorge Jesus se deixou contaminar e o Flamengo corria atrás do segundo gol. Mas exposto, aberto. De forma pouco racional.
E foi assim que Bruno Nazário, cinco minutos depois que deixou o banco de reservas, fez o que Tiago Nunes pedia para Nikão, encontrou o velocista Roni.
Gol do Athletico.
A partir dos 31 minutos, o Maracanã mudou.
A torcida refletia a insegurança que o time rubro negro transpirava.
Estava claro que a equipe não estava preparada para ceder o empate.
Daí, por sorte, não tomar a virada e ser eliminada ainda no jogo.
Vieram os pênaltis.
E é impossível que Jorge Jesus e seus atletas não soubessem que Santos é um ótimo defensor de penalidades.
Inadmissível a displicência do experiente capitão Diego.
Bateu fraco, alto, no meio do gol.
O goleiro paraibano ficou parado e defendeu.
Um vexame.
Depos Vitinho, nervoso, deu um chute fortíssimo.
A bola subiu, passou por cima do gol.
Depois, Cuellar bateu com raiva de quem virou reserva.
Foi o único a marcar.
Surgiu Everton Ribeiro.
Cobrança fraca, quase no meio do gol.
Santos defendeu, quase encaixou a bola.
Diego Alves fez sua parte.
Defendeu a cobrança de Bruno Nazário.
Só que Jonathan, Lucho e Bruno Guimarães marcaram.
Eliminação do Flamengo diante de sua torcida.
A desculpa que Arrascaeta, Bruno Henrique e Rafinha não puderam cobrar é muito rasa.
Jorge Jesus que soubesse o que Diego, Vitinho e Everton Ribeiro iriam fazer, já que é o treinador do time.
Os jogadores do Athletico passam a levantar os braços, mostrando os músculos dos braços, ironizando a comemoração de Gabigol.
A atitude só aumenta a frustração, a raiva dos flamenguistas.
Foi quando Jorge Jesus perdeu a noção.
Pensou que estivesse na Europa.
Reuniu os jogadores derrotados e levou para o centro do campo.
Para agradecer o apoio da magnética torcida.
O time e ele tomaram uma vaia histórica.
Com direito a palavrões.
Foi um choque cultural inesquecível.
No Brasil não se saúda os perdedores.
Fosse Otto Glória vivo, resumiria a postura de Jorge Jesus.
"Passou de bestial a besta."
O português não é nem uma coisa nem outra.
Mas ontem foi seu batizado no futebol brasileiro.
Ele tem na mão um time de R$ 200 milhões de reforços.
Instável.
Que ainda está reaprendendo a ganhar...
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