Fim da Neymardependência. E de amistosos inúteis. Pontos fundamentais que fizeram Ancelotti ser o novo técnico do Brasil
O acordo verbal foi fechado. Mas, para isso, a CBF teve de se submeter a exigências do italiano. Como participar da escolha dos jogos preparatórios para a Copa. E fazer de Neymar uma arma importante. Não a única
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Falta total de confiança nos técnicos brasileiros.
Ter um dos melhores treinadores do mundo, com reconhecimento internacional.
Aprovação, e respeito, dos jogadores líderes da seleção.
Certeza de que a mídia nacional não questionará a escolha.
Considerar que dois anos são suficientes para a formação de um time capaz de ganhar a Copa de 2026.
Ter a convicção de que acabará a "Neymardependência".
Todos esses motivos explicam o fato de o presidente Ednaldo Rodrigues ter escolhido o italiano Carlo Ancelotti como novo técnico da seleção brasileira a partir de julho de 2024.
Ter uma "aventura única" aos 65 anos.
Comandar o selecionado mais vencedor da história em uma Copa do Mundo.
Ter total liberdade para impor seus métodos, escolher os jogadores.
E até amistosos preparatórios.
Poder escolher morar no Brasil ou na Itália.
Ter salário igual ou maior do que o que recebe no Real Madrid.
Já trabalhar com jogadores que deverão ser titulares nos Estados Unidos, como Vinícius Jr., Rodrygo e Militão.
Além de Casemiro, que deverá ser seu capitão.
Ter respaldo para tratar todos os jogadores da mesma maneira.
Inclusive a estrela Neymar.
Esses os motivos que fizeram Carlo Ancelotti aceitar o convite de Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF, e comandar o Brasil a partir de julho de 2024.
Ou até antes, caso Ancelotti seja demitido do Real Madrid.
A devoção e a lealdade ao clube espanhol fizeram com que o técnico não aceitasse imediatamente o cargo.
O treinador ouviu do próprio presidente Florentino Perez a exigência para cumprir seu contrato até junho do próximo ano.
Perez o apoiou na eliminação do bilionário time na semifinal da Champions League. Assim como na perda do Campeonato Espanhol.
E Ancelotti entende ser uma "questão de honra" vencer os dois torneios na próxima temporada.
Por isso, foi claro a Ednaldo que não assumiria o Brasil agora.
O presidente da CBF aceitou.
O italiano disse que indicará uma pessoa de sua confiança para trabalhar com Ramon Menezes durante este ano que falta para assumir o Brasil.
A ideia inicial era que seu filho e seu auxiliar no Real Madrid, Davide Ancelotti, assumisse. O presidente Ednaldo Rodrigues até já tinha aceitado.
Mas, antevendo a reação da mídia espanhola, que poderia acusá-lo de não estar com "a cabeça" na seleção, o treinador recuou. E deve indicar outra pessoa, que, mesmo sem saber quem é, o presidente da CBF já aceitou.
Um ponto fundamental foi Neymar.
O jogador de 31 anos ainda tem grande respeito por parte de Ednaldo e de Ancelotti. Mas ambos sabem que o atacante do PSG está longe do seu melhor momento como atleta.
E que fracassaram os planos de treinadores que o viram como a grande solução para ganhar uma Copa do Mundo. Felipão, em 2014, que não teve a visão de preparar o time sem Neymar, que vivia um momento excelente. A contusão no jogo contra a Colômbia fez com que a seleção se desmanchasse.
Pior ainda foi Tite, que assumiu publicamente depender do jogador. E deu todas as regalias táticas e disciplinares. Fingiu que não percebeu seu egoísmo e suas simulações na Rússia.
No Catar, fez com que toda a equipe atuasse para Neymar. Outra vez, uma contusão sabotou o plano. De novo, não havia um plano B.
Com Ancelotti, Neymar será uma grande arma brasileira. Não a principal. E se conseguir manter o nível técnico até 2026. O Brasil não será dependente do seu camisa 10.
O treinador italiano tem como exemplo recente o que fez com Benzema: enfrentou-o e conseguiu que ele se encaixasse no Real Madrid. Jogasse pelo time.
Será assim com Neymar, que continuará na seleção, sonhando repetir seu amigo/irmão Messi: ganhar um Mundial no fim da carreira. Nos Estados Unidos, ele estará com 34 anos.
Outro ponto essencial será a participação de Ancelotti na escolha dos amistosos do Brasil antes da Copa.
Ao contrário do que aconteceu entre 2012 e 2022, a CBF não será mais "escrava" da Pitch, empresa que explorava comercialmente os amistosos da seleção. Na prática, escolhia os jogos que dessem mais lucros, independentemente do retorno técnico para o time.
O acordo absurdo foi o último ato do ex-presidente Ricardo Teixeira: vender dez anos de amistosos da seleção.
Daí treinadores do Brasil terem de aceitar jogos inúteis e inexplicáveis, que nada acrescentavam, na África, no Oriente, na América Central, América do Norte. Partidas na periferia do futebol mundial. Para o lucro da Pitch.
Esse será um ganho importantíssimo para Ancelotti.
O acordo foi selado verbalmente porque o treinador tem contrato em vigor com o Real Madrid.
Mas Ednaldo acredita na palavra do treinador.
O presidente da CBF volta da Europa se sentindo um vencedor.
Aposta que a seleção entrará em uma nova era.
Que, na prática, começará daqui a um ano e dez dias.
Com o italiano Carlo Ancelotti no comando do país pentacampeão do mundo.
Para acabar com um jejum de 24 anos...
Saiba quem é Carlo Ancelotti, técnico que fechou acordo verbal para comandar a seleção
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