Itaquerão comparado a mulher com Aids. Último absurdo de Rosenberg
Diretor de marketing perdeu o cargo por constrangedora declaração. Mas acumulava rejeição. Por campanhas e fracasso na venda dos naming rights
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
"O apelo da marca Corinthians é tão grande que temos quatro grandes grupos interessados em vir.
É mais ou menos…
Eles se sentem na situação de estar vendo a esposa perfeita, com dotes culinários, formada com MBA no exterior, uma mãe de filhos maravilhosos, mas parece que tem um teste de aids (sic) positivo.
Como é que eu encaixo a camisinha é o grande desafio."
Comparar o Itaquerão a uma mulher com Aids e que por isso não conseguia vender os naming rights do estádio foi a gota d'agua para Andrés Sanchez.
Para evitar a divisão política da situação, o clube anunciou que o diretor de marketing Luis Paulo Rosenberg renunciou ao seu cargo hoje.
Mas até o mais ingênuo dos ingênuos que frequenta o Parque São Jorge sabe: Andrés não o queria mais no cargo.
As polêmicas, as tentativas de Rosenberg chamar a atenção não tinham mais graça.
Pior, prejudicavam a imagem do Corinthians.
O currículo é invejável.
Bacharel em economia pela USP, Mestre e PhD em economia pela Vanderbilt University.
Foi assessor do ministro Delfim Netto, responsável pelos setores de Ciência, Tecnologia e Investimentos em Energia.
É membro da equipe de negociação com o FMI e foi assessor econômico do presidente José Sarney.
Se aproximou de Andrés Sanchez assim que ele assumiu a presidência do Corinthians. Assumiu em 2008, com o time na Segunda Divisão. Ganhou espaço com ações envolvendo Ronaldo Fenômeno e o marketing. O relacionamento de Rosenberg com poderosos de todas as áreas fez Andrés Sanchez acreditar que ele poderia vender os naming rights do Itaquerão. O preço estava definido desde 2011: R$ 400 milhões por vinte anos.
Rosenberg tentou por anos.
Não conseguiu.
Fez projetos mirabolantes.
Como trazer um péssimo jogador chinês, Zizao, para abrir caminho com bilionários grupos da China.
Lógico que não deu em nada.
Fez Andrés Sanchez rodar o mundo.
China, Arábia, Estados Unidos, Europa.
E nada de naming rights.
Além do fracasso no grande projeto, vender o nome do estádio, situações mais fáceis, como conseguir patrocinador master para a camisa viraram tormentos.
E quando o clube consegue há uma grande confusão.
De acordo com vários conselheiros, não foi Rosenberg quem trouxe o BMG ao Corinthians, depois de 21 meses sem patrocínio no peito da camisa. Foi o empresário amigo de Andrés, Giuliano Bertolucci.
Contrato por cinco anos.
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Mas foi Rosenberg quem não desmentiu uma informação completamente errônea por parte da imprensa. Ele ouviu, no lançamento do patrocínio, inúmeros jornalistas garantindo que a quantia era R$ 30 milhões por ano.
E não consertou.
Depois, o BMG teve de confirmar oficialmente o patrocínio.
E veio a revelação.
Os R$ 30 milhões foram adiantados.
O contrato é de R$ 12 milhões ao ano.
O dinheiro de dois anos e meio foi adiantado.
O Corinthians recebia R$ 30 milhões por ano da Caixa Econômica Federal, em 2017.
Não contente com o vexame da revelação do verdadeiro valor do patrocinador, Rosenberg resolveu comparar torcer para o Corinthians com religião.
Ele autorizou um vídeo que usava símbolos importantes religiosos.
E os ligou ao futebol: batismo, oração e até crucificação.
Lógico que provocou a revolta.
Inclusive de torcedores e conselheiros corintianos.
Indignou membros da diretoria do clube.
Andrés Sanchez ficou muito incomodado.
Antes da declaração do Itaquerão a uma mulher aidética, Rosenberg já havia feito outra comparação mais do que infeliz.
Em entrevista à revista Glamurama, em 2017, ele comemorava ter conseguido mais dinheiro para o Corinthians na Segunda Divisão do que o Flamengo, em 2008.
"É como aquela filha querida que cai na prostituição, mas acaba por virar a menina mais desejada: nem por isso você vai comemorar."
Ou seja, suas entrevistas eram desastrosas.
Na mesma conversa, confessou que esperava ter virado presidente do Corinthians depois de Mario Gobbi.
Andrés Sanchez se cansou.
Não se importou mais com os amigos poderosos de Rosenberg.
Perdeu de vez a paciência.
O homem que tinha a missão de vender o nome do estádio assume publicamente. Vê a missão como encaixar uma camisinha em uma esposa perfeita, mas aidética.
O marketing corintiano amanheceu sem diretor.
Quem pode criticar Andrés desta vez?
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