Corinthians não quer Cuca de volta. Processo anulado por estupro não significa inocência. Passagem em 2023 foi traumática
Anulação do julgamento de Cuca não comove a atual direção do Corinthians. O caos que foi sua passagem, em 2023, não foi esquecido. Com Melo, treinador não será chamado para trabalhar
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
O alívio de Cuca não teve ressonância no Parque São Jorge.
O Tribunal Regional de Berna-Mitteland anular a condenação de estupro, do treinador a uma menina que tinha 13 anos, não impressionou os novos dirigentes.
O agora presidente Augusto Melo lembra o caos que foi no ano passado, quando Cuca foi contratado. Acabou massacrado pela mídia. E levou uma tensão 'inesquecível' nos dois jogos que comandou a equipe.
Para conselheiros que apoiam Melo, a situação é clara.
Cuca não foi declarado inocente.
Apenas seu julgamento foi anulado porque foi à revelia, ou seja, não havia quem o defendesse do estupro coletivo, que acabou condenado.
Ele e três jogadores do Grêmio acabaram acusados de atacar sexualmente Sandra Pfäffi, garota que foi ao hotel onde estava hospedado o time brasileiro para ganhar uma camisa gremista. O caso aconteceu em 1987.
Cuca acabou sendo condenado a 15 meses de prisão mais 8 mil dólares de multa. Chegou a ser preso, preventivamente, antes do julgamento, por 30 dias.
O julgamento aconteceu em 1989.
De acordo com o processo, Sandra reconheceu Cuca como um dos que a atacaram.
E há o registro de sêmen do treinador.
Mesmo assim, ele trabalhou normalmente, desde então.
Como jogador e treinador.
Até que chegou ao Corinthians no dia 20 de abril do ano passado.
A revolta foi imensa.
Da mídia, que reviveu o caso. E despertou a ira de grande parte da opinião pública.
A pressão foi enorme.
E Cuca ficou apenas dois jogos, quando pediu para ir embora.
Ao se despedir do então presidente Duilio Monteiro Alves, garantiu que 'um dia voltaria' ao Parque São Jorge, depois de provar sua inocência.
Cuca não foi inocentado.
O processo de condenação foi anulado.
E como o crime prescreveu, não haverá novo julgamento.
Além disso, há algo imutável.
Sandra morreu.
Algo que pouquíssimas pessoas sabiam.
"Hoje eu entendo que deveria ter tratado desse assunto antes. Estou aliviado com o resultado e convicto de que os últimos oito meses, mesmo tendo sido emocionalmente difíceis, aconteceram no tempo certo e de Deus", disse Cuca, por meio de sua assessoria de imprensa.
O técnico pagou dois advogados para que trabalhassem na extinção do processo.
Se Duilio estivesse no poder, talvez Cuca tivesse uma nova chance no Corinthians.
Talvez.
Mas com Augusto Melo, a chance é praticamente nula.
Ele e o diretor de futebol, Rubens Gomes, querem que o treinador e os jogador mantenham foco total no futebol.
Com Cuca não há essa certeza.
Nas redes sociais há muita contestação sobre o termo 'inocente'.
Isso porque em entrevista, como jogador, ele chegou a dizer ao jornal de Porto Alegre, Zero Hora, antes do julgamento, em 1987:
"Estou de braços abertos para qualquer decisão. Temos que pagar, todos os envolvidos. Não adianta separar menor ou maior participação".
Palavras que ele nunca negou.
Ou seja, para onde for trabalhar, Cuca poderá ser contestado.
Ainda mais no Corinthians.
Duilio se sentia em 'dívida moral' com o treinador, se seu processo na Suíça fosse extinto.
Foi.
Ainda que não provasse sua inocência.
Cuca se sente livre para voltar a trabalhar.
O Athletico tentou sua contratação.
Ouviu 'não' e contratou Juan Carlos Osorio, ex-São Paulo e Seleção Colombiana.
Segue objeto de desejo no Botafogo.
Mas no Corinthians, não.
O clube que primeiro defendeu os direitos da mulher, não quer confusão.
E esta diretoria abre mão de trabalhar com Cuca...
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