Tite viaja para a Europa. Para cobrar seriedade na fraca Copa América

Rio de Janeiro, Brasil

Tite deixou claro que, para ele, a ressaca do fracasso do Brasil na Copa do Mundo acabou.

Só que mais do que ninguém, o treinador percebeu que seu prestígio de 'encantador de serpentes', como o qualificou Diego Lugano, em relação aos jornalistas, terminou.

Ele precisa fazer valer o privilégio que Rogério Caboclo garantiu ao treinador, a chance de ser o primeiro a seguir o ciclo de quatro anos na Seleção, mesmo depois de ser eliminado em uma Copa do Mundo.

O voto de confiança foi dado. 

Mas passa necessariamente pela conquista da fraca Copa América que começará a partir de junho.

E o treinador não é nada omisso.

Entendeu que precisa se movimentar.

Porque se aqui, no continente sul-americano, poucos levam a sério a atual Copa América, na Europa menos ainda.

Para evitar que os principais atletas afrouxem ao saber que o grupo do Brasil conta com Bolívia, Venezuela e Peru, Tite embarcará neste final de semana para a Europa. Passará por França, Espanha e Inglaterra. 

Além do planejamento, a Copa América será disputada justamente nas férias dos que atuam no Velho Continente, o técnico quer deixar claro aos seus jogadores que a Seleção Brasileira tem a obrigação de vencer a competição.

Não só para que o próprio Tite permaneça.

Mas dar uma chance real ao grupo que fracassou na Rússia tenha o direito de sonhar com a redenção, no Catar.

"Eu e Edu viajaremos no fim de semana para acompanhar jogos de PSG, Barcelona, Real Madrid e Liverpool. Para ter conversa com atletas e profissionais, vamos acelerar todo o processo."

Tudo o que o técnico não quer é desprezo das estrelas brasileiras à competição. E muito menos pedidos de dispensas desnecessárias.

Além de deixar claro a responsabilidade do Brasil diante da Copa América, Tite terá a preocupação de conversar com Neymar. Ele quer detalhes de sua contusão no metatarso direito. A importante informação de que uma nova cirurugia não será necessária já chegou a Tite. Mas ele quer conversar com seu capitão.

Repercutiu na Comissão Técnica do Brasil as declarações dos jogadores do Strasbourg que, Neymar provoca, e por isso recebe pontapés. Tite não quer que o principal jogador de sua seleção deixe o seu estilo driblador. Mas a insistência com que adversários garantem a postura irônica do brasileiro e respondem com violência 'justificada' é algo perturbador. Eles acreditam mesmo que têm o direito de chutar o atacante. 

Há a exposiçao perigosa e desnecessária.

Neymar fará 27 anos em fevereiro e esse problema o persegue desde os tempos de garoto no Santos, com 13 anos. Tite quer previni-lo da chance de contusão grave.

Tite estava disposto a falar, ontem após o sorteio.

Mas não pôde.

Os 28 minutos que ficou à disposição dos jornalistas foram mal aproveitados.

Ele já havia dado entrevista exclusiva ao Sportv dentro da Cidade das Artes.

Depois, conduzido pelo braço pelo assessor de imprensa da CBF, Vinicius Rodrigues, foi se encontrar com cerca de 100 profissionais entre jornalistas e câmeras que o aguardavam fora do complexo. 

Primeiro, outra entrevista exclusiva para o Sportv e outra para a Globo. Depois, os repórtes e cinegrafistas se espremeram para tentar ouvir o treinador. Em uma área apertadíssima de 20 metros. Estava um calor insuportável. Tite suava. E era obrigado a responder as mesmas perguntas feitas pelas emissoras que detêm o direito da Copa América. 

A corda que separava o treinador dos jornalistas foi rompida, lógico.

"Se vocês não se afastarem agora, derem três passos para trás, eu levo o Tite embora!", ameaçava, irritado o assessor de imprensa.

Os jornalistas obedeceram.

Um segurança teve de ficar ajoelhado a esticando.

Tudo era truncado, não rendia. O treinador mal tinha tenho de expor o que pensava. Para acelerar e fazer com que Tite passar pelos 20 metros de jornalistas, Vinicius Rodrigues o puxava pelo braço. E avisava ao grupo que se acotovelava perto do técnico: "Acabou, acabou." 

E lá iam eles, para dar mais três passos, e chegar outro grupo de jornalistas e cinegrafistas.

Foi assim até o "acabou" definitivo.

Situação desgastante, desnecessária.

A Cidade das Artes na Barra da Tijuca é um complexo com várias salas artísticas.

Bastaria ter organizado uma coletiva de 30 minutos para Tite.

E tudo seria muito menos desgastante.

Ficou superficial, raso.

Tite tinha muito mais a falar sobre o recomeço do seu ciclo de competições.

Foi impossível...

(A assessoria da CBF confirmou que Tite viajará amanhã para a Europa. E domingo já se encontrará com Neymar. Terá muito o que falar...)