Desespero, revolta, depressão. A morte do pai de Emiliano Sala
A brutal morte de Emiliano Sala tem sua consequência mais direta. Horacio, pai do jogador, não superou tanta dor. E faleceu hoje, depois de um infarto
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli

São Paulo, Brasil
A dor da morte de um filho é insuperável.
Quando o mundo inverte a ordem natural das coisas, o resultado é sempre dramático.
Horacio Sala estava radiante no final de 2018.
Seu filho havia avisado que, com o seu sucesso nas quatro temporadas no Nantes, havia uma certeza.
Seria vendido para uma equipe maior.
Estava no auge, aos 28 anos.
Clubes ingleses e espanhóis se interessavam.
O Nantes pediu alto.

E o Cardiff resolveu fazer a contratação mais cara de sua história.
Nada menos do que 15 milhões de euros, cerca de R$ 74 milhões, no início deste ano.
A transferência chegou com a esperança de ser lembrado pela Seleção Argentina.
A alegria do caminhoneiro Horácio só não era maior do que seu orgulho.
Sua família iria ficar resolvida economicamente, como havia prometido seu filho, quando se aventurou no futebol.
A euforia se transformou na mais profunda agonia quando seu filho desapareceu nas águas do Canal da Mancha.
O desespero do desaparecimento, o descaso do Cardiff, que comprou e não teria o atacante, e do Nantes, que vendeu e já o tratava com ex-jogador, o abalou profundamente.
Horacio não perdia a esperança de encontrar o filho vivo, mesmo contra todas as evidências.
Foram três dias de intensa busca do monomotor.
E ele não foi encontrado.
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As autoridades decidiram encerrar as buscas.
E avisaram não ter esperança de encontrar Emiliano e o piloto do avião vivos.
O pai do atacante não se conformava.
Ele seguia na ilógica esperança que o filho havia se salvado e esperava salvamento em algum banco de areia.
A dor e a agonia de Horacio eram tão grandes que a família fez questão de criar uma campanha pedindo doações na Internet. O dinheiro foi suficiente para que as buscas fossem retomadas, de maneira profissional.
Oito dias da nova busca e o sonar ultramoderno conseguiu localizar o avião. A 63 metros de profundidade, perto da ilha de Guernsey.
Na fuselagem do avião, havia um corpo preso.
A dor se misturou à terrível expectativa.
Logo confirmada pelas autoridades britânicas diretamente para a família.
Era o filho Emiliano ainda preso no cinto de segurança.
Morreu devido ao choque da aeronave no mar.
Os ferimentos profundos eram na cabeça e no tórax.
Devido aos 13 dias no mar, só foi reconhecido pelas impressões digitais.
O mundo de Horacio desabou.
A mensagem em áudio do filho para o amigo Diego Rolan ganhou força pelo mundo.
"Irmão, estou morto. Estive em Nantes fazendo coisas, coisas, coisas e não termina mais. Estou aqui em cima em um avião que está caindo aos pedaços.
Se em uma hora e meia não tiverem notícias minhas, não sei se vão mandar alguém me buscar porque não vão encontrar, mas... já sabem. Que medo que tenho!"
A tristeza se transformou em revolta.
A cada descoberta das condições do avião e, principalmente, do piloto.
David Ibbotson, era daltônico e sua licença para voo permitia trabalhar apenas durante o dia. E não à noite, quando aconteceu a viagem.
Depois, mais raiva. Um erro burocrático do Cardiff na inscrição do jogador no Campeonato Inglês fez a família perder cerca de 700 mil euros, R$ 3,1 milhões. O novo documento precisaria da assinatura do atacante morto.
Depois, veio o enterro do filho.
A tristeza pelo velório no clube San Martin de Progreso, equipe que iniciou a carreira, ainda menino, na província de Santa Fé.
Veio a comoção com toda a Argentina acompanhando o enterro do filho.
Fez questão de carregar uma das alças do caixão.
Emiliano se tornou conhecido mundialmente.
A revolta voltou com a briga pelo dinheiro entre o Cardiff e o Nantes. O clube galês fez de tudo para adiar o pagamento.
Mesmo tendo cometido um erro fatal ao permitir que o intermediário da venda colocasse o monomotor para levar o jogador da França à Inglaterra.
Mas chegou a dor avassaladora.
A do vazio.
Da falta de poder falar, abraçar o filho.
A profissão bruta não evitou que Horacio fosse um pai zeloso, apaixonado pelo filho.
Motivo de orgulho.
A família relata que ele estava mergulhado na depressão.
Horácio só suportou a ausência por três meses e cinco dias.
Um infarto fulminante acabou com sua vida.

A tristeza outra vez domina a família Sala.
Mas se a morte de Emiliano chocou, pela supresa.
A de Horacio, não.
Era como se todos soubessem.
A tristeza o levaria.
Ela se materializou em um infarto.
E levou, aos 58 anos.
Ele jamais superou a morte de Emiliano...
Pai de Emiliano Sala foi fundamental para corpo do filho ser encontrado
O pai do jogador argentino Emiliano Sala, Horacio Sala, de 58 anos, morreu vítima de um infarto, nesta sexta-feira (26). Ele passou pela angústia, no começo do ano, sobre o paradeiro do avião com o corpo do filho, que caiu no Canal da Mancha, entre a F...
O pai do jogador argentino Emiliano Sala, Horacio Sala, de 58 anos, morreu vítima de um infarto, nesta sexta-feira (26). Ele passou pela angústia, no começo do ano, sobre o paradeiro do avião com o corpo do filho, que caiu no Canal da Mancha, entre a França e a Inglaterra. Apesar da polícia interromper as buscas, o familiar continuou pressionando as autoridades locais e conseguiu arrecadar fundos para contratar um serviço especializado de mergulhadores. O astro Mbappé, do PSG, foi um dos que contribuíram, com uma quantia de € 30 mil (R$ 126,5 mil na época), para a continuação das buscas. Horacio morreu três meses depois da tragédia com o filho. Relembre os principais momentos do caso que aconteceu três meses antes: