Decacampeão do Brasil. Felipão entra de vez na alma palmeirense
O Palmeiras faz campanha histórica. Vence o Vasco. Chega a 22 partidas sem derrotas. O responsável é o revivido Luiz Felipe Scolari
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
O decampeonato brasileiro do Palmeiras tem nome.
E sobrenome.
Luiz Felipe Scolari.
A vitória contra o Vasco da Gama, em plena São Januário, por 1 a 0, gol do transloucado Deyverson, sacramentou a incrível transformação que tomou conta do clube desde a chegada de Felipão.
"Era um título que vínhamos brigando desde o início. Brigando por três e conquistamos um.
"Mas temos uma dívida com o Palmeiras, vamos ver se ano que vem a gente consegue ganhar mais algumas coisas", dizia Felipão, fiel ao seu estilo de falar e deixar as coisas no ar.
Sim, ele se referia ao Mundial.
A prioridade de 2019 será toda voltada à conquista da Libertadores.
E ida ao Mundial de Clubes.
Essa obsessão ficará clara no Paulista.
O time usará equipe mista, com o aval da presidência.
Mas isso é para o futuro.
O dia hoje era entender o porquê da conquista do Brasileiro.
O mesmo elenco com Roger Machado era uma equipe apática, tensa.
E, principalmente, não sabia o que queria.
"Eu sou um técnico de resultados.
"Sempre fui.
"E sempre serei", confirmou o próprio Felipão, a caminho do título.
O treinador conseguiu tirar o melhor do elenco mais caro da América do Sul. Fez com que os egos se dobrassem diante do seu. E montou uma equipe competitiva, de muita marcação, chutões, 'ligação direta', especialista em triangulações pelas laterais e bolas paradas.
Conseguiu que seus jogadores dividissem a bola com até mais vontade que os adversários. Como tinham mais técnica e sabendo o que fazer, o Palmeiras se impôs nacionalmente.
Chegou nas semifinais da Libertadores e na Copa do Brasil.
A campanha excelente tem outro lado.
Resgatou a credibilidade de Felipão neste país.
Depois da derrota por 7 a 1 para a Alemanha.
E da fraca campanha com o Grêmio, logo após a Copa, Scolari teve de se exilar na China.
Jurou de pés juntos que não trabalharia mais no Brasil.
Mas não conseguiu dizer não ao convite do Palmeiras.
Por R$ 1 milhão a cada 30 dias, mudou suas convicções.
E conseguiu o que inúmeras pessoas não acreditavam.
Resgatou sua carreira, sua imagem, sua credibilidade.
Se tornou o treinador mais velho campeão deste país.
Aos 70 anos.
Deixou para trás, Antônio Lopes, campeão com o Corinthians em 2005, com 64 anos.
Luiz Felipe quebra o preconceito em relação aos velhos no futebol.
E de forma espetacular.
A equipe chegou ao incrível recorde de 22 jogos sem derrota.
Foi uma conquista histórica.
Para dar orgulho a qualquer palmeirense.
E esperança por 2019.
Quando Felipão arquitetará todo o plano para o sonhado projeto.
A conquista do Mundial de Clubes.
Não se pode duvidar deste treinador.
Aquele que envergonhou o país nos 7 a 1.
Hoje pode se encarar no espelho.
Com orgulho.
Luiz Felipe Scolari entra não só na história.
Mas invade de vez a alma dos palmeirenses.
"O Palmeiras, assim como o Grêmio, é a minha casa.
"Não tive como dizer não ao convite para treinar este clube pela terceira vez.
"Voltei a trabalhar no Brasil pelo convite para retornar à casa.
"Tinha uma conversa avançada com a seleção do Paraguai.
"Mas surgiu o Palmeiras e tudo mudou", confessou o treinador.
A contratação foi uma exigência de Mauricio Galiotte.
Ele decidiu que não seguiria mais o caminho de Alexandre Mattos.
Depois dos trabalhos fracassados de Eduardo Baptista e de Roger Machado, o presidente palmeirense foi claro.
"Quero um técnico vivido, vencedor e com personalidade para vencer", exigiu Galiotte.
Quando Mattos chegou com o nome de Felipão, a aceitação foi imediata.
Scolari encontrou um grupo forte, mas sem confiança, autoestima.
Os jogos fracos que a equipe fez com Roger Machado e que mereceram fortes críticas teriam de ser apagados.
E ele tratou de fazer um trabalho psicológico.
Se não montou a família Scolari, conseguiu que todos se submetessem a fazer o máximo pelo grupo.
Exigiu que acreditasse na sua filosofia de jogo.
Antes da técnica, do talento de atletas caríssimos, ele queria a alma, a vibração, a entrega para ganhar a bola dando carrinho, não tendo vergonha de marcar, nem medo de ser atacado.
"O Felipão mudou a maneira com que o time encara os jogos. Entendemos que a vontade de vencer, a entrega ao plano tático vem antes da nossa técnica. A doação de todos fez o Palmeiras muito mais forte", detalha Dudu.
Scolari foi muito esperto.
Ele deixou claro que usaria todo o elenco.
E foi o que fez.
Mas sem abrir mão da estrutura tática.
Seja qual for a equipe que entrasse em campo, sabia como atuar.
Moldou o Palmeiras de acordo com sua personalidade.
Tatuada com o vexame diante da Alemanha.
Os 7 a 1 entraram nas suas células, nos neurônios.
Nunca mais montou uma equipe sem forte marcação no meio-campo.
Foi o que fez assim que chegou ao Palmeiras.
E deu atenção especial a jogadores problemáticos.
Salvou Felipe Melo.
Parte da diretoria queria a rescisão do contrato.
Sua expulsão infantil contra o Cerro Porteño quase sabota o time na Libertadores.
Scolari teve de interferir para segurar o volante.
Assim também como Deyverson e sua falta de equilíbrio psicológico.
Ele recuperou o atacante.
O tornou o seu Jardel ensandecido.
Além de ensinar a diretoria como se pressiona a CBF.
Em jogos que o time foi prejudicado, a velha tática.
Em vez de seus jogadores e ele falar, quem se expunha era Alexandre Mattos.
Ele criticou, pressionou juízes, fez o Palmeiras forte nos bastidores.
Enquanto Felipão e seus atletas se preservavam.
Foi o treinador quem exigiu o final das entrevistas no intervalo.
E proibiu Deyverson de falar logo após os jogos.
O treinador de 70 anos fez o que quis.
O que aprendeu em 36 anos de carreira.
E não por acaso já está na história do Palmeiras.
Depois de vencer a Libertadores, Copa do Brasil, Mercosul, Rio-São Paulo, agora, o Brasileiro.
Mas em 2019, ele dará a vida para conquistar o sonho de todo palmeirense.
O Mundial.
Felipão já provou do que é capaz.
Até mesmo renascer.
É o legítimo comandante do campeão brasileiro de 2018.
A Sociedade Esportiva Palmeiras...
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.