Cosme Rímoli 50 anos do goleiro mais amado da história do Palmeiras. 'Não volto ao futebol para não manchar minha história.' Marcos

50 anos do goleiro mais amado da história do Palmeiras. 'Não volto ao futebol para não manchar minha história.' Marcos

Divertindo-se nas redes sociais e aproveitando a família e o patrimônio que construiu, Marcos não quer saber de trabalhar com futebol. Aos 50 anos, continua sendo um dos maiores ídolos da história do Palmeiras

  • Cosme Rímoli | Do R7

Não quis ser dirigente. Não quis estragar sua história como ídolo. O goleiro mais amado no Palmeiras

Não quis ser dirigente. Não quis estragar sua história como ídolo. O goleiro mais amado no Palmeiras

Reprodução/Twitter

São Paulo, Brasil

"Não vou ser técnico, de jeito nenhum.

"Não iria aguentar jogador como eu, reclamando no meu ouvido.

"Não tenho joelho para ser preparador de goleiros.

"Comentarista também não quero. Não vou ser traíra de ficar criticando jogador, que passa por problemas que ninguém imagina. Nem vou fingir que o cara não jogou bem. Então, deixa quieto.

"Não vou ser dirigente. Pior ainda. Se eu contrato um jogador vão falar que eu estou roubando o clube, ganhando dinheiro por fora. Se eu não contrato, a mesma coisa.

"Não!

"Eu tenho uma história limpa no futebol, me orgulho dela. 

"E é ela que vai ficar."

Essas declarações foram "arrancadas" de Marcos em uma agência de banco perto do Palmeiras, há alguns anos.

E ele cumpriu a promessa, apesar de ter recebido inúmeros convites. 

O Palmeiras o quis três vezes para trabalhar como elo entre os jogadores e a diretoria. Foram três "não". 

A Band o quis como comentarista.

Outro "não".

Aos 50 anos, completados hoje, ele decidiu desfrutar a vida ao lado de sua família.

O pentacampeão mundial, campeão da Libertadores, dono das declarações sinceras demais para o futebol deste país construiu um patrimônio. 

O criador da função de preparador de goleiros, o saudoso Valdir de Moraes, me confidenciou quanto Marcos sofria com dores insuportáveis nas mãos, nos tornozelos, nos joelhos. Infiltrações, analgésicos, lágrimas, coragem e muitos palavrões o fizeram entrar em campo em partidas decisivas. E praticar defesas sensacionais.

Marcos se diverte nas redes sociais. Não quis ser comentarista de futebol para não criticar jogadores

Marcos se diverte nas redes sociais. Não quis ser comentarista de futebol para não criticar jogadores

Reprodução/Instagram

Tive a sorte de acompanhar o excepcional goleiro desde o seu início, como titular do Palmeiras, até sua aposentadoria. 

Soube de sua existência em Atibaia, em 1993, quando a imprensa podia acompanhar de muito perto os treinamentos. E até se hospedar no mesmo hotel dos jogadores, na pré-temporada. 

Eu e outros jornalistas estávamos esperando o treinamento quando ouvimos vários palavrões vindos do campo onde os reservas se aqueciam. Era Marcos xingando porque seu tornozelo esquerdo não estava recuperado, e ele acreditou que poderia treinar. Ele não se importou com o constrangimento geral.

Marcos foi sempre assim, sincero.

Carregava a santa raiva de ter sido desprezado pelo Corinthians. Foi o grande rival seu primeiro clube, quando deixou o Oriente, decidido a ser jogador da elite do futebol brasileiro. O grande talento não foi reconhecido. E abandonou o time ao não ser relacionado para a Taça São Paulo de Futebol Juniores.

Por isso a felicidade era diferente quando derrotava o clube do Parque São Jorge.

Como quando defendeu a penalidade de Marcelinho Carioca e fez o Palmeiras se classificar para a final da Libertadores de 2000.

O Palmeiras sabia de seu potencial e foi lá que conseguiu 20 anos de campanhas memoráveis, fracassos inesquecíveis e a certeza de que foi um dos maiores goleiros da história deste país.

A decisão de continuar no clube, na segunda divisão, logo depois de ser pentacampeão do mundo, foi a prova de amor definitiva, eterna, com a torcida palmeirense. Postura que cativou, de vez, a admiração dos adversários.

Marcos teve proposta para jogar no Arsenal. Era uma quantia altíssima para um goleiro — na época, US$ 4 milhões, cerca de R$ 19,3 milhões. 

Goleiro do pentacampeonato mundial. Atuações sensacionais. Dida e Rogério Ceni no banco

Goleiro do pentacampeonato mundial. Atuações sensacionais. Dida e Rogério Ceni no banco

Reprodução/Twitter

Há duas questões. Primeiro, os exames médicos. Os ingleses não acreditaram que, com tantas dores, ele pudesse ser o excepcional goleiro que era. E depois, o lado emocional. Marcos chegou em janeiro de 2003, o auge do inverno em Londres. Ele poderia ter treinado, provado que jogaria em alto nível, apesar das dores nos joelhos, nos tornozelos, nas mãos. 

Mas preferiu voltar. Tinha clubes interessados nele no Brasil. Optou por seguir no Palmeiras e foi para a aventura na segunda divisão. 

"Fomos nós que colocamos o Palmeiras no buraco, nós é que vamos tirar", disse, na época.

Marcos, além do excepcional talento, entrou de vez na memória emotiva dos torcedores palmeirenses.

Primeiro goleiro campeão da Libertadores.

Ele se penitencia até hoje por uma das raras falhas, no Mundial de Clubes, contra o Manchester United, no gol que deu a vitória aos ingleses.

"O Marcão tem tanta culpa quanto nós. Perdemos várias chances de fazer gol neles. Ele tem de parar com essa bobagem", me disse o ex-meia Alex.

Tranquilo financeiramente, graças aos seus investimentos em imóveis, Marcos desfruta a vida em família que tanto queria.

E adora as redes sociais para provocar rivais.

"Minha carreira foi muito intensa. Trabalhei e sofri muito. Sou grato demais ao futebol, ao Palmeiras, aos palmeirenses e aos rivais, que eu sacaneio e me sacaneiam. Mas eu quero aproveitar o que eu construi. Junto com a minha família."

E ele está aproveitando.

Feliz 50 anos, Marcos.

Obrigado pelas manchetes.

E pela "entrevista" no banco.

Weverton pode ser até melhor.

Mas não haverá nenhum goleiro tão sincero, tão "bocudo"...

E tão amado no Palmeiras quanto você...

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