Nem pedradas no ônibus, pênalti não marcado, Peñarol desesperado. Nada evitou que o Botafogo fizesse história. Primeira final de Libertadores
O Botafogo conseguiu a classificação. O clima bélico no Uruguai só estimulou os jogadores, garantiu Artur Jorge. O técnico estava muito orgulhoso. A vantagem conseguida no Rio, 5 a 0, foi grande demais. A derrota por 3 a 1 garantiu os cariocas na sonhada decisão
O clima foi o mais tenso possível.
A pressão beirou o insuportável.
Mas o Botafogo conseguiu resistir.
As pedradas no ônibus antes da partida.
A volta atrás do árbitro chileno Piero Maza na marcação de um pênalti legítimo.
A pressão das dezenas de milhares uruguaios empurrando o Peñarol, apostando no milagre.
Nada disso deu certo.
O Botafogo, que havia goleado na primeira semifinal no Rio, por 5 a 0, se deu ao luxo de poupar jogadores fundamentais.
Luiz Henrique, Almada, Igor Jesus, Gregore, Marçal, Alexander Barboza estavam no banco de reservas.
Almada e Barboza foram obrigados a entrar.
E ajudaram a controlar toda a situação.
Mesmo com o time recuado demais, a derrota por 3 a 1 foi insuficiente para os adversários.
E o Botafogo conseguiu, pela primeira vez na sua história, chegar à final da Libertadores.
Enfrentará o Atlético Mineiro, em Buenos Aires.
Muito além da premiação de R$ 94 milhões oferecidos pela Conmebol, o clube carioca celebrava seu maior momento na sua história de futebol.
Ficou provado publicamente para o bilionário John Textor que não há uma articulação nos bastidores, complô de juízes, para prejudicar o Botafogo.
Não houve manipulação na classificação à sonhada final.
Foi mérito.
O futebol fez justiça.
O discurso ao final da partida, de Artur Jorge, foi mais do que objetivo.
“Nós tínhamos um objetivo muito claro, que era conseguir superar esse adversário no conjunto de dois jogos que tínhamos para fazer com eles na semifinal. O objetivo principal foi completamente atingido, que era chegar à final, um marco histórico. É isso que deve ser destacado, o fato de este grupo de jogadores conseguir pela primeira vez colocar o Botafogo em uma final de Libertadores. É um grupo de atletas que vai ficar na história do clube, pela forma com que conseguiram fazer toda uma trajetória desde os playoffs (a Pré-Libertadores)."
Ele também mostrou seu repúdio pelo que aconteceu fora do campo.
O clima tenso ultrapassou o aceitável no Uruguai.
“Chegamos no estádio com vidros quebrados e jogadores atingidos por pedras no ônibus. Temos que afastar isso e olhar para aquilo que é o jogo, porque nós viemos aqui para disputar e vencer o jogo e avançar na eliminatória. Mas a verdade é que os ataques têm impacto. As pedras que entraram no ônibus mexem no subconsciente dos atletas, portanto não podemos abdicar de falar sobre isso.”
O treinador conseguiu fazer seu time esquecer o trauma de 2023, de perder o Brasileiro, mesmo chegando a abrir 13 pontos de vantagem, na liderança.
O português teve também sorte. Mesmo colocando seu time atrás demais, ganhou um presente inesquecível de Aguerre.
O goleiro, que já estava irritado, não suportou no intervalo, quando John ironizava os torcedores uruguaios que o xingavam.
Foi quando Aguerre teve a brilhante ideia de pisar no pé do arqueiro botafoguense para vingar a torcida e foi expulso.
Com um a mais, o Botafogo seguia controlando o adversário.
Até que, aos 26 minutos do segundo tempo, Mateo Ponte foi expulso.
E igualou o número de atletas com o rival.
A partida já estava 2 a 0, gols lindíssimos de Jaime Baéz.
Mas o argentino Almada entrou.
E o campeão do mundo fez excelente tabela com Marlon Freitas.
Marcou, aos 42 minutos, ‘matando’ qualquer esperança dos uruguaios.
Nem o gol marcado por Batista, um minuto depois, mexeu com a convicção botafoguense de chegar à decisão da Libertadores.
E foi o que aconteceu.
O time brasileiro se defendeu muito bem e segurou a ‘derrota’ favorável.
Saiu do Centenário com a sonhada vaga à final.
“Era um jogo que tínhamos que olhar para ele, gostem ou não, a vitória ficou 6 a 3. Vencemos claramente no primeiro jogo. Tivemos aqui movimentos de jogo que foram estranhos para nós. Estranho pela vantagem que tínhamos, estranho por alguns momentos onde abdicamos de jogar, estranho em que, durante o segundo tempo, estávamos a dominar por completo com um a mais e tivemos um pênalti e não deixaram a gente concluir o lance. (O pênalti foi injustamente anulado pelo VAR, com a conivência do árbitro chileno.)
“Sei que nós vamos olhar para o resultado, mas temos que fazer uma análise cuidada sobre aquilo que é o jogo. Um jogo onde nos fizemos momentos mais defensivos inconscientemente, e só quem está lá dentro sabe. Quem só comenta e vê é impossível sentir aquilo que os jogadores sentem.”
Ambicioso, Artur Jorge conseguiu chegar à decisão da Libertadores poupando jogadores essenciais do Botafogo para as partidas finais do Brasileiro.
Ele tentou traduzir o sentimento de comandante que levou o clube à partida mais importante de sua existência.
“O meu sentimento é de poder entregar à apaixonada torcida do Botafogo o momento que estamos a viver. Esta vitória é para eles, para aqueles que sempre acreditaram, aqueles que já sofreram com o Botafogo e continuam fiéis.
“Saber que estamos dando mais alegria aos botafoguenses. Quando saí de Portugal para abraçar este projeto foi acompanhado do Franclim, do João, do André e do Tiago (seus auxiliares). Depois de ganharmos um título em Braga, falamos que seria importante ter esse projeto pela frente, com um sentimento que tinha que valer a pena. E hoje eu digo que vale a pena por aquilo que nós apostamos nesse projeto. Por quem também apostou em nós, pelos jogadores que temos à disposição para poder sonhar em atingir esses patamares. Estou extremamente feliz e muito satisfeito.”
Dois clubes brasileiros decidirão a Libertadores pela sexta vez.
Resultado imprevisível entre Botafogo e Atlético Mineiro...
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