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Cosme Rímoli - Blogs

O amargor de Abel. 'No Brasil, você é um rei ou é um bos...' Técnico sabe que perdeu a Seleção por seus ataques de fúria

O treinador, de 44 anos, mostrou todo o seu inconformismo. Mesmo colecionando títulos, foi julgado pelas cúpulas do Brasil e de Portugal, por seu gênio explosivo, intempestivo. E perdeu a chance de comandar as duas seleções

Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli

O amargor de Abel, mesmo colecionando vitórias. Explosões o afastaram das seleções do Brasil e Portugal
O amargor de Abel, mesmo colecionando vitórias. Explosões o afastaram das seleções do Brasil e Portugal

São Paulo, Brasil

"Não vim para o Brasil fazer amigos.

"Eu aqui sou um um boneco, um ator, mostro o que me interessa, mas o que me interessa é o que os meus jogadores e a minha família pensam de mim. Quando quiserem saber de mim, não perguntem a jornalistas, perguntem a ex-treinadores e ex-jogadores meus.

"Eu fico furioso com incompetência, com os preguiçosos, porque sou um homem de trabalho.


"Aqui no Brasil, hoje és o rei e amanhã és uma bosta.

"É assim que é aqui."


Nem parecia que o Palmeiras havia vencido o Santos, por 3 a 1, com uma facilidade assustadora, ontem no Morumbi.

Abel Ferreira queria mostrar sua revolta, sua indignação.


Por dois motivos.

O primeiro é que acreditava que suas onze finais, com direito a sete títulos, pesariam muito mais que os 41 cartões e seis expulsões, desde outubro de 2020. Inclusive chutar um microfone de transmissão, na semana passada, quando seu time venceu a final da Supercopa do Brasil e ele teve, nos últimos minutos, de ir para os vestiários, expulso.

O segundo é que já percebeu que seu comportamento explosivo foi forte o suficiente para matar o sonho de treinar a seleção brasileira no lugar de Tite. 

A direção da CBF o analisava a sério. Iria enfrentar a xenofobia que domina a cúpula do futebol deste país e estava disposta a entregar o cargo de treinador ao português. 

Mesmo com suas rígidas críticas ao calendário, aos árbitros, à organização do futebol brasileiro, feita pela própria CBF.

Só que os ataques de fúria de Abel pesaram muito. A avaliação simplista é que se ele repetir tanta raiva, hipoteticamente, na Copa de 2026, nos Estados Unidos, será expulso, suspenso. E pode prejudicar profundamente a sonhada reconquista do Mundial, depois de 24 anos.

O presidente Ednaldo Rodrigues buscará até no fim de fevereiro ou, no máximo, no início de março um treinador. 

E que chegue para ficar o período todo, até junho de 2026.

Outra vez, o nome do português Jorge Jesus, como o blog antecipou, volta a circular com força nos bastidores da CBF. Ele sairia, sem pensar duas vezes, do Fenerbhaçe, da Turquia, para assumir a seleção.

Lógico que Abel segue com defensores na CBF, que insistem nas suas conquistas, mas o destempero do português se tornou um obstáculo grande demais.

Quando Abel fala com todas as letras que não veio ao Brasil para "fazer amigos", a mensagem que chega até a Barra da Tijuca, sede da CBF, é da sua indisposição para compor. 

Para entender a engrenagem da seleção. Com os privilégios a Neymar. Os amistosos vendidos. Inúteis contra selecionados asiáticos, africanos, centro-americanos. Os confusos jogos fora das datas-Fifa, com vetos dos clubes a dispensar seus atletas.

Giovanni, outra vez, mostrando a força da base do Palmeiras. Que faz Leila virar as costas a reforços
Giovanni, outra vez, mostrando a força da base do Palmeiras. Que faz Leila virar as costas a reforços

O treinador da seleção atual tem de se transformar quase em um político. 

Como fez Tite, que mudou muito as suas convicções como técnico para permanecer no cargo. Não adiantou nada. Fracassou em duas Copas do Mundo, saiu da CBF muito menor como treinador do que entrou.

Abel Ferreira também está cansado de falar sobre reforços. Sabe muito bem que o clube disputará a Libertadores, cobrança interna e externa para o título. Assim como a Copa do Brasil, o Brasileiro. E o Paulista, em que o time é líder isolado, único invicto.

Leila Pereira continua acreditando que a solução das carências está na base. E não quer comprar jogadores. Surgiu mais um exemplo, que ela usa para a sua direção, do acerto da decisão: Giovanni.

Aos 19 anos, depois de passar a maior parte de 2022 se recuperando de uma séria operação para reconstituir o tornozelo direito, ele começa o ano mostrando o talento que já chamava atenção na base. Desequilibrou a partida contra o Mirassol. E ontem entrou muito bem, diante do Santos, marcando até um gol.

Diante dos seguidos elogios, Abel resolveu intervir.

E novamente mostrou amargor.

"Temos que ter paciência. Ele ainda tem que ir para a Disney, tem que crescer, tem que continuar a ser moleque, garoto, continuar a rir. E não essas expectativas que vocês [imprensa] passam para eles. Com 16 anos é: 'Toma, esperamos que faça dez gols'. Quando não faz, é: 'Aí, aí, aí, aí'. Hoje é bestial, amanhã é uma besta. Não é assim que funciona no futebol, disse.

"Nunca o Palmeiras, em sua história, valorizou tanto sua formação. Isso tudo tem que ser com paciência. Amanhã fazem capas sobre o Endrick, depois dão na cabeça. Hoje é capa de jornal, rei, depois está na última capa, é bosta.

"Se souberem lidar com isso, estão preparados para ser jogadores top."

Abel estava amargo na vitória do Palmeiras.

O espanhol Roberto Martínez assumiu o cargo que poderia ser de Abel. A ira tirou Abel da luta pelo cargo
O espanhol Roberto Martínez assumiu o cargo que poderia ser de Abel. A ira tirou Abel da luta pelo cargo

Porque também tem plena consciência que suas atitudes já repercutem até "além-mar". Cotado para assumir a seleção de Portugal, foi deixado de lado pelas atitudes intempestivas.

E o espanhol Roberto Martínez, ex-técnico da Bélgica, que eliminou o Brasil em 2018, ficou com o cargo.

Abel teve a confirmação de que esteve cotado.

E também pesou nesse seu atual estado de amargor.

Sabe que, aos 44 anos, ainda terá muito a viver no futebol, com sua competência.

Mas dominar o gênio será fundamental para chegar aonde sonha.

Comandar um grande clube europeu.

Ou uma seleção com condições de vencer a Copa do Mundo.

Colecionar cartões e tomar atitudes raivosas só o prejudicaram.

Na seleção brasileira e na seleção portuguesa...

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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