Felipão foi contratado como escudo. Para proteger a diretoria em caso de fracasso
Reprodução/TwitterSão Paulo, Brasil
O fracasso é de Felipão.
Luiz Felipe Scolari, técnico campeão do mundo em 2002, não teve competência para fazer o Cruzeiro, único clube grande, com maior folha salarial, voltar da segunda divisão, para disputar o seu centenário, em 2021, na Série A.
Essa é a leitura superficial e a desejada pela diretoria cruzeirense.
Mais do que o clube chegar a mais de um bilhão de reais em dívidas.
Isso fica em segundo plano.
"Evitar que o Cruzeiro vá para a Série C será uma grande vitória", disse Felipão, ontem, após a derrota para o Juventude, que sacramentou a permanência na segunda divisão.
Felipão serve de escudo para o segundo vexame histórico.
O primeiro foi em 2019, quando o clube foi rebaixado.
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Se há dois anos, a farra, a irresponsabilidade e a forte suspeita de corrupção fizeram o bicampeão da Libertadores passar pela vergonha da queda da Série A para a B, o que aconteceu em 2020 e culminou agora com a estagnação na segunda divisão não é puro reflexo. Houveram erros primários que evitaram que o Cruzeiro voltasse para a elite.
O bicampeão da Libertadores, a três rodadas do final da Série B, já não tem como ficar entre os quatro primeiros da competição. É o primeiro grande, desde que os Brasileiros passaram a serem disputados em pontos corridos, a fracassar no retorno no ano imediato.
Esta é a lista, com a respectiva colocação, do time grande.
2006 - Atlético (campeão)
2008 - Corinthians (campeão)
2009 - Vasco (campeão)
2013 - Palmeiras (campeão)
2014 - Joinville (campeão); Vasco 3º
2015 - Botafogo (campeão)
2016 - Atlético-GO (campeão); Vasco 3º
2017 - América (campeão); Internacional 2º
2020 - Cruzeiro 13º colocado (até a 35ª rodada)
Milhões e milhões desperdiçados por Itair Machado em contratações arriscadíssimas
CruzeiroFelipão é a figura proeminente. A mais importante na Toca da Raposa. A que atrai toda a atenção neste vexame monumental. Ele realmente teve todo o controle, o poder do futebol e não conseguiu tirar o clube com maior folha salarial da segunda divisão.
Mas foram inúmeros problemas no clube na disputa do Brasileiro de 2020 da segunda divisão.
A começar por entrar na competição com seis pontos perdidos. Motivo: calote, falta de pagamento. R$ 5 milhões com o Al Wahda dos Emirados Árabes pelo empréstimo do volante Denílson, em 2016.
Depois, por não pagar R$ 6,3 milhões ao Zorya, da Ucrânia, por Willian, em 2016, ficou impossibilitado de contratar. Só no final de outubro a situação foi resolvida. Mas logo em seguido a punição voltou a vigorar. Por não pagamento de R$ 2,4 milhões ao PSTC, do Paraná. Pela venda de Bruno Viana ao Olympiacos, em 2016. E até hoje não pode contratar.
Depois da nefasta passagem de Wagner Pires pela presidência e de Itair Machado no comando do futebol, o clube entrou em redemoinho. Rebaixado, a cota da televisão que era de R$ 76 milhões caiu para R$ 21 milhões. A dívida era maior do que R$ 1 bilhão. Os processos de jogadores se sucederam.
Wagner Pires investigado pela Polícia Civil por seus gastos exorbitantes no Cruzeiro
CruzeiroComitê Gestor assumiu o clube. Passaram nada menos do que seis diretores de futebol, do início de 2020 até hoje. Foram três treinadores. Enderson Moreira, Ney Franco até a chegada, a peso de ouro, de Felipão. Ele assinou contrato até o final de 2022.
O bilionário Pedro Lourenço, dono da rede de supermercados BH, garantiu o pagamento do treinador de 72 anos.
O clube estava em penúltimo lugar, depois de 15 rodadas.
A esperança era que ele tivesse conhecimento suficiente para fazer o time se classificar pelo menos em quarto lugar.
Faltavam 23 jogos.
Depos de uma arrancada empolgante, veio a realidade. A limitação do time, apesar de reforços como Rafael Sobis e Pottker. O atraso de pagamento dos jogadores, dos funcionários do clube. O time era limitado demais para tanta pressão. A falta de repertório de Felipão.
E bastaram 20 partidas e o sonho da Série A estava morto.
Foram oito vitórias, sete empates e cinco derrotas até agora com Scolari.
O treinador contratado para tentar salvar seu prestígio.
Após a derrota contra o Juventude ontem, confirmou a mediocridade do time que comanda.
"Infelizmente, não temos a qualidade necessária para sonhar com isso (com a volta para a Série A)."
Felipão deve ir embora do Cruzeiro.
Ao fim do Brasileiro da Série B.
Ou até mesmo quando matematicamente, o clube garantir a permanência na segunda divisão. Acabar com todas as chances de ser rebaixado para a terceira divisão.
Falta apenas um ponto.
Juventude venceu, com facilidade, o Cruzeiro. E manteve o clube mineiro na Série B
JuventudePor mais que receba um salário altíssimo, a imprensa mineira garante que beira os R$ 800 mil, o treinador sabe que, apesar de todas as circunstâncias desastrosas envolvendo o Cruzeiro, ele fracassou.
Não conseguiu resgatar o time para a Série A.
A diretoria já avisou que, apesar de baixar a dívida de R$ 1 bilhão, para R$ 800 milhões, não há verba para montar uma grande equipe.
Ou seja, além de o clube passar seu centerário rebaixado, seguirá tendo uma equipe medíocre.
Tudo que acontece no Cruzeiro, bicampeão da Libertadores, não é por acaso.
Foram anos de farra, descaso, irresponsabilidade e, de acordo com a Polícia Federal, corrupção na administração do clube.
A materialização é a vergonha.
Clube estagnado na segunda divisão.
Por dois anos seguidos.
Com cota baixíssima de televisão.
Com fuga de partrocinadores fortes.
Desaparecimento dos sócios-torcedores.
Clube desinteressante para grandes jogadores.
Mais pressão das organizadas.
Promessa de processos por falta de pagamento.
Juros crescentes da dívida de R$ 800 milhões.
Se fosse uma empresa e não um clube, com a proteção da legislação, o Cruzeiro já estaria com as portas fechadas.
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