No meio do furacão, ferido, Tite não vai pedir demissão
Mesmo diante de ataques do primeiro escalão do governo, ameaça de boicote à Copa América, Caboclo, cobranças da imprensa, ele seguirá na seleção. Está ferido, mas não desistirá até a Copa
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Tite está ferido.
Soube da possibilidade de o presidente afastado da CBF, Rogério Caboclo, trocá-lo por Renato Gaúcho.
E da tentativa de politização da sua insatisfação com a Copa América no Brasil, de milhares de pessoas, o jogando contra o governo Bolsonaro. Dos ataques do vice-presidente Mourão, sugerindo que o treinador assuma o Cuiabá. E do senador e filho do presidente, Flávio Bolsonaro, o chamando de 'puxa-saco de Lula'.
Não pedirá para sair depois do jogo contra o Paraguai.
Muito pelo contrário, seus planos são de seguir até a Copa do Mundo de 2022. E estará comandando a seleção na Copa América.
Já tem até a confirmação de que o cargo de treinador seguirá sendo seu. A certeza veio do próprio coronel Antônio Nunes, presidente interino. Nada de Renato Gaúcho, agora.
"Vou falar sobre o meu juízo e o que a minha escala de valores dizem. Tenho muito respeito ao meu trabalho, à seleção brasileira, a esse momento da Copa do Mundo e de eliminatórias."
"E a melhor maneira de retribuir o carinho das pessoas que me apoiam e ao respeito dos que estão contra, é fazer o meu melhor trabalho possível. É nisso que vou me ater", garante.
Foi perguntado de forma direta, se um treinador de uma seleção nacional precisa estar alinhado com o governo de seu país.
Tite deixou claro que não é segredo para ninguém. Ele não está alinhado com o presidente Jair Bolsonaro. Daí a pressão por parte de governistas para que deixe o cargo.
"Técnico de futebol tem que estar alinhado com o futebol."
Ele disse que não foi ameaçado de demissão por parte de Rogério Caboclo. Não quis se extender na resposta, já que também não é algo secreto que os dois estavam se desentendendo depois da reunião que os jogadores exigiram, avisando que não queriam disputar a Copa América.
Haverá a manifestação dos atletas e do próprio treinador após a partida contra o Paraguai, amanhã. Eles irão se posicionar em relação à Copa América.
O treinador não quis adiantar nada sobre o que farão.
"O tempo das manifestações é o nosso tempo, o que nós entendemos ser correto, quando falo nós, é comissão técnica e atletas. Temos orgulho muito grande da conduta que temos, do respeito que temos a esse momento e ao nosso. Quero sim, estar de corpo e alma, fazendo o melhor trabalho possível. Queremos jogar bola e fazer um grande jogo contra o Paraguai."
Tite teve de admitir que a turbulência vivida nestes últimos dias atrapalhou a preparação da seleção para o jogo de amanhã.
"Ela (preparação) tem sido bastante difícil, porque o momento social é esse. As pessoas acham que temos que ter opinião para tudo. Nós temos que ter capacidade e lugar de fala sobre o que nos diz respeito. É isso o que fazemos com muito amor e paixão."
"Nós temos dito que temos uma capacidade e inteligência emocionais muito grandes, para saber filtrar as situações, ter tranquilidade, sensatez, apesar das provocações que fazem. Claro que atrapalha, sim, é desafiador. Vamos precisar disso de novo no jogo contra o Paraguai, essa abstração e foco. Externo isso de forma pública o que falei a eles."
Ele está ferido, mas ciente do mais importante.
Sobreviveu.
A saída de Caboclo foi um bênção para ele.
Ninguém acredita na CBF na negativa do presidente de que não iria demitir Tite. Ninguém.
O cargo de treinador da seleção é seu.
Só não será até a Copa, se Tite não quiser...
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