Ex-viciado. Ex-traficante. Escapou da morte seis vezes. Michael
Maior revelação do Brasileiro. Desejado por Palmeiras, Flamengo, Grêmio e Santos. Michael sobreviveu a um passado terrível. Mas conseguiu sobreviver
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Flamengo, Palmeiras, Santos e Grêmio acompanham desde o ano passado um atacante de 23 anos.
Veloz, inteligente, o maior driblador do Brasileiro.
A maior revelação do campeonato.
Os dirigentes acompanham de perto Michael do Goiás.
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E esperaram o ano chegar a seu final com uma preocupação.
Medo que ele voltasse para as drogas.
Foi usuário assumido de cocaína, maconha.
Alcóolatra e fumante de, no mínimo, 40 cigarros por dia.
Dois maços.
Depois, passou a vender drogas.
E a roubar.
Seu apelido era 'Porrinha'.
Quase foi assassinado seis vezes.
Se salvou por milagre.
Foi quando, em 2016, resolveu mudar totalmente sua vida.
Viu que iria perder a vida.
Passou a se dedicar de verdade ao futebol.
E o resultado foi excelente.
O cuidado psicológico dos dirigentes do Goiás e a religião conseguiram recuperar o atacante.
Sua multa é de R$ 50 milhões.
Flamengo, Palmeiras, Grêmio e Santos o querem.
Michael conseguiu resistir à tentação, não voltou ao vício.
Suas entrevistas são emocionantes.
Mas a melhor, a que definiu tudo que viveu foi dada à rádio goiana Sagres.
Foi dada em março deste ano.
Seu depoimento, impressionante.
O que foi mais difícil na sua vida?
Foi aceitar Jesus, em 2016.
(...)Eu fumava muito. Eu fumava duas carteiras de cigarro por dia. Eu bebia muito, bebia 18, 20 latas de cerveja por dia. Eu jogava terrão todo dia. E a resenha do terrão é cerveja. Eu gostava de pinga demais. 51, 29, Paratudo. Era cada pinga feia... Mas foi difícil porque eu gostava demais. Eu gostava de mexer com tráfico, gostava só de coisa errada. Depois da sexta vez que tentaram me matar, Deus disse para mim “chega, né!”. Fui para a igreja e uma mulher disse tudo o que aconteceu na minha vida. Falei que se Deus for bom, ele vai ter misericórdia de mim.
Como foi essa história que tentaram te matar?
Tentaram me matar seis vezes. Eu era muito brigão no terrão, sempre fui custoso, ‘galudinho’. Também era por tráfico. Acabei vendendo droga, acabei fumando e acabei roubando. Fiz muitas coisas e não tenho orgulho. Não tenho orgulho, não. Mas foram coisas que aconteceram na minha vida e eu peço perdão.
Quando roubou e vendeu droga pela última vez?
A última vez que roubei foi em 2016. Depois de Deus nunca mais fui o mesmo. Eu usei de tudo, lança-perfume, loló, pó, pasta-base. Crack eu não usei. Contra o Vila, algumas pessoas do meu setor falaram “Porrinha, seu drogado, seu cheirador de pó”.
As pessoas conheceram o Porrinha de antigamente, eles acham que as coisas não têm solução. Acham que não existe ex-gay e ex-traficante. Mas existe. Se Deus quiser, ele faz tudo. Eu sou um milagre.
Te incomoda ser chamado de drogado?
Não, isso é o meu passado. Isso toca vidas. Muitos meninos do meu setor chegam em mim e falam que voltaram para igreja. A minha vida hoje é testemunho. Não é zombação. Eu fui um merda, um lixo. Mas Jesus jogou o lixo fora. Hoje tem clubes grandes interessados em mim. Eu não quero sair do Goiás, mas fico feliz porque eu não era nada e sou alguém. As pessoas falavam que com 22 anos, eu ia morrer, que eu não ia viver a velhice. Hoje, com 23 anos, eu sustento a minha vida. Isso é gratificante. Eu choro todos os dias. Eu vejo a minha história sempre antes de entrar em campo. Olho no espelho e falo que nada neste jogo vai ser mais difícil que na minha vida.
As pessoas do terrão sempre falam bem de você. Isso mexe com você?
Cara (Michael começa a chorar). Eu sou o mesmo de sempre. Quando tenho tempo, vou assistir terrão. Quando as coisas aqui estão difíceis, eu vou para o terrão ver e começo a chorar. Às vezes somos ingratos e temos de ver o que passamos para dar valor. Hoje eu não jogo por mim. Jogo pela minha cidade, meus amigos e por mim porque carrego muitos amigos nas costas que não conseguiram vingar na bola. Tenho de dar valor cada um neles e jogar por eles. Se eles tivessem a oportunidade, eles estariam jogando por mim. Jogo pelo meu pai, que acreditou em mim, por Deus. Tenho de dar o meu melhor. Não importa se vou ser Pelé ou Neymar, mas eu preciso ser o Michael e dar o meu melhor.
Como eram as partidas no terrão?
Até hoje eu tenho marcas no corpo. Nada que eu apanhar no campo vai ser mais doloroso que no terrão. Lá era complicado. Sabe aquelas águas de alambique? Aquilo arde demais! Eu tomava todos os dias e passava no corpo. Mas foi bom porque eu aprendi a apanhar. O terrão me preparou para eu não sofrer tanto no campo.
Quais foram as melhores histórias no terrão?
Uma vez no Itaipu, eu fiz gol de cabeça. Pensa? Eu, gigante, nesse tamanho, fazendo gol de cabeça na final. Lá só jogam cinco na linha. Eu estava bêbado demais! Eu estava muito ruim e o pessoal me chamou para jogar pelo Tabajara na final. Aí eu disse que entraria nos dez minutos finais. Fiquei ali fumando meu cigarro e entrei faltando dez minutos. Entrei, teve bola na área e eu fiz de cabeça. Foi resenha! Outro dia no Buraco, jogando pelo América, eu estava bêbado também. Fiz um gol de pênalti. Foi pinga o dia inteiro!
Os zagueiros ameaçavam muito?
Eu apanhava demais, eles me batiam, falavam que iam pegar. Eu já era doido e pagava para ver. Vem aqui para você ver. Eu sempre fui assim, ‘galudinho’. Tinha zagueiro que batia demais.
Para quem encarou os zagueiros do terrão, a Série A, contra Dedé e Geromel, vai ser fácil...
Eu joguei contra o Geromel ao passado. O Geromel é grande pra caramba! Mas isso não me intimida, não! Isso me dá mais motivação. Se você enfrentar inferiores, você vai ficar inferior. Mas se você enfrentar superior, você vai crescer também.
Você usava drogas para amenizar os problemas da vida?
Não. Era vício. Eu fumava e bebia por vício. Não era para amenizar nada. Era tomado pelo diabo. Era sem-vergonhice, safadeza mesmo. Eu entrei nas drogas por isso. Meu pai sempre trabalhou e me deu tudo que podia, não o que eu queria. Eu entrei por vagabundagem, safadeza. Eu não precisava, mas a maioria das pessoas não precisa. Faz por vagabundagem mesmo. Eu, hoje, dou valor ao meu pai e mãe. Errei, mas o importante é tomar uma atitude e parar.
Ganhou muito dinheiro no terrão
Para mim era bom demais. Era 50, 20, 30 reais por gol. Mas eu pagava uma ou outra água, um arroz e feijão. O resto era pinga e cigarro...
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