‘O ambiente da Seleção na Copa de 1982 era péssimo. Se eu soubesse, não teria ido. Sou ídolo no São Paulo e no Santos. Bati em padre. Quase fiz filme pornô. Vivi como quis!’Serginho Chulapa
Serginho Chulapa deu uma entrevista exclusiva reveladora. ‘Na Seleção de 1982, reserva queria derrubar titular. O clima era ruim. Se eu soubesse, não teria ido. Minha Copa era a de 1978. Mas o Rio me suspendeu. Queria Roberto Dinamite.’

242 gols.
O maior artilheiro da história do São Paulo.
102 gols pelo Santos, o clube dono do seu coração.Ídolo dos dois rivais.
Último jogador ‘sem filtro’ algum.
Capaz de assumir tudo que faz.
Espontâneo, sem medo de julgamentos.
Sua vida não daria um filme, mas uma série que faria sucesso em qualquer lugar do mundo.
“Se não fosse o futebol, eu estaria no mundo do crime. Como meus amigos. Eu fiz questão de fazer uma partida no Carandiru (antiga penitenciária). E lá reencontrei meus amigos de infância. Choramos muito. Eles fizeram coisas pesadas. Também faria com eles, se não fosse o futebol.“
Serginho Chulapa era uma das entrevistas mais aguardadas por mim. Depois de anos de desencontros, ela aconteceu. E foi marcante.
“Eu quis falar. Até para acabar com a aura da Seleção de 82. Nós tínhamos um time maravilhoso. Mas o ambiente era péssimo. Não merecia ganhar a Copa. Não havia união de verdade.
“Havia reservas que queriam entrar no time de qualquer jeito. O principal era o Edinho. Ele queria jogar no lugar do Luizinho. E sabotava o ambiente. Anos depois, eu dei um tapão nele. Tinha de dar, pelo que fez na Espanha.“
Ele foi acusado de ser o pior jogador do time que encantou o mundo.
“Eu não pude ser eu mesmo. O Telê foi para o quarto que eu dividia com o Eder. Era o quarto dos malucos. E avisou. Quem aprontasse qualquer coisa em campo, sairia do time e não jogaria mais. Não pude ser eu mesmo. Joguei preocupado, tenso, nas divididas.
" Se eu pudesse, teria voltado da Espanha a pé. E não teria aceito jogar aquela Copa.”
Serginho vai além.
“Os jogadores marcavam gols e fugiam da gente. Não queriam abraços. Buscavam as placas de publicidade, para aparecer na tevê. Tinham 10 segundos para chegar nas placas. Ganhavam 500 dólares por gol. Fique pu... quando soube. E também quis os meus dólares. Mas vi ali, que cada um pensava em si.”
Falcão explicou que Serginho foi o grande sacrificado no esquema de Telê Santana.
“Ele prendia os zagueiros para que nós, do meio-campo, eu, o Zico, o Sócrates, o Cerezo, jogássemos. Foi injusta tanta cobrança que ele recebeu.”
Serginho é franco.
E direto.
“A minha Copa era a de 1978. Não fui convocado porque os cariocas queriam Roberto Dinamite. Eu peguei nove meses de suspensão por ter chutado um bandeira. Errei. Mas o julgamento no Rio de Janeiro foi para me tirar da Copa. E o Roberto ir.”
Ele reconhece que sua carreira foi importante. Mas nunca abriu mão de viver como queria.
“Ah, aprontei, sim. Treinava, me dedicava. Mas meu gênio sempre foi forte. Não fugia de provocação. O jogador tem de se impor.”
Chutou bola em cima do banco do Corinthians, deu um bico no rosto de Leão, que o provocou por ele estar com hemorroidas. Deu um pontapé no bandeira Vandevaldo Rangel, em 12 de fevereiro de 1978. Na partida entre o São Paulo e o Botafogo de Ribeirão Preto. Pegou suspensão de nove meses e adeus Mundial da Argentina.

Foi para o Corinthians e se arrependeu. “Eu havia conquistado o Paulista pelo Santos em cima do time que eu chegava. Na final, arranquei um tufo de cabeço do lateral Edson ‘Abobrão’. E fui jogar com ele. Tinha gente que nem olhava para minha cara. Achava que um dia eu iria brigar.”
Perguntado se tinha mesmo um porrete no armário para uma eventual briga, ele ironiza. “Está lá até hoje, o porrete?”
Fora de campo, colecionou outros episódios marcantes.
Surreais.
Como quando bateu em um padre, no batizado de uma das sobrinhas do seu amigo, Basílio, ex-jogador do Corinthians.
“Dei um ‘rodo’ no padre, que estava enrolando, não queria fazer o batizado.
Gravou um disco como cantor que, sem estrutura alguma, não fez sucesso.
E, revelou um segredo, desistiu em cima da hora de fazer um filme pornô. Tinha ido até para o set de filmagem.
“Eu fui gravar. A menina estava pronta. Mas havia muita gente. E as câmeras me queimavam a bunda. Desisti. O filme iria se chamar ‘Panteras Negras.”
Serginho revela também outras situações inacreditáveis no Exterior.
“Fui para o Marítimo. Em cinco jogos, fiz quatro gols. O técnico me tirou, sem mais nem menos. Não aguentei. Dei um soco no olho do Mister.”
Depois, Serginho foi comprado pelo Malatyaspor, da Turquia.
“O presidente era do narcotráfico. Foi preso. E não recebi nada.”
Ele só tem um arrependimento. A cabeçada que deu no repórter Gilvan Ribeiro, quando trabalhava como técnico interino do Santos.
“Eu estava uma pilha de nervos. E ele me provocou. Entrou no vestiário comigo, perguntando várias vezes se eu seria demitido. Não aguentei e dei uma cabeçada nele. Errei.”

Sua personalidade forte não evitou uma profunda depressão.
“Eu achava que era frescura. Quando a depressão me pegou. A solidão é algo terrível. Eu vivia na cama, sem querer fazer nada, cercado de remédios. Minha esposa Katia e meu neto me tiraram daquela situação.”
Serginho teve problemas com a justiça. Por falta de pagamento de pensões. O Santos o ajudou e as pendências acabaram. Ele teve oito filhos. Um deles morreu, em tiroteio com a polícia.
“Eu não tive proximidade com ele. Tentei ajudá-lo a sair do crime. Mas não consegui”, lastima.
Aos 71 anos, Serginho muito respeitado. Onde vai é reconhecido. Pena com o atual momento do Santos.
“Sofri demais com o rebaixamento. E sofro. Esse clube não pode ser rebaixado de novo. De jeito algum.
“E o Neymar, que é ótimo garoto, tem de ser preservado. Ele é a esperança do Santos e da Seleção. Não merece ser massacrado como é. Eu o conheço desde menino.”
Ele está muito feliz com sua vida.
E grato ao futebol.”Vivi como quis. E não fosse o futebol não sei se estaria vivo..."
A entrevista completa, exclusiva, está no canal Cosme Rímol, no Youtube. Uma parceria com o R7.
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