Marta, sexta vez a melhor. No Brasil, o futebol feminino no abandono
A escolha da brasileira surpreendeu. Foi a maior zebra na premiação da Fifa. Enquanto isso, por aqui, o futebol feminino segue desprezado
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
"Estou sem palavras."
E tinha de estar.
Marta foi a grande surpresa na festa da premiação da Fifa.
Aos 32 anos, ela ganhou pela sexta vez a premiação de melhor jogadora do mundo.
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Desbancou as favoritas do Lyon, pentacampeão da Champions League : norueguesa Ada Hegerberg e a alemã Dzsenifer Marozsan.
A brasileira de talento individual excelente não tem uma conquista significativa para justificar o prêmio. Venceu com o Brasi a Copa América, na verdade, o Sul-Americano. A Seleção enfrentou times fraquíssimos, sem a menor estrutura. E ganhou o torneio.
Garantiu a vaga na Copa do Mundo da França. Além da Olimpíada.
Marta fez um dos 31 gols que o Brasil marcou.
Em 2017 foi vice artilheira da NWSL. Marcou 13 gols e deu nove assistência. Seu time, o Orlando Pride caiu nas semifinais. Ganhou como melhor jogadora da Liga Norte-Americana por quatro meses seguidos, de junho a setembro. Foi escolhida para a Seleção da Concacaf.
Mas a jogadora estava na vexatória campanha na Taça das Nações.
Marta havia vencido por cinco vezes o prêmio de melhor do mundo. Nas edições 2006, 2007, 2008, 2009 e 2010. Fazia oito anos que não recebia o troféu.
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E por mais orgulho e patriotismo para o futebol brasileiro, a premiação foi mais pelo passado da jogadora do que pelo seu potencial atual. Ela está jogando abaixo do que já jogou.
Daí a supresa até na indicação.
"Estou sem palavras. É um momento fantástico. E as pessoas falam pra mim assim: “Você já esteve nessa posição tantas vezes, e todas as vezes você se emociona”. E realmente, eu faço isso todas as vezes, porque isso representa muito para mim.
"Desde o primeiro momento que eu realmente enxerguei que era a melhor coisa que eu sabia fazer na vida, que é praticar esse esporte tão fantástico. Agradeço a Deus por me dar saúde para continuar. Não posso deixar de agradecer às minhas companheiras do clube e da Seleção Brasileira, aos fãs e aos jornalistas que me acompanham. Só tenho a agradecer. É um momento mágico. Obrigada."
A CBF, lógico, tentou capitalizar a conquista da jogadora.
No site da entidade está a foto de Marta, com o troféu.
Mas Rogério Caboclo, que está em Londres, e deve surgir em breve com selfies ao lado de Marta, deveria lembrar. Embora vá assumir publicamente a presidência da CBF, ele já a exerce de fato desde o final da Copa do Mundo.
E sabe muito bem o quanto está abandonado o futebol feminino no país.
Tem plena consciência da ojerija que os clubes têm em relação ao assunto.
Tanto que desprezaram solenemente o acordo com o Profut.
Quando a ex-presidente Dilma Rousseff parcelou em 20 anos a dívida de R$ 4 bilhões dos clubes com o governo, em multas e impostos atrasados, exigiu, entre outras coisas, que cada equipe que se aproveitasse dessa facilidade negada ao cidadão comum e às empresas, que formasse um time feminino.
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A grande maioria dos clubes grandes deste país aceitou o parcelamento. Para depois acionar a Bancada da Bola, políticos ligados ao futebol, em Brasília. E fizeram questão de enterrar as exigências de Dilma.
Entre elas, lógico, a criação de uma equipe profissional de futebol feminino.
E a CBF não se envolveu na questão.
Aliás, a entidade bilionária pagou ao Santos Futebol Clube a premiação de R$ 120 mil pelo título nacional. Nada menos do que 141 vezes menos que foi pago ao time masculino do Corinthians, R$ 17 milhões.
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A Caixa Econômica Federal deixou de bancar o Brasileiro. Não quis colocar mais R$ 10 milhões em um torneio sem repercussão alguma. As tevês Brasil, Sport TV e Band Sports, pararam de mostrar o torneio.
Marta está feliz, surpresa.
Merece pela sua história ser a recordista de prêmios como a melhor do mundo.
Mas o futebol feminino no país segue jogado às traças.
Com torneios piratas.
Sem a menor repercussão no país do futebol...
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