Tite sabia que Pedro tinha potencial. Mas não poderia convocá-lo, já que era reserva do Flamengo
CBFDoha, Catar
"Nós temos três sistemas de jogo.
"Você sabe quais são."
Tite respondeu a mim logo após a partida contra a Suíça, e deixou claro que, apesar de o Brasil necessitar muito de Neymar, precisa taticamente estar preparado para seguir, com ou sem ele, no Mundial.
O primeiro sistema é o tradicional, com dois volantes marcadores. Um articulador. E três atacantes velozes, dribladores. O segundo, com um volante marcador, um organizador e quatro atacantes velozes, dribladores.
O terceiro, que será testado amanhã, contra Camarões, por pelo menos um tempo, terá dois volantes marcadores, um organizador, dois atacantes ágeis dribladores e um pivô, cabeceador, de grande estatura. O teste será possível já que o Brasil está classificado antecipadamente para as oitavas de final.
E nessa terceira via estará este jogador capaz de mudar todo o sistema: Pedro.
O artilheiro do Flamengo tem treinado muito bem, segundo relato dos próprios jogadores, e tem tudo para ser uma opção mais utilizada nas partidas da seleção.
O jogador, de 1,85 m, só tem duas partidas sob o comando de Tite, mas serviram para, na reta final da convocação, ganhar o espaço que era do seu companheiro de clube Gabigol.
O técnico da seleção deixou bem claro ainda no Brasil por que traria Pedro aqui para a Copa do Mundo.
"São características diferentes dos 'nove' que a gente tem. Sempre tem um jogador de movimentação, outro de velocidade, um que ataca espaço, outro que vem ao meio-campo.
"Esse jogador, como o Fred (ex-Fluminense, da Copa de 2014), jogador mais de frente, da última bola, da conclusão, esse jogador é o Pedro."
Apenas três convocações, dois jogos e um gol foram suficientes para comprovar a Tite que essa terceira via era necessária e pode surpreender os adversários, armados para ter pela frente três ou quatro atacantes baixos, dribladores, talentosos, mas sem a vivência de atuar de costas para o gol ou ter no cabeceio uma arma fatal.
Pedro esteve por um triz para ficar fora da Copa. Tite queria testá-lo, convocá-lo. Mas ele parecia condenado a ficar na reserva do Flamengo. Os treinadores viam como utopia sua dupla com Gabigol. Foi necessária a chegada de Dorival Jr., em junho, para transformar a realidade do atacante e da seleção brasileira.
Pedro precisa mostrar na seleção sua utilidade maior do que Gabigol, esquecido por Tite
FlamengoPedro está em seu auge físico e técnico aqui em Doha.
E ele quase entrou na partida contra a Suíça. Tite viu que os jogadores, pressionando a retrancada equipe europeia, já insistiam, no segundo tempo, em um recurso que ele detesta e que refletia o desespero pela vitória. Os cruzamentos aéreos da intermediária para a área. O que era inútil, já que o ataque tinha Gabriel Jesus, de 1,75 m, 10 centímetros a menos, como referência.
"Eu briguei para jogar mais. Briguei é uma forma de falar. Queria estar jogando. No início do ano eu estava muito mal mentalmente, perdi a parte forte que tenho em mim. Mas a adversidade vem para nos fazer mais fortes, e eu consegui ser resiliente no momento que tinha que ser.
"Hoje, poder vir para a seleção é uma honra. No meio do ano, voltei a ter a sequência que sempre quis ter no Flamengo, ser titular, jogar jogos grandes", disse, já aqui no Catar.
Do banco de reservas, ele acompanhou as duas partidas do Brasil.
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E já recebeu de Tite a confirmação que fará o tão sonhado jogo na Copa do Mundo.
O técnico não garantiu se começará a partida ou entrará no segundo tempo, no lugar de Gabriel Jesus, com quem briga para ser o reserva de Richarlison.
"Já é um sonho para mim estar aqui, treinando com a seleção brasileira, em uma Copa. Mas eu quero muito mais", diz, ansioso para mostrar ao mundo que o Brasil tem outro tipo de artilheiro.
Com potencial até para disputar a vaga de titular com Richarlison.
E também apagar a sombra de Gabigol da concentração do Brasil.
Ainda há muitos jornalistas que questionam a ausência do maior ídolo atual do Flamengo.
Põem a culpa em Pedro, quando, na realidade, foi uma opção de Tite.
A resposta que o jogador que está aqui em Doha pode dar contra Camarões é uma só.
Fazer o que nasceu para fazer.
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