Conor McGregor mereceu a humilhante lição de Poirier
O irlandês pagou por não levar a sério sua carreira. Passou vergonha em Abu Dhabi. Sofreu o primeiro nocaute no UFC
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
A luta deveria ser apenas um aperitivo.
Um atrativo para a revanche que realmente interessava.
Capaz de movimentar dezenas de milhões de dólares.
Conor McGregor contra Khabib Nurmagomedov, espetacular lutador russo que abandonou o octógono pela morte do seu pai e treinador, Abdulmanap Nurmagomedov, que morreu em julho do ano passado, vítima da Covid-19.
O papel de Dustin Poirier, ontem, em Abu Dhabi era determinado. Pelo menos para o presidente do UFC, Dana White e para até para Conor McGregor era servir de 'escada'. Lutador para ser nocauteado e trazer de volta o interesse do MMA para o irlandês.
Aproveitar a previsível vitória diante do norte-americano e provocar, xingar, desafiar, pressionar Nurmagomedov para a revanche que todos esperam desde 2018 contra McGregor. Garantir a certeza de recorde de pay-per-view.
Poirier, que já havia perdido para o irlandês, em 2014, no primeiro round, não deveria oferecer resistência. Aceitar os socos diretos, cruzados, os jabs do "Notorious". E cair, desacordado, nocauteado.
Só que tudo havia mudado em seis anos.
Conor se perdeu. Diante de tanto dinheiro que sua postura provocativa, seu trash talk, mania de falar, xingar, provocar adversários atraiu, ele se tornou um empresário.
Virou dono de fábrica de material esportivo, de uísque irlandês.
Se deixou seduzir pelo próprio personagem que criou. Confiante de maneira exagerada, passou a treinar com cada vez menos frequência e lutar menos ainda.
Ameaçava, mentirosamente, abandonar o UFC, para valorizar seu retorno.
E escolhia o adversário a ser batido.
Foi assim depois do humilhante mata-leão de Nurmagomedov, em outubro de 2018. Só retornou ao octógono para enfrentar o 'funcionário' do UFC, Donald Cerrone. Lutador esforçado, mas bem abaixo de Conor.
Não durou um round, nocauteado com chutes e socos.
Só que a luta aconteceu no dia 18 de janeiro de 2020.
Há mais de um ano.
Conor seguiu ganhando muito dinheiro com suas empresas, como garoto-propaganda, viajando com a família, fazendo farras, arrumando confusões em bares. E treinando muito pouco.
Quando decidiu voltar, escolheu entre várias opções oferecidas por Dana White, Dustin Poirier. O norte-americano insistia em uma revanche. Conor e Dana o viram como ideal para ser massacrado. E em Abu Dhabi, onde o irlandês é adorado e local que tem todo o interesse financeiro do UFC.
Só que Conor não prestou atenção, não levou a sério o que aconteceu com Poirier nestes últimos seis anos.
Ele evoluiu muito como lutador.
Se Conor havia feito oito combates desde 2014, ele fez 13.
Mudou de técnicos.
E eles perceberam que o norte-americano tinha um gravíssimo defeito.
Era emotivo demais nas lutas, as confundia com brigas de rua.
Trataram de mudá-lo psicologicamente, além de o fazer subir de categoria.
Deixou a categoria penas e passou a lutar como leve.
Ficou mais forte e mais focado.
Conor pagou seus pecado por menosprezar o coadjuvante Poirer.
No primeiro assalto, o roteiro parecia que seria seguido, sem modificações.
O irlandês depois de escapar de lutar no chão, se levantou e deu uma saraivada de socos em Poirer, que tentava devolver, mas absorvia a maioria dos golpes.
Foi bem diferente da previsão de Conor, que avisara ao 'mundo', que acabaria com o adversário no primeiro minuto da luta.
O irlandês não tinha variedade de golpes. Previsível. Pouquíssimos chutes altos. Cotoveladas.
Rápido, mas lento em relação ao seu melhor momento.
Golpes precisos, mas sem grande impacto.
No segundo assalto, o irlandês voltou ainda mais confiante. Só que Poirier tinha dos fatores a seu favor. Os chutes baixos.
Eles minaram as pernas do 'Notorious'.
Fortes, com alvo fixo na canela, para tirar a base, evitar que Conor pisasse com estabilidade para socar.
O segundo fator foi a falta de resistência de quem tem treinado pouco e lutado menos ainda. Abalado pelos chutes, Conor passou a tomar socos atrás de socos.
Até que caiu, pela primeira vez, nocauteado.
Aos dois minutos e trinta e dois segundos, do segundo assalto, Abu Dhabi se calou.
O grande ídolo atual do UFC fora massacrado.
Com o nariz sangrando e mal podendo andar, ele mostrou sua cabeça de empresário.
Esqueceu Nurmagomedov e já propôs outra luta com Poirier.
A 'melhor de três'.
O norte-americano aceitou no ato.
Assim como Dana White, que só quer saber do lucro.
McGregor teve de usar muletas para andar depois da luta.
Seu plano foi mudado pelo coadjuvante que ele mesmo escolheu.
Foi humilhado.
Tem potencial para voltar e massacrar Poirier.
Mas se treinar, se dedicar, esquecer o empresário que virou.
Um triste personagem que se exibe por dinheiro contra adversários que sabe ser mais fracos.
Ou então abandone de vez o UFC.
E faça o que tanto gosta.
Contar dinheiro e aproveitar a vida.
Esta é a postura de um lutador aposentado.
Conor merecia a humilhante lição que recebeu...
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