Lamentando a volta de Neymar, a Coreia do Sul irá ao seu limite para tentar 'o impossível'. E eliminar o Brasil da Copa
Paulo Bento promete uma equipe muito diferente daquela que foi goleada por 5 a 1, pelo próprio Brasil, em junho. Seu time será competitivo, de marcação forte, intensidade, velocidade
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
Doha, Catar
"Seríamos hipócritas se disséssemos que era melhor o Neymar jogar", falou, abertamente, Paulo Bento, na coletiva de ontem.
Era evidente que ele desejava o Brasil sem seu maior talento.
Mas seu time já entendeu muito bem o que deverá fazer.
"Podemos perder duelos individuais, mas, se formos melhores como equipe e também competitivos, temos todas as chances de sair com a vitória."
Foi dessa maneira que o meia Sung, que joga no Holstein Kiel, da Alemanha, resumiu a expectativa da Coreia do Sul contra Portugal no último jogo da fase de grupos.
Sung foi premonitório. Graças à entrega, à força tática do time e à entrega física dos jogadores, os sul-coreanos surpreenderam a equipe de Cristiano Ronaldo. E venceram por 2 a 1.
E encontrarão hoje, às 16h (horário de Brasília), a seleção brasileira.
O trabalho de Paulo Bento tem quatro anos e meio. Com uma geração esforçada, obediente, mas carente de talento.
A derrota por 5 a 1 no amistoso contra o Brasil, em junho, em Seul, mostrou ao treinador o que acontece quando seu time decide aceitar o desafio, enfrentar um adversário mais capacitado, com maiores recursos individuais.
Pagou o preço por jogar aberto. Apesar do teórico 4-1-4-1, seu time foi espaçado e, em ritmo de amistoso, não apelou para as faltas. O resultado foi a impiedosa goleada.
Desta vez, Bento garante que não será a mesma coisa.
A própria imprensa coreana que está aqui no Catar acredita que a única chance de uma surpresa histórica no estádio 947, hoje, será se o time assumir seu espírito competitivo, de extrema marcação na intermediária, e buscar contragolpes em velocidade.
Son Heung-Min, habilidoso e veloz, estrela do time, atua no Tottenham, companheiro de Richarlison, e tem como característica principal atacar pelo lado esquerdo, onde bateria de frente com Militão. Mas Paulo Bento o treinou pelo lado esquerdo onde o Brasil terá Danilo improvisado. O que é sempre um risco.
Tecnicamente, como um todo, a seleção da Coreia do Sul é fraca. E Paulo Bento assume isso. A força do time está na competitividade, no preenchimento dos espaços, na intensidade, na compactação.
Paulo Bento monta a equipe no sistema 4-1-3-2. Mas, diante do Brasil, a expectativa é que seu time atue no 4-5-1. Com muita entrega nas intermediárias, para evitar a troca de passes e ter sempre cobertura, em caso de drible dos brasileiros. Como Neymar, Vinícius Jr. e Raphinha.
Os sul-coreanos não são violentos. Mas firmes na marcação. Não é porque Neymar está vindo de uma contusão que vão poupá-lo. Só que não deverão fazer como a Sérvia, que assumiu o rodízio de faltas no brasileiro. Foram nove, até que, com o tornozelo inchado, teve de deixar a partida.
Vale a pena destacar sua instável campanha do time oriental na Copa.
Empatou com o Uruguai em 0 a 0, em uma partida sem emoções, travada no meio-campo. Perdeu para Gana por 3 a 2, com sua defesa mostrando muitas falhas. E foi para uma partida emocionalmente vibrante, imprevisível. Com ataques dos dois lados. Venceu de forma surpreendente Portugal, de Cristiano Ronaldo, e ficou com a vaga para as quartas, acabando com o favoritismo do Uruguai pelo segundo posto do Grupo H.
"Se fôssemos disputar um campeonato de muitas jornadas com o Brasil, eles ficariam sempre à nossa frente. Num só jogo, o Brasil tem muitas possibilidades na mesma, mas nós também passamos a ter mais possibilidades. Não temos nada a perder", foi a sequência de raciocínio de Paulo Bento que mais repercutiu, na sua coletiva de ontem.
Ou seja, o treinador que conseguiu vencer o próprio país sabe que as chances são pequenas, mas a possibilidade de uma façanha existe. E a chance é hoje. De fazer história.
Ele não é adepto de marcação individual. Montará seu time marcando por setor. Mas forte, bem ao contrário do que aconteceu em Seul. Com direito a faltas táticas, ou seja, para "matar" os contragolpes brasileiros.
Só que vale a pena analisar que a Coreia sofreu quatro gols de cruzamento neste Mundial. O time se posiciona mal nas bolas aéreas. Foram dois dessa maneira. E dois de bolas rasteiras.
Esse é um erro de que o Brasil pode se aproveitar.
Marcou, em compensação, quatro. Três de cruzamento e um de contragolpe.
Nenhum de bola trabalhada, com troca de passes.
Uma vitória hoje traria grande repercussão. Seria a consagração do trabalho de Paulo Bento.
A Coreia do Sul conseguiu seu maior resultado da história, que foi o quarto lugar. Depois de várias arbitragens contestadas na época.
O time oriental pode até perder, tomar muitos gols, ser eliminado.
Mas sua postura será muito diferente do que foi goleado por 5 a 1 em junho...
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