Del Nero faz o novo presidente da CBF. Diante da covardia dos clubes
Quando o mundo de Marco Polo começou a ruir, com a prisão do ex-presidente José Maria Marin, na Suíça, Caboclo foi quem mais o apoiou
Cosme Rímoli|Do R7

Marco Polo del Nero colocou seu homem de total e absoluta confiança na presidência da CBF. Rogério Caboclo acaba de ser eleito como novo presidente da entidade que comanda o futebol no Brasil. Del Nero manipulou de forma tão tranquila a eleição, que Caboclo foi o único candidato.
Andrés Sanchez, Raí, Ronaldo Fenômeno, Leonardo, Zico.
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Nenhuma das pessoas ligadas umbilicalmente ao futebol, que um dia sonhou com o cargo, teve coragem de disputar a eleição. Para não ser ridicularizado, passar vexame. E porque não obteria o apoio mínimo de oito federações para poder concorrer.
Até mesmo o presidente da federação mais poderosa do país, Reinaldo Carneiro Bastos, da Federação Paulista de Futebol, e que queria o cargo, se atreveu. Sabia que Marco Polo deixou o caminho marcado para Rogério Caboclo.
O filho de Carlos Caboclo, antigo dirigente do São Paulo, se mostrou um dos amigos mais íntimos e confiáveis de Del Nero. Quando o mundo de Marco Polo começou a ruir, com a prisão do ex-presidente José Maria Marin, por corrupção, na Suíça, Caboclo foi quem mais o apoiou.
Como diretor executivo da CBF, Caboclo levou conforto a Del Nero. Ajudou, com o secretário-geral Walter Feldman, a articular o que fazer quando a Fifa decidiu suspender Marco Polo. Foi quem comandou a entidade na realidade, embora o cargo estivesse em nome do vice mais velho da entidade, Antônio Carlos Nunes, de 79 anos.
A confiança de Del Nero em Caboclo só foi crescendo. Tanto que os dois foram os articuladores da reviravolta que manteve o poder da eleição nas mãos de quem comanda a CBF. Mudaram de maneira descarada a fórmula da eleição.
Para não perder a hegemonia "para um aventureiro", como gosta de repetir Del Nero, os dirigentes 'viraram' a mesa. Decidiram que os votos passariam a ter pesos diferentes. Os das federações terão peso três, os dos clubes da Série A peso dois e os de times da segunda divisão peso um.
A matemática é simples: somadas, as federações tem 81 votos, enquanto os clubes somam apenas 60 votos. Além disso, para que um candidato pudesse concorrer, deverita ter, no mínimo apoio de oito federações.
Del Nero, Caboclo e Feldman contaram com a covardia, com a omissão dos clubes brasileiros. Acertaram em cheio. Os presidentes das equipes brasileiras aceitaram calada a virada de mesa absurda. Entregaram a presidência da CBF para que Del Nero colocasse quem quisesse. Porque os presidentes das Federações são parceiros de décadas daquele que se sentar na cadeira de presidente da CBF.

Em retribuição ao apoio, o comandante da CBF deixa os ultrapassados Estaduais intocáveis. E também dão dinheiro para o 'desenvolvimento' do futebol nas 27 federações.
E as federações votam de maneira conjunta, unidas. No candidato que o presidente da CBF quiser. Foi assim hoje.
A eleição foi em três etapas. Na primeira urna, com votos das 27 federações, com peso três, adivinhe. Acertou! Caboclo por unanimidade.Na urna 2, os clubes da Série A. Ele teve 17 votos. O Atlético Paranaense não mandou representante. O Flamengo se absteve de votar. E o Corinthians votou em branco.
A urna 3 coube aos clubes da Série B. E adivinhe, novamente. Os 20 votos foram todos de Caboclo.
Foram 135 votos no total.
A primeira missão de Caboclo é reaproximar a CBF da Globo.
As duas parceiras estiveram afastadas por conta da negativa de Del Nero de viajar em nome da CBF. Desde a prisão de Marin, em 2015, seus advogados recomendaram que não saísse do país. Porque o Brasil não mantém tratado de extradição com os Estados Unidos. Inúmeros países mantêm esse acordo. Como a Suíça.
Por conta de Del ficar no Brasil, a Globo acabou prejudicada na organização da tabela das Eliminatórias da Copa, por exemplo. Ela sempre teve o presidente da CBF lutando para adaptar os jogos à sua grade de programação.
A escolha de Dunga para substituir Felipão também desgastou mais ainda Del Nero e a emissora carioca. O treinador na Copa de 2010 humilhou, xingou e chamou para a briga o narrador Alex Escobar. E fechou a concentração, enclausurou os jogadores, dificultando o trabalho da Globo.

Caboclo já tratou de avisar que, com ele, o presidente da CBF voltará a viajar. E será o chefe da delegação brasileira na Copa da Rússia, onde estão previstas várias reuniões importantes da Fifa.
O sucessor de Del Nero também será o chefe do Comitê de Organização Local da Copa América de 2019, que acontecerá no Brasil.
Assim como Ricardo Teixeira confiou que José Maria Marin seria fiel, Marco Polo del Nero acredita que Rogério Caboclo fará tudo o que está combinado. Seguirá sua política de manter o poder do futebol brasileiro para a CBF, longe dos clubes. Se houver qualquer tentativa de formação de uma associação independente, como foi a Primeira Liga, a ordem é extinguir. Não dar o menor apoio. Não abrir datas nos calendários. E pressionar para que clubes importantes não participem. Como foi o caso das equipes paulistas.
Há a certeza que, com Caboclo, não haverá nenhuma devassa nas contas, nos contratos fechados por Marco Polo del Nero. Muito político, o novo presidente já garantiu a continuação dos patrocinadores da CBF.
Enfim, Del Nero conseguiu.
Ele queria um sucessor para não mudar absolutamente nada na CBF.
E será este o caminho de Rogério Caboclo.
Com a vexatória participação das Federações.
E com a triste cumplicidade e covardia dos clubes.
O futebol brasileiro seguirá estagnado...

Rogério Caboclo será o novo presidente da CBF a partir de abril de 2019