MP: indenizações milionárias pelos meninos mortos do Flamengo
Se cumprir sua promessa, o Ministério Público do Trabalho obrigará o clube carioca a pagar muito caro cada uma das dez mortes no incêndio
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Arthur Vinicius, 14 anos.
Athila Paixão,15 anos.
Bernardo Pisetta, 14 anos.
Christian Esmério, 15 anos.
Gedson Santos, 14 anos.
Jorge Eduardo, 14 anos.
Pablo Henrique, 14 anos.
Rykelmo de Souza Viana, 16 anos.
Samuel Thomas, 15 anos.
Vitor Isaías, 14 anos.
Toda uma geração foi perdida.
De muito talento, de acordo com quem acompanha de perto a categoria de base: empresários e agentes de futebol.
A direção do Flamengo tinha plena consciência do que possuía.
Os dirigentes se defendem.
Dizem que haviam construído um Centro de Treinamento maravilhoso, o melhor da América do Sul, para os profissionais, atendendo pedido de Muricy Ramalho, feito em 2016.
Foi ele quem orientou o ex-presidente Eduardo Bandeira de Mello como deveria ser o CT.
Inspirado nas visitas a clubes europeus e também no São Paulo.
A inauguração aconteceu no dia 30 de outubro de 2018.
Para os profissionais, tudo.
Foram gastos R$ 23 milhões.
Aos garotos foi prometido a transferência às dependências que os profissionais usavam.
Enquanto elas eram reformadas, os meninos ficariam em contêiners adaptado.
O dicionário revela a definição.
Contêiners: reservatório que, geralmente construído em metal ou madeira, se destina ao armazenamento e/ou transporte de cargas em embarcações. Navios, trens, aviões etc.
Foram espalhadas camas, televisões e aparelhos de ar condicionados nesses contêiners.
De acordo com a prefeitura do Rio de Janeiro, na área onde estavam essas gigantescas caixas havia a liberação para um estacionamento. Não para um dormitório.
Para a imprensa, a assessoria de imprensa municipal esclareceu.
"Não há registros de novo pedido de licenciamento da área para uso como dormitórios".
"Por determinação da legislação em vigor, a coordenação de licenciamento informa que só há inspeção neste tipo de edificação em casos de denúncia."
"A área de alojamento atingida pelo incêndio, não consta do último projeto aprovado pela área de licenciamento, em 05/04/18, como edificada".
O Flamengo se defende.
A alegação dos dirigentes era que os meninos ficariam temporariamente nos contêiners.
E seriam deslocados a partir das próximas semanas para o antigo CT dos profissionais.
Mas a transferência 'das próximas semana' estava atrasada quatro meses.
Nem os meninos e muito menos seus familiares iriam reclamar do improviso.
Eles estavam começando a realizar seus sonhos.
Defendiam as cores do clube mais popular do Brasil.
Recuperado financeiramente.
Todos acreditavam não haver risco algum.
Talvez também os novos dirigentes do Flamengo.
Já que nem o Certificado de Aprovação definitivo do Corpo dos Bombeiros do Rio de Janeiro, o clube tinha para o dormitório dos meninos.
Veio o incêndio, traiçoeiro, na madrugada de hoje.
Tudo indica por conta de um curto circuito nos aparelhos de ar condicionado nos contêiners.
E a morte das dez promessas, dez garotos, dez meninos.
Levou ao hospital mais três.
Cauan Emanuel, 14 anos, Francisco Dyogo, 15 anos e Jonatha Cruz, 15 foram salvos pelos bombeiros. O pior, em estado grave, é Jonatha Cruz, com 30% do corpo queimado.
O caso não tem precedentes no Brasil.
A ponto de o Ministério Público do Trabalho decidir por uma força-tarefa.
De forma inédita, alegar que os atletas foram mortos por acidente de trabalho.
E exigir ressarcimento financeiro do clube da Gávea.
Ordenar que o Flamengo pague a cada família dos meninos o dinheiro que eles ganhariam, se tivessem tido tempo para ter uma carreira no futebol.
O MPT quer que o clube se responsabilize financeiramente.
Algo que tem tudo para mudar o atual quadro reservado às categorias de base neste país.
A situação do Flamengo é complicada.
Os procuradores que trabalham no caso são do Núcleo de Defesa do Meio Ambiente de Trabalho. E do Núcleo de Combate à Exploração do Trabalho da Criança e do Adolescente.
Apesar de a lei só prever profissionalismo a partir de 16 anos, não há como discutir que todo os meninos mortos e feridos estavam em 'situação de trabalho'.
O Ministério Público do Trabalho dará um presente inestimável se realmente fazer valer o que está prometendo. E cobrar indenizações milionárias às famílias dos garotos.
Se o futebol deste país precisava de uma tragédia para mudar a situação dos meninos nos clubes, ela chegou.
No time mais popular do Brasil, dez meninos morreram dormindo em contêiners.
O que é mais preciso para as autoridades cumprirem seu papel?
Porque se no Flamengo a situação estava dessa maneira, na esmagadora maioria dos clubes é muito pior.
Basta o Ministério Público do Trabalho colocar seus auditores para trabalhar. Não só no Rio de Janeiro, onde as manchetes são garantidas. É preciso rasgar o Brasil, de Norte a Sul.
Inclusive nos inúmeros CTs de agentes, de empresários.
É repugnante.
Intolerável o que aconteceu no Flamengo.
Meninos dormindo indefesos em contêineres não é tragédia, fatalidade.
Que o luto não sirva de cortina de fumaça.
Foi gravíssimo o que aconteceu no Ninho dos Urubus.
Que os auditores tenham coragem de fazer seu trabalho.
Sem ceder à pressão alguma.
Basta lembrar de como estão as famílias destes meninos.
E que ontem sonhavam com os nomes dos filhos, sobrinhos, enteados, irmãos conhecidos no Brasil todo.
Mas não desta maneira terrível.
Que o MP faça que tenham ao menos conforto financeiro.
Já que é impossível resgatar as dez preciosas vidas.
E que não podem ser esquecidas.
Arthur Vinicius, 14 anos.
Athila Paixão,15 anos.
Bernardo Pisetta, 14 anos.
Christian Esmério, 15 anos.
Gedson Santos, 14 anos.
Jorge Eduardo, 14 anos.
Pablo Henrique, 14 anos.
Rykelmo de Souza Viana, 16 anos.
Samuel Thomas, 15 anos.
Vitor Isaías, 14 anos.
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.