Leila nunca teve tanto medo de perder Abel. Presidente do Palmeiras pensa em dobrar seu salário, para que não vá para o Catar
A proposta do Al-Sadd, de R$ 9 milhões por mês, a partir de 2024, implode o clima no Palmeiras, às vésperas da decisão do Brasileiro. Leila acena oferecer R$ 5 milhões para que o português fique até 2027
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Leila Pereira está descobrindo o que são os contratos no futebol.
E da pior maneira.
A multa rescisória é uma garantia parcial para que o jogador ou um membro da Comissão Técnica cumpra seu contrato.
Parcial, porque, se algum clube decidir pagá-la, não há meio legal de segurar o atleta ou o funcionário.
O Al-Sadd, do Catar, acompanha de perto o trabalho de Abel Ferreira.
No meio da temporada, tentou levar o treinador do Palmeiras.
Ele recusou.
O clube estava em plena disputa da Libertadores.
Como havia dito "não" a dois outros clubes da Arábia Saudita que o sondaram.
Ele havia dado sua palavra a Leila que não iria embora antes do fim da Libertadores de 2023, de "jeito algum", viesse a proposta que "viesse". Até mesmo uma sondagem do PSG foi recusada.
E foi o que ele fez.
Continuou no comando do Palmeiras.
A Libertadores foi perdida na semifinal, para o Boca Juniors.
Mas Abel conseguiu levar o Palmeiras à beira da conquista do Bicampeonato Brasileiro.
Pode ser o seu nono título.
Basta conseguir quatro pontos contra Fluminense, em casa, e Cruzeiro, em Belo Horizonte.
Mas o Al-Sadd voltou ao assédio a Abel Ferreira.
Revelação do companheiro de R7, Jorge Nicola, especialista em transações.
O interesse foi mesmo confirmado.
A Catar Sports League quer concorrer com a Saudi Pro League, a liga da Arábia Saudita, que já levou Cristiano Ronaldo, Neymar, Benzema, entre outros jogadores importantes, para o outro lado do mundo.
De acordo com Nicola, Abel poderia receber R$ 107 milhões por temporada. São R$ 8,9 milhões para serem divididos pelo treinador e sua Comissão Técnica.
O salário que o Palmeiras paga para o treinador e seus auxiliares é de 500 mil euros, cerca R$ 2,6 milhões. Ou seja, um terço.
A multa rescisória de Abel Ferreira é "baixa" para o padrão catari.
Três milhões de euros, cerca de R$ 16,1 milhões.
Ele tem contrato até o fim de 2024, quando acaba o mandato de Leila.
Abel sabe que seu trabalho no Brasil já foi espetacular para sua carreira.
Ele ganhou os títulos que precisava para se firmar no mercado.
Entre os nove, as duas Libertadores são cartões de visita para onde for. Fora a Copa do Brasil, o Brasileiro, a Recopa Sul-Americana, os dois Campeonatos Paulistas, a Supercopa do Brasil. E está a um passo de conquistar outro campeonato nacional.
Ou seja, sua missão está mais do que cumprida, para um treinador que, como profissional, treinou o modesto Braga, de Portugal, e o PAOK, clube médio da Grécia.
Ele tem apenas 44 anos.
Sabe que, se sair do Palmeiras, deixará as portas escancaradas. Não só no clube paulista, mas nas maiores equipes do Brasil.
Em termos de tempo de trabalho, três anos, e títulos, nenhum treinador ganhou mais do que ele na história do Palmeiras. Na frieza dos números, só Oswaldo Brandão venceu dez torneios. Vanderlei Luxemburgo também venceu oito vezes. Mas os títulos do português são muito mais importantes do que os da dupla.
A notícia dada ontem por Nicola mexeu com os bastidores do Palmeiras.
O blog verificou que Leila Pereira está disposta a fazer uma "loucura".
Não pagar os mesmos R$ 9 milhões por mês.
Mas chegar perto de dobrar o salário de Abel.
Desde que ele prorrogue seu contrato.
Por três temporadas, até 2027.
O motivo é óbvio: Leila concorrerá a um segundo mandato de três anos.
A eleição será em 2024.
Um milhão de euros, R$ 5,4 milhões, a cada 30 dias.
Há, no entanto, um grande entrave.
Conselheiros do Palmeiras garantem que o empresário do técnico, Hugo Cajuda, quer a saída imediata. Pela questão financeira e pelo salto na carreira. Há a promessa de reforços importantes para o clube que já levou o atacante Giovani, do próprio Palestra Itália, por R$ 50 milhões. Sim, R$ 50 milhões.
Abel não quer falar publicamente sobre o assunto, até acabar o Brasileiro.
Mas ele já deu inúmeras mostras de que não suporta mais o ritmo intenso, por vezes insano, do futebol do país. Já avisou Leila, mais de uma vez, que não deseja renovar. A princípio, cumpriria seu contrato até o fim de 2024. A princípio.
Abel reclama em coletiva sim, e outra também, do seu desgaste.
E sabe muito bem que o calendário de 2024 será ainda mais pesado, sem parada por causa das datas Fifa.
O lateral-esquerdo uruguaio Piquerez deu uma resposta enigmática, perguntado, na zona mista, após a vitória do Palmeiras contra o América, se Abel iria embora, depois do campeonato deste ano.
"A gente está fechado entre nós, vivendo o presente. O que acontecer no futuro acontecerá. Ninguém é para sempre, ninguém vai ficar aqui para sempre. Então estamos fechados agora em ganhar este Brasileirão."
"Ninguém é para sempre", a frase mais significativa.
Leila não espera a saída de Abel agora.
Não está preparada.
Sabe quanto ele tem o elenco nas mãos.
E acredita que nenhum treinador conseguiria que o time produzisse tanto.
Por isso, o seu único recurso é o dinheiro.
Ela não pode deixar Abel aceitar o Al-Sadd e o clube catari pagar a multa rescisória.
A dirigente não se conforma com a notícia ter vazado agora.
Faltando dois jogos para o Palmeiras conseguir o Bicampeonato Brasileiro.
Há o medo de que atrapalhe o time.
Mas Abel tem se mantido firme, calado.
Até mais empolgado em conseguir o nono título.
Quanto a sua decisão, de sair ou não, só será anunciada no fim do Brasileiro.
Mas empresários ligados ao mundo árabe estão convictos.
O agente de Abel, Cajuda, o quer no Catar.
O clima no Palmeiras é de convicção no título.
Mas de enorme preocupação com o futuro de Abel.
Não há certeza de que o dinheiro de Leila o segurará...
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