Nem Batman, Homem-Aranha ou Homem-Formiga. Apenas Neymar
A comparação do jogador a um super-herói foi descabida. A fratura é séria. Ninguém está assistindo a um filme, para desespero do PSG e da Seleção
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
"Tipo filme de super-herói...
No começo parece que vai dar tudo errado, né?
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Aí vem o final.
E nos mostra que (se) lutar por seus objetivos vem a vitória."
Esta foi a postagem que o capitão da Seleção Brasileira e, jogador mais caro da história do futebol, publicou ontem ao saber que ficará 70 dias longe do futebol.
A foto escolhida por ele foi a que ele aparece de costas, com suas duas imensas tatuagens.
Abaixo de sua clavícula direita, o desenho do Batman.
Embaixo da clavícula esquerda, o Homem-Aranha.
Sim, Neymar se comparou a um super-herói.
A cinco de dias de completar 27 anos.
Pai de um menino de sete anos.
A publicação no seu instagram não teve a repercussão esperada.
Não foi possível avaliar pelos comentários, já que qualquer crítica a Neymar não é publicada.
Há funcionários encarregados de apagar críticas, questionamentos.
Nas redes sociais, que não consegue controlar, as respostas foram péssimas.
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A reação foi negativa no mundo todo.
Não houve aceitação da comparação.
Há motivos.
Super-herói na definição do dicionário Michaelis é autoexplicativo. Personagem de ficção dotado de poderes sobre-humanos, criado em revistas em quadrinhos e modernamente pelo cinema, geralmente para combater o bem contra o mal, ajudar os desprotegidos e livrar a sociedade de indivíduos ou situações perigosos.
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E, por extensão, 'indivíduo que, por sua coragem, nobreza de caráter e comportamento exemplar, se parece com um super-herói'.
A definição não encaixa em qualquer ser humano real.
Também não enquadra Neymar.
É impossível imaginar um altruísta super-herói ficar histérico ao saber que não cobraria um pênalti, xingasse seu treinador de todos os palavrões, diante das câmeras, por escolher outro atleta para bater. Provocar a demissão do seu comandante.
Ou, após conseguir a medalha de ouro olímpica, encarar as câmeras e a avisar aos jornalistas que cobravam melhores atuações que eles teriam de 'engoli-lo'. E em seguida, em plena volta olímpica, ir xingar, derrubar a cerveja de torcedores que o vaiavam. Lógico que cercado de seguranças.
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Ou saber que o pai aceitou R$ 40 milhões como sinal do Barcelona, dias antes de enfrentar o time catalão na final de um Mundial, com a camisa do Santos.
Ou ter nos pais, nos avós a indiscutível afrodescendência e responder de uma maneira mais absurda ao questionamento do jornal Estado de São Paulo se sofreu discriminação racial.
"Nunca. Nem dentro e nem fora de campo. Até porque eu não sou preto, né?"
Simular é sinônimo de enganar.
E ele virou piada mundial por simulações durante a Copa do Mundo da Rússia.
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Seu nome virou senha para crianças se atirarem ao chão, fingindo terem sofrido pontapés.
Memes,com o jogador girando até a Lua por conta de faltas de times rivais, dominaram o planeta.
Desde o início da carreira, adversários denunciam suas provocações.
Exige a camisa 10, cobrar todos os pênaltis, as faltas perto da área, que desejar.
Que tipo de herói é esse?
Deadpool?
Hulk?
Homem-Formiga?
Já foram publicados inúmeros trabalhos psicológicos sobre os problemas dos super-heróis mais cultuado do universo pop.
A depressão é companheira de Batman, desde que acompanhou o assassinato dos seus pais, quando era menino. Daí sua necessidade de solidão. Quando surgiu, em 1939, criado pelo escritor Bill Finger e pelo artista Bob Kane, a vingança contra os bandidos foi a principal característica.
A culpa persegue o Homem-Aranha por não ter prendido o bandido que mataria seu tio, que o criou, com muito sacrifício. A inadequação na escola e no trabalho, a dificuldade no convívio com outras pessoas, principalmente com os críticos, são marcas do personagem de Stan Lee.
Vários atletas já se compararam a super-heróis.
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E o desfecho não foi bom.
O mais recente para os brasileiros foi Anderson Silva.
O lutador de MMA de 43 anos tem fixação pelo Homem-Aranha.
Ao começar a luta, ele imita a pose do personagem, agachado, como se estivesse em frente à uma teia. Com os joelhos dobrados.
Se for psicologicamente levado a sério, é assustador.
No auge da carreira, em agosto de 2012, ele chegou a publicar uma foto na qual aparecia metade do seu rosto e metade de uma máscara rasgada do herói.
"Meu alter ego", escreveu.
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A expressão vem do latim e significa, literalmente, meu outro eu.
E ainda publicou fotos de pijamas do personagem.
Anderson Silva perdeu seu cinturão por provocar, brincar, desprezar Chris Weidman, lutador com muito menos recurso do que ele. Tomou um direto em julho de 2013 que fez sua carreira despencar.
Depois, foi pego duas vezes em exames antidoping.
Usou substâncias proibidas para lutar.
É justo com o Homem-Aranha?
Neymar percebeu o erro que cometeu.
Como, por encanto, a foto de costas, comparando a grave segunda fratura no quinto metatarso a um filme de herói, sumiu. Não está mais no seu instagram oficial.
Bom senso.
Despertar para a realidade.
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Perceber a visão infantilizada do que publicou.
Irritação com as críticas.
Seja o que for.
Mas não havia o menor cabimento sua postagem.
Como todos, ele está longe de ser um super-herói.
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É o jogador mais caro de todos os tempos.
Está milionário.
Seus bisnetos não terão problemas financeiros.
Mas jamais ganhou uma Copa.
Não foi o melhor do Mundo.
Está perdendo o posto de maior estrela no PSG.
Para Mbappé, francês e ganhador de Copa.
Continua com o péssimo hábito de provocar adversários.
Exige centralizar o jogo, quer na Seleção ou no PSG.
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Que teve a segunda fratura em um osso do pé.
E tenta escapar de nova operação.
Só isso.
Ele precisa se enxergar de verdade no espelho.
Não verá o Homem-Aranha.
O Batman.
Nem mesmo o Homem-Formiga.
Verá um homem talentoso, vencedor.
Determinado quanto inúmeros outros trabalhadores.
E cheio de defeitos quanto qualquer outro homem.
Não é também um vilão.
Ele é um jogador de futebol.
Que tem contusão grave.
Precisa parar de provocar adversários.
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As consequências estão no seu osso fraturado.
Entender o quanto o Brasil e o PSG dependem dele.
Não tem o direito de colocar uma toalha nas costas.
E fingir que é uma capa mágica.
Não é mais um menino, como diz Edu Gaspar.
Há muito tempo.
Neymar não é um super-herói.
A vida não é um filme.
Alguém precisa ter coragem de avisá-lo...
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