Demagogia. Atraso. Ganância dos clubes. A volta da geral no Maracanã
Câmara Municipal do Rio autoriza a retirada de cadeiras do Maracanã. Para que torcedores voltem a assistir jogos em pé. É a vitória do atraso
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli

São Paulo, Brasil
Art. 1º – Fica autorizada, assim como a realização das obras de segurança, a retirada das cadeiras hoje existentes na parte inferior do estádio Mário Filho, o Maracanã.
Art. 2º – As intervenções estão autorizadas para fim exclusivo de criação de setores populares com ingressos mais baratos no estádio, nos moldes da antiga “geral”.
Art. 3º – Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Os deputados Zeidan Lula e André Ceciliano, ambos do Partido dos Trabalhadores, conseguiram a aprovação na Câmara Municipal do Rio, a volta ao passado.
Em vez de o estado criar projetos sociais, incentivos fiscais, os políticos decidiram que acabará a modernidade, a civilidade no estádio que representa o Brasil no mundo.
A medida foi aprovada hoje.
Cadeiras serão retiradas para que pessoas acompanhem as partidas em pé.
O consórcio que administra o estádio deverá fazer as obras ao final do ano.
O cálculo é simples.
No lugar em que estão duas cadeiras, cabem três pessoas em pé.
Desde o ano passado, pessoas ligadas ao Flamengo divulgavam essa ideia para jornalistas e políticos.
A intenção primeira é transformar o estádio, que hoje tem a capacidade de 78 mil pessoas sentadas, acomodadas, como acontece nos estádios mais modernos do mundo, para 100 mil.
Com 22 mil delas em pé.
Lógico que elas pagarão menos.
Mas o lucro será maior.
Porque o projeto é que essas pessoas fiquem em atrás dos gols, setor que já é mais barato no Maracanã.
A desculpa é a democratização do estádio.
A volta dos personagens icônicos, fantasiados em todos os jogos.
Os grandes clubes cariocas apoiam essa ideia.
Os políticos fazem demagogia, que vale votos.
Os dirigentes pensam no dinheiro.

A aprovação do projeto é um passo atrás.
Em vez de o Brasil oferecer comodidade para quem é desfavorecido financeiramente, o país tira as cadeiras.
E oferece a chance.
Quem quiser ficar quatro, cinco horas em pé e apertado entre milhares de torcedores já pode comemorar.
Não haverá, lógico, nenhum dirigente ou político na geral.
Enquanto isso, milhares acompanharão aos jogos sentados.
O Maracanã não ficará mais democrático.
Só deixará mais evidente o atraso.
E a divisão de castas que domina o país.
Os políticos garantirão mais votos.
E os clubes mais dinheiro.
É isso que interessa na volta da geral do Maracanã...