Justiça. O Fortaleza ocupa o seu lugar. Finalista da Sul-Americana. O Corinthians, o seu. Eliminado
Jl Rosa/ AFP - 04.10.2023São Paulo, Brasil
De nada adiantou trocar Luxemburgo por Mano Menezes.
Não houve o "tratamento de choque", sonhado pela direção, com o novo treinador.
O Corinthians foi o mesmo time acuado, acovardado, jogando como equipe pequena, sua marca registrada em 2023, ano em que ficará sem título algum.
Aliás, o ano terminará como tem sido desde que Duilio Monteiro Alves assumiu a presidência, em 2021. São quatro anos sem o Corinthians ser campeão. Só o ex-presidente Roberto Pasqua, há 36 anos, conseguiu fracasso igual.
Neste ano, em dez meses, foram quatro treinadores e um interino. Fernando Lázaro, Danilo, Cuca, Vanderlei Luxemburgo e Mano Menezes. O clube foi eliminado do Paulista pelo Ituano, caiu na fase de grupos na Libertadores. Foi desclassificado da Copa do Brasil na semifinal diante do São Paulo. E, ontem, da Sul-Americana.
Na partida decisiva da semifinal, o Corinthians perdeu por 2 a 0 para o Fortaleza, este, sim, atuando como gigante, imprensando seu adversário na defesa, até conseguir a vitória.
Gols de Yago Pikachu e Tinga. O placar foi muito modesto, tamanho o domínio da excelente equipe montada pelo argentino Vojvoda. Foram 19 arremates contra nove corintianos. No primeiro tempo foram 12 a 3!
Cerca de 60 mil torcedores fizeram uma festa inesquecível no Castelão.
Pela primeira vez o clube disputará a final de um torneio internacional. Há seis anos, o Fortaleza estava na Série C. Graças a um plano de reestruturação incrível, conseguiu esta reviravolta.
A decisão será no Uruguai, contra LDU ou Defensa y Justicia.
A partida no Ceará foi exatamente como prevista.
Depois do 1 a 1 em Itaquera, atuando muito melhor que o Corinthians, o Fortaleza, mesmo sem Marinho, contundido, assumiu o protagonismo do jogo. Atuando de forma escancarada, valente, no 4-3-3. Mano Menezes optou pelo defensivismo, pelo medo tático. Colocou seu time no 4-5-1. Aceitando que o time cearense tivesse o domínio do jogo, sonhando em encaixar um contragolpe. Tal qual Luxemburgo faria.
Pikachu comemora o primeiro gol do Fortaleza. O time cearense merecia ter goleado o Corinthians
LUCAS EMANUEL/AGIF - AGÊNCIA DE FOTOGRAFIA/ESTADÃO CONTEÚDO - 03.10.2023O Fortaleza mostrava muito talento e movimentação constante do meio para a frente. Trocando passes em velocidade, explorando, sem dó, os dois laterais veteranos do Corinthians. Principalmente Fábio Santos, com seus 38 anos.
Fagner, 34 anos, ainda mostrou mais energia, convicção, na marcação.
Caio Alexandre, José Welison e Pochettino dominaram as intermediárias, à vontade. Mesmo enfrentando cinco jogadores, tentando proteger a entrada da área corintiana. Tinga e Bruno Pacheco desciam, como pontas. Pikachu, Lucero e Guilherme enlouqueciam a zaga corintiana e transformavam Cássio no grande responsável para a semifinal não terminar em goleada.
O Corinthians teve uma única grande estocada, chance clara de gol. Moscardo tomou a bola na intermediária e deu a Renato Augusto. Dele, o passe excepcional para Yuri Alberto, cara a cara com João Ricardo, chutar em cima do goleiro do Fortaleza. Seria injustiça demais para o futebol.
O Fortaleza seguiu dominando a partida. E o Corinthians lutando atrás, sendo massacrado, mas sonhando com a decisão por pênaltis, apostando tudo em Cássio.
Mas veio o segundo tempo e, logo aos três minutos, acabou a covarde aposta corintiana. Yago Pikachu. Ele ganhou a sobra de bola de Fábio Santos e fuzilou Cássio. 1 a 0, mais do que merecido.
O Fortaleza seguiu com suas linhas adiantadas e, seis minutos depois, Bruno Pacheco cruzou da esquerda, a bola encobriu Fábio Santos e chegou para cabeçada forte, certeira, de Tinga, 2 a 0. O Corinthians não teve como reagir. O time nordestino seguiu pressionando, mas sem desespero, sabendo que a semifinal estava resolvida. E estava mesmo.
Tinga comemora o segundo gol. Bola encobriu Fábio Santos. Lateral não teve dificuldade para marcar
Mateus Lotif/FortalezaFortaleza na final, Corinthians mais uma vez eliminado.
Mano, há cinco dias no cargo, repassou o fracasso a Luxemburgo.
"A gente não tinha muito tempo para fazer uma coisa diferente. Tentamos observar coisas que tinham sido feitas até então, respeitar as decisões que trouxeram a equipe até aqui. Futebol tem que ser justo com jogadores que trouxeram a equipe [até a semifinal].
"Tentamos analisar o adversário, o tipo de jogo que fazia, e tomamos as decisões. Não creio que a equipe tenha problema de motivação ou preparação. A equipe tem dificuldades para jogar que me parecem claras, abordamos isso na apresentação. As escolhas levaram isso em consideração, tentar aproximar mais, fazer a equipe ter mais posse para não sofrer a pressão, que sabíamos que o adversário poderia fazer."
O treinador não teve como não reconhecer o domínio do Fortaleza no jogo. E acabou admitindo que seu time mereceu a derrota.
"Nos primeiros 45 minutos suportamos bem defensivamente, tivemos duas oportunidades de saída, uma clara [de Yuri Alberto], que poderíamos ter aberto o placar. O Fortaleza rondou nossa área com volume, escanteios, coisas que nos preocupavam, isso com um grande número nunca termina bem.
"Fomos ao intervalo, conversamos para fazer ajustes e tentar fazer transição mais elaborada por dentro para a saída de bola, mas voltamos sofrendo pelo lado direito (esquerdo defensivo).
"E num desses escanteios a bola voltou, bateu, rebateu. Os gols foram parecidos, o segundo foi de um escanteio que tiramos e levamos no rebote. A gente tentou, mas é pouco que a gente entregou como equipe para levar um resultado diferente."
Chorando, Fábio Santos sabia que foi o grande responsável nos dois lances que originaram os gols do Fortaleza. E afirmou que encerrará a carreira no fim deste ano. Percebeu que não conseguiria ficar mais uma temporada, como desejava.
"É difícil falar nesse momento, sei que está chegando ao fim minha carreira. Mais do que ninguém eu queria esse título para fechar com chave de ouro, queria dar essa conquista pros meus filhos. Tem sido um ano difícil, apanhando desde o começo, mas nunca me escondi. É difícil falar de cabeça quente, agora é achar motivação pra terminar a temporada e encerrar a carreira de forma digna", assumia o veterano lateral.
Por dignidade, Fábio Santos queria dizer evitar que o Corinthians fique ameaçado pela queda para a Série B no Brasileiro. O clube é o 13º, a quatro pontos da zona do rebaixamento.
Em termos de conquistas, 2023 acabou.
Exatamente como foi em 2021 e 2022.
O Corinthians se acostumou com fracassos nos últimos três anos...
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